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Matonelle Marguerita, por Nathalie Du Pasquier para Mutina (Foto: Officine Mimesi / divulgação Mutina)

Mutina e a revolução da arquitetura de interiores 

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11.12.2023
A curadora de design Taissa Buescu relembra alguns dos maiores sucessos da marca italiana Mutina, reconhecida internacionalmente pela inovação através do design, que agora passa a ser distribuída no Brasil com exclusividade pela Portobello Shop
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Na contramão da indústria de porcelanato, que investe na reprodução fotográfica de materiais naturais como madeiras, quartzitos e mármores, a Mutina desbrava um longo e complexo caminho nunca antes percorrido. 

Desde 2008, a marca trabalha com designers internacionalmente renomados, como a espanhola Patricia Urquiola, os israelenses Raw Edges, os ingleses Barber Osgerby, os franceses Bouroullec, para citar alguns, com repertórios autorais distintos, buscando criar - a múltiplas mãos - um novo mundo de infinitas possibilidades para os revestimentos cerâmicos, como um verdadeiro projeto de arquitetura. 

A primeira a embarcar nessa aventura comandada por Massimo Orsini, diretor criativo da Mutina, foi  Patricia Urquiola. Sua primeira coleção, chamada Déchirer, foi lançada em 2008 na Cersaie, maior feira de revestimentos que acontece anualmente em Bologna, na Itália. Eu morava em Milão na época e lembro perfeitamente do alvoroço que a Mutina causou com as Lastras em grande formato e espessura sútil, que não reproduziam nem pedra, nem madeira, como a grande maioria dos demais estandes. 

Déchirer, que em francês quer dizer “rasgar, desfiar”, se apresentou com uma revolucionária textura sutil, em baixo relevo, que lembra um rendado, para ver com olhos atentos e mãos sedentas por sensações.  Esta primeira linha de Urquiola arrebatou não apenas o público da feira, mas diversos prêmios, como Elle Deco International Design Awards, Best of Neocon e Good Design, além de ter sido incluída no Adi Design Index daquele ano.

Já em 2010, foi a vez do japonês Tokujin Yoshioka arrematar uma série de prêmios ao lançar sua primeira coleção para a marca. Tal qual Urquiola, explorando a infinidade plástica que a cerâmica permite, o designer experimental criou pastilhas de cerâmica de formatos irregulares, aplicadas a telas que, além de resultarem em efeitos ópticos e ressaltarem sua imperfeição, se adaptam a paredes curvas.

Phenomenon, por Tokujin Yoshioka para Mutina (Foto: Gerhardt Kellermann / divulgação Mutina)

Mas a Mutina não limitou suas apostas apenas às texturas e aos efeitos táteis de seus produtos. 

As múltiplas alternativas dos desenhos gráficos e composição de cores também conquistaram os corações, paredes e pisos de espaços públicos e residenciais.

A coleção Diarama, assinada pela holandesa Hella Jongerius, não apenas revolucionou as diversas possibilidades de efeitos gráficos da paginação, como ofereceu 12 alternativas de composições cromáticas. 

Poucos anos depois, a artista multimídia Nathalie Du Pasquier desenvolve a coleção Matonelle Margherita, com nada menos que 40 variações de desenhos, cores e formatos de cerâmica, elevando ao céu o limite de possibilidades de sua paginação.

As alternativas de cores e formas passaram a ser tão extensas, que a Mutina achou por bem ampliar sua gama de produtos com uma linha exclusiva de tintas de parede nas paletas de seus revestimentos.

Tintas para parede Mutina (Foto: Mutina)

No mesmo ano que a Mutina estourou com Matonelle Margherita, agradando um público maximalista, exagerado e com personalidade para dar e vender, a marca apresentou também a coleção DIN, do croata-germânico minimalista, conhecido por seu racionalismo, Konstantin Grcic. 

A coleção DIN, com sua perfeição matemática, é composta por elementos de quatro tamanhos: 15x15cm, 7.4x15cm, 7.4x7.4cm e 3.6x7.4cm, que devem ser paginados com juntas precisas de 2mm. Essas dimensões foram pensadas para serem perfeitamente adaptadas a qualquer tamanho de parede ou piso,  permitindo ao projetista criar patterns, jogos geométricos, contrastes entre fosco e brilhante de suas oito cores e, ainda, contrastar ou não com o tom do rejunte. 

E DIN não termina por aí. Ainda inclui seis módulos especiais que permitem curvas e quinas arredondadas.

A partir de 2018, a MUTINA resolve dar um passo a mais na sua revolução da arquitetura de interiores. E assim passa a desenvolver elementos construtivos em barro. Patricia Urquiola abraça o desafio com sua peculiar genialidade e lança Celosia, um cobogó em barro elaborado manualmente pelo mesmo processo de extrusão dos tijolos, com formato em “V”, que lhe rende o prêmio Interior Design’s Best of the Year 2018.

Celosia, por Patricia Urquiola para Mutina (Foto: Mutina)

A versão do tijolo criada pelos irmãos Ronan e Erwan Bouroullec para a marca também fez sucesso. Com o nome de Bloc, ela permite criar paredes divisórias, estruturas de bancada e até móveis, como mesas ou estantes de alvenaria. E Bloc ainda oferece alternativas de cores foscas e com brilho. E os geniais Bouroullec também criaram um elemento cilíndrico de madeira, que permite tapar os quatro furos de Bloc, se assim desejado.

Bloc, por Ronan & Erwan Bouroullec (Foto: Delfino Sisto Legnani / divulgação Mutina)

Bom, com tantos produtos incríveis, que foram muito além das superfícies de paredes e pisos, a Mutina então cria um espaço expositivo em sua fábrica, na província de Modena, cujo prédio leva a assinatura de ninguém menos que o arquiteto e designer milanês Angelo Mangiarotti (1921-2012).

Uma das instalações mais geniais desse projeto intitulado MUT Mutina for Art foi a instalação site-specific Bric, assinada por Nathalie Du Pasquier em 2019.

A artista francesa fez sete esculturas arquitetônicas no espaço, criando um landscape de cores, texturas, planos e torres, vazios e cheios, que fizeram barulho nas mídias sociais.

Bric, Instalação site-specific por Nathalie Du Pasquier (Foto: Mutina)

Em 2021, a Mutina finalmente abre um showroom da marca em Milão, no coração de Brera, com assinatura da super parceira Urquiola. Casa Mutina, como foi batizado, imediatamente entrou na lista dos mais visitados da Semana de Design de Milão. 

Na inauguração da Casa Mutina, a marca apresentou seu projeto de arte, chamado Mutina Editions, para o qual artistas e designers desenvolvem edições limitadas de objetos em cerâmica, realizados a mão em parceria com a renomada Bitossi.

A cada ano, a Casa Mutina é reformada para receber suas novas coleções. Em abril de 2023, suas paredes e pisos foram revestidos com Matter, nova linha de Urquiola que consegue transmitir as irregularidades e as lindas imperfeições das cerâmicas esculpidas e esmaltadas à mão para a fabricação industrial da Mutina. 

Matter, por Patricia Urquiola para Mutina (Foto: Claudia Zalla / divulgação Mutina)

E, last but not least, também este ano a Mutina inaugurou sua hospedaria em Modena. Uma casa toda concebida com pisos, paredes, divisórias e elementos construtivos com assinatura da marca. Para receber clientes e designers que poderão vivenciar na pele as possibilidades que a marca oferece.

Casa Mutina arquitetura de interiores
Casa Mutina em Modena, Itália (Foto: Mutina)

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