Object Rotterdam é uma feira onde o design, artesanato, arte e arquitetura se encontram e profissionais de diferentes nacionalidades apresentam os seus trabalhos que são exibidos em algum edifício emblemático da cidade de Roterdã. Os artistas também estão fisicamente presentes durante o evento para explicarem os seus trabalhos e interagirem com os visitantes.
Este ano, a feira ocorreu entre os dias 1 e 4 de julho. Mais de cem expositores exibiram os seus trabalhos no edifício HAKA, em Roterdã. Esse evento foi muito esperado pelos profissionais da área, colecionadores e apreciadores do universo da arte, por ser o primeiro evento físico após o fim do lockdown na Holanda.
A visita se inicia antes mesmo de entrar no evento, por admirar o edifício sede da feira deste ano, uma antiga torrefadora de café construída na década de 30. Seu estilo industrial conversou de uma maneira muito interessante com a exposição. O edifício HAKA é reconhecido como patrimônio industrial e monumento nacional.
Para muitos dos expositores que conversei, o ano de pandemia foi um período bastante produtivo no qual utilizaram para focar suas energias por completo na produção de seus novos trabalhos.
Ouvi também de muitos expositores que eles tiveram que se reinventar durante a pandemia, é o caso das designers de interiores Beatriz Bolibar (Cuit Studio) e Azita Saïn, que cocriaram uma coleção de cerâmicas chamada Avennor.
"Na época da pandemia de COVID-19, a maior ambição das artistas era a busca pelos aspectos estéticos e funcionais que criam uma atmosfera serena na casa das pessoas em tempos calmos e caóticos. Inspiradas principalmente pela arquitetura, as designers começaram a se interessar cada vez mais pela argila por sua função de dar forma a objetos escultóricos. A coleção visa a estética escultural e funcional ao conectar formas elegantes e orgânicas. A combinação de materiais contemporâneos e terrosos, com acabamentos diferenciados, cria um contraste harmônico aos olhos." (Azita Saïn & Cuit Studio)
É realmente muito inspirador conhecer esses trabalhos tão incríveis que foram gerados durante um período tão complicado e desafiador.
A artista Andrea Rádai, expôs o seu trabalho no Object Rotterdam de uma maneira inusitada. Ela se apropriou do espaço arquitetônico para expor suas pinturas, posicionando no piso e nas paredes os seus espelhos pintados e suas telas de uma maneira não convencional e em lugares estratégicos. Os visitantes poderiam percorrer o espaço por essa instalação e também girar os espelhos que eram móveis.
O que mais me chamou a atenção, talvez por ser arquiteta, foi o fato de suas obras estarem se comunicando tão bem com o edifício sede do evento, parecia que a artista havia pintado as próprias janelas do edifício HAKA, mas foi apenas uma grande coincidência, Andrea havia pintado as janelas de seus vizinhos.
Conversando um pouco com a artista, ela conta que espiona os seus vizinhos em Amsterdam, os fotografa e depois traduz essas fotos para a tela, ou nesse caso, para o espelho. Quando questionada se seus vizinhos sabem que são protagonistas da sua arte, Rádai brinca: "de jeito nenhum! Faço isso secretamente!", e logo me conta que espionar faz parte do seu processo criativo.
"Quando era uma jovem adolescente, certa vez quase fui espancada em um ponto de ônibus por um homem porque ele pensava que eu estava olhando por muito tempo e de forma explícita para sua namorada. Nunca me livrei desse hábito. Eu sempre olho para as pessoas, abertamente ou secretamente, na vida real ou nas / (nas redes sociais). Eu sou uma bisbilhoteira, uma voyeur. Sempre tenho uma história pronta, sobre quem ou o que são essas pessoas, que tipo de passado carregam consigo, como se sentem naquele momento, que emoções estão escondidas por trás de seu comportamento. Registro principalmente o vulnerável, o doloroso. Espiar é uma forma de compaixão por mim e, às vezes, pareço coincidir com o que estou espiando. Como pintora me identifico com o meu tema, simpatizo e não julgo. Eu sou um voyeur e um observador ao mesmo tempo.", descreve Rádai para o popinart.
No universo do design gráfico, conheci também o trabalho do Studio Kars + Boom. Eles traduzem histórias em lindas ilustrações gráficas. As ilustrações das paisagens holandesas me chamou a atenção, o relevo plano nunca se mostrou tão belo. Os designers tinham o desejo de transformarem suas ilustrações 2D para 3D, foi assim que desenvolveram os cubos coloridos com suas ilustrações geométricas, que podem ser empilhados em forma de um totem e ser montados de diversas formas.
Estas foram algumas das obras expostas no Object Rotterdam 2021, um evento que além de inspirador, pôde proporcionar um respiro na pandemia e uma esperança de que a vida começa a voltar ao normal por aqui.