Datam dos anos 1960 as primeiras informações sobre a então novidade: a construção de casas pré-fabricadas. Com a promulgação de componentes sob essa premissa, e a crescente industrialização da construção civil, era crível pensar em uma revolução para habitação popular. Ledo engano: o déficit habitacional permanece nos dias de hoje, e as casas pré-fabricadas, no geral, são voltadas para classes abastadas. Excluem-se dessa conta, no Brasil, alguns exemplos de moradias populares em sistema steel frame, que reduz o tempo de obra e o desperdício de materiais, mas não chegam a ser, na maioria dos casos, 100% pré-construídas.
Também não durou muito a febre das casas pré-fabricadas em madeira nos anos 1980, que apresentavam patologias severas ao longo do tempo, em uma época em que a madeira maciça ainda era obtida de forma nem sempre legal e aplicada sem tratamento. Tampouco havia isolamentos adequados, térmicos e/ou acústicos.
Hoje, a ideia de resultado rápido a preço reduzido não é o ponto primordial para a escolha na hora da decisão entre um sistema construtivo tradicional ou pré-fabricado. O fator rapidez ainda conta – e muito –, mas hoje a opção passa mais pelo resultado estético, pela facilidade de transporte de materiais e, principalmente, pelo desempenho em sustentabilidade. Ou seja, o valor sustentável agregado e os custos reduzidos de implantação e manutenção são mais decisivos que o de mão de obra, mesmo que em tese essa última também seja menor.
Como já vimos neste espaço, o escritório Mapa Arquitetos obteve destaque recentemente com suas casas Minimod – pré-fabricadas e moduladas de acordo com as especificidades de cada paisagem e o desejo dos usuários, permitindo diversas alternativas de acabamentos. Maior precisão e rapidez construtiva, menor quantidade de resíduos e responsabilidade ambiental estão entre as vantagens do sistema, cujo material principal é um painel maciço de madeira, obtido por meio de uma trama de lâminas CLT. Nesse caso, as Minimod são produzidas para suprir a demanda de clientes por uma segunda casa, um refúgio de lazer.
Outros exemplos, vindos do exterior, corroboram a ideia de trazer esse tipo de sistema à tona para um espaço de lazer, não necessariamente como primeira opção de lar. Montada em apenas cinco horas, a Casa Montaña, do estúdio espanhol Baragaño, mantém o estilo dos arredores, porém com linhas bastante contemporâneas. Pré-fabricada em aço e madeira, a casa pode ser desmontada e transportada para outro local. A dificuldade de acesso ao terreno foi um dos fatores para decisão pelo sistema, que obtém ganhos financeiros significativos nessas condições. Já a WikkelHouse, do estúdio holandês Fiction Factory, pode ser construída em apenas um dia e é produzida com uma espécie de papelão, com revestimento exterior impermeável em madeira.
A última novidade nacional nesse setor vem do projeto Syshaus. Pré-lançado na Casacor 2018, é um sistema para residências de alto padrão que pretende revolucionar o mercado. Modular e totalmente pré-fabricado, permite erguer a estrutura em alguns dias, de forma sustentável, sem resíduos nem água. Chamada de “prêt-à-porter” no Studio Arthur Casas, a casa é considerada pelo autor como um produto de design, além de arquitetura. O processo inteligente permite o aproveitamento integral dos materiais durante a construção, que leva 28 dias – enquanto uma residência de mesmo porte levaria no mínimo um ano e meio para a entrega das chaves. A ideia é que o produto seja 100% reciclável, já entregue com mecanismos de captação de água, energia solar e biodigestor, que transforma os descartes orgânicos em gás para cozinha e lareira. Os interiores seguem o conceito free standing, com armários e cozinha em módulos, o que permite a desmontagem e mudança de local.
Se a hora e a vez das pré-fabricadas realmente chegou, resta aguardar e analisar seu desempenho nos próximos anos. Mas pelos exemplos atualmente encontrados, vemos que o caminho para a aplicação em larga escala em projetos de habitações de interesse social ainda parece completamente distante.