Moriyama House, Ryūe Nishizawa, 2002
Com suas paredes pré-fabricadas de apenas 6 cm de espessura, a Moriyama House (2002-2005), de Ryūe Nishizawa, é um exemplo paradigmático das experimentações radicais de arquiteturas habitacionais desenvolvidas em pequenos terrenos urbanos no Japão a partir da segunda metade do século 20.
O projeto encara o desafio de otimizar e adensar o valorizado solo das atuais metrópoles. Para tanto, investiga desenhos que reproponham modos de vida nesses espaços exíguos com inventivas formas de circulação entre os ambientes, de organização da planta interna e inserção da construção na cidade.
Localizada no bairro de Ota, a 30 minutos do centro de Tokyo, e locada em um lote de 290m2, a Moriyama House não é apenas uma casa, mas sim um conjunto de habitações: os dez volumes espalhados pelo terreno abrigam cinco unidades residenciais e um escritório. A estratégia de projeto é explodir um pequeno edifício para levá-lo ao chão, e reconstruí-lo, então, em forma de múltiplas casas unifamiliares.
O cliente Yasuo Moriyama habita o bloco vertical maior – de três andares. As demais unidades são alugadas individualmente e, curiosamente, o próprio arquiteto indicou os primeiros inquilinos para ocupar essas casas quando o conjunto ficou pronto, em 2005.
O projeto deixou livre mais de 55% do terreno para o jardim, que funciona como elemento de coesão entre os volumes. Em referência a antigas habitações que não tinham banheiros dentro, há um bloco solto que abriga apenas uma casa de banho, acessível pelo jardim, sem conexão com os demais ambientes fechados.
A pesquisadora Angelika Fitz aproximou a Moriyama House da ideia de “casa como cidade”. No entanto, essa afirmação só se torna verdadeira por linhas tortas: a cidade projetada não é a cidade existente nas imediações – ou seja, o tecido urbano contemporâneo de Tokyo – e sim uma cidade permeável, distinta do contexto e imaginada pelo arquiteto como novo modelo (aqui em escala reduzida) para o futuro dos estabelecimentos humanos.
Nishizawa trata o terreno como um espaço poroso, aberto para a rua e o projeto acaba então por contrastar com a compacta ocupação das construções do entorno, típicas da urbanização japonesa contemporânea.
Se por um lado a cidade da “casa como cidade” na Moriyama aponta para um futuro questionador das formas atuais; por outro, se volta para a tradição e história do país. O projeto recupera a imagem de construções tradicionais japonesas, nas quais pavilhões – como casas de chá – ficam soltos e dispersos pelo terreno, envolvidos por minuciosos e delicados jardins.
Na relação entre a cidade existente e a cidade imaginada – e, sobretudo, na relação entre passado, presente e futuro – o arquiteto fórmula projetivamente a discussão sobre formas de “viver junto”, para melhor aproveitar um dos mais escasso recursos da atualidade: o solo urbano.