O Brasil que faz design
Feiras de mobiliário e festivais de design se multiplicaram em todo o mundo nos últimos anos, preenchendo calendários e oferecendo uma visão do mercado e suas tendências.
No Brasil, a MADE – Mercado.Arte.Design, organizada pela W/Design – de Waldick Jatobá, em parceria com seus sócios Bruno Simões e Elcio Gozzo – e com produção executiva de Kátia Avillez, surgiu em 2013 nos moldes de uma feira internacional de design high-end e de coleção. Realizada anualmente na capital paulista, a 5ª edição aconteceu entre 8 e 13 de agosto de 2017, pela primeira vez no icônico prédio da Bienal. Reuniu o melhor do design colecionável, incluindo galerias, coletivos, instalações e exposições.
Em entrevista exclusiva para o Archtrends, Waldick Jatobá conta um pouco sobre os caminhos do design no Brasil.
AT: Muita coisa mudou desde a primeira MADE?
Waldick Jatobá: Sim! A MADE cresceu, consolidou-se como feira internacional de design colecionável e totalmente autoral. Mais que uma feira, tornou-se uma plataforma ampla para observar, discutir, comprar e explorar as mais novas vertentes desse design.
AT: Como é realizado o processo de seleção/curadoria?
WJ: Eu e Bruno Simões, meu sócio, fazemos um trabalho de formiguinha: visitamos estúdios de designers, fazemos pesquisas na internet, aceitamos indicações de designers que já conhecem nosso DNA, e fazemos muita pesquisa de campo. São de quatro a seis meses de pesquisa.
AT: O design brasileiro está encontrando o seu lugar na indústria?
WJ: Acho que sim. Aos poucos, vejo grandes indústrias apostando em nomes que outrora eram desconhecidos e, desta forma, acredito que a MADE ajudou muito, pois, antes de 2013, pouquíssimo se falava do jovem designer. Hoje vejo indústrias contratando coleções exclusivas com designers e diretores de arte e de produto para acompanhar esse processo de criação e desenvolvimento. Aos poucos, o Brasil está deixando de lado o hábito de “homenagear” criações internacionais e apostar no mercado nacional.
AT: Qual a importância da participação de designers internacionais na feira?
WJ: São de grande importância. Servem para nos mostrar o que está acontecendo no exterior no campo do design que discutimos e apresentamos na MADE. São balizadores de que o que fazemos aqui está alinhado com o que acontece lá fora.
AT: Você acredita que o design está entre as fontes de referência de uma época?
WJ: Sempre! Vivemos rodeados de design e, muitas vezes, nem percebemos. Muito já se falou do design funcional, industrial. Agora, a referência é o colecionável, o 100% autoral.
AT: A Made lança tendências? Quais foram as novidades deste ano?
WJ: Não diria tendências ao pé da letra, mas acho que a MADE aglomera cabeças que pensam da mesma forma, que acreditam no talento do ofício e o realizam de forma verdadeira, partindo de uma intenção. São criadores que buscam provocar os outros e a si mesmos. Este ano, de forma geral, pudemos observar a experimentação de materiais em toda sua plenitude, comprovando que a forma segue os materiais em primeiro lugar e não mais a função, como nos anos 1980 e 1990.
Designer do ano
Presente este ano na MADE – e eleito designer do ano 2017 –, o sul-coreano Kwangho Lee mostrou o processo de criação de seus móveis trançados com fios plásticos coloridos, técnica que aprendeu com o avô, um fazendeiro que criava objetos a partir de materiais naturais encontrados nas proximidades de onde morava, uma pequena cidade nos arredores de Seul. Apesar de jovem, Lee teve seu trabalho reconhecido por diversos prêmios e suas obras estão incluídas na coleção permanente de vários museus no mundo.