Primeiramente, para entender o porquê do surgimento do micro housing, é necessário compreender todo o contexto que envolve essa questão. O pano de fundo para isso é o crescimento populacional, que está atingindo proporções incontroláveis em todo o mundo — principalmente nos grandes centros urbanos. E não se trata apenas de uma taxa de natalidade alta, mas também da migração para as capitais e metrópoles no Brasil e no mundo.
Tais fatores são impulsionados por questões econômicas, ou ainda, pela já conhecida tentativa de “ganhar a vida”, em que muitas pessoas se apoiam e arriscam o que podem para garantir um futuro mais promissor, tanto pessoal quanto profissionalmente, nas cidades grandes.
Uma cidade de alta densidade populacional requer espaço para todos que vivem nela, principalmente nas regiões centrais, onde há mais movimentação comercial e profissional. Basicamente, trata-se do lugar onde as coisas acontecem. Por isso, também são essas as regiões mais habitadas e procuradas das grandes cidades. O que motiva a velha lei de oferta e procura, fazendo com que imóveis em bairros centrais alcancem preços exorbitantes.
Mas como ter espaço em lugares em que o próprio espaço praticamente não existe? E, ainda: como ter apartamentos e moradias a preços mais acessíveis? Aqui entra o micro housing!
As micro houses
Como o próprio nome sugere, as micro houses são moradias pequenas, bem pequenas mesmo, criadas para a otimização de espaço nas grandes cidades, principalmente nas regiões centrais.
São casas ou apartamentos projetados em espaços de 30m², 20m² ou até mesmo 10m². A ideia principal é aproveitar o máximo possível e de maneira inteligente cada canto do local. Soluções práticas e móveis embutidos são itens obrigatórios nas micro houses.
Sofás que viram camas, prateleiras que se tornam mesas, sala que se transforma em quarto para dormir ou em um refeitório pela manhã: essa é a ideia nas micro houses. Elas buscam aproveitar ao máximo o que um móvel e um cômodo podem oferecer para diferentes atividades e rotinas.
Tecnicamente, uma micro house pode ser definida como uma estrutura residencial, construída sobre fundações ou sobre rodas, com todas as utilidades, como eletricidade, água e esgoto e instalações para sobrevivência — cozinha, banheiro, quarto e espaço de conveniência —, projetados para permanência em tempo integral.
A demanda social por casas nesse formato
O interesse no micro housing é motivado, principalmente, por cinco fatores essenciais, que são:
Econômico
As questões econômicas envolvem o custo de vida. Atualmente, o custo de vida global — especialmente nas grandes cidades — é muito alto. Aluguéis, contas de água, luz, alimentação, impostos e outros fatores têm valores exagerados.
Com as micro houses, é possível reduzir drasticamente o custo de vida. O estilo, naturalmente, induz a um padrão de vida mais minimalista, principalmente nas questões de consumo. O menor espaço, consequentemente, motiva a redução de gastos e consumo.
Ainda, o custo de moradias desse tipo é menor em relação a casas e apartamentos convencionais. Obviamente, o tamanho do imóvel é um dos principais fatores que provocam essa queda de preço.
Demográfico
Demograficamente, o propósito do micro housing também se encaixa perfeitamente ao atual momento. A quantidade de pessoas que moram sozinhas nos grandes centros urbanos aumentou nos últimos tempos.
A taxa de casamentos diminuiu e, historicamente, o número médio de membros de uma família também caiu. Esses fatos fazem com que mais pessoas estejam sozinhas nas cidades. Para arcar com os altos custos de vida em uma metrópole, o micro living se apresenta como uma ótima solução.
Sustentável
As questões sustentáveis acabam se relacionando diretamente às questões econômicas. O micro housing faz com que, automaticamente, os adeptos adotem hábitos menos consumistas e mais focados no melhor aproveitamento de tudo o que é comprado.
A falta de espaço para guardar coisas tem como consequência um consumo mais consciente. Os gastos com água e eletricidade também são menores, assim como a produção de lixo. Quando se trata de micro houses, o meio ambiente agradece.
Simplicidade
Cresce um senso de que um estilo de vida de luxo e ostentação é, para grande maioria das pessoas, insustentável. O micro living vai justamente contra esse ao encontro desse pensamento e promove hábitos e práticas mais simples no dia a dia das pessoas.
A felicidade não está diretamente ligada ao tamanho das casas e apartamentos em que vivemos. Na verdade, as micro houses nos mostram que não precisamos de muitas coisas que pensamos necessárias, como inúmeros quartos, várias suítes e cozinhas chiques. Segundo os adeptos do micro living, o tempo que seria disposto para desenhar, construir, financiar, limpar, decorar, manter e reparar uma casa, é melhor aproveitado para amar, descobrir, viajar e criar.
Tecnologia
O surgimento de novas tecnologias que facilitam as nossas rotinas nos permite viver em espaços menores que, outrora, requisitavam recursos físicos maiores. Os aplicativos e as facilidades de transporte público atuais já nos permitem abrir mão de um carro. Consequentemente, não precisamos de uma garagem.
O mesmo ocorre para outros serviços, como a alimentação, lavanderia e o próprio consumo de música, livros, e vídeos, que estão todos digitalizados.
O papel do arquiteto nesse tipo de projeto
Para que um arquiteto tenha sucesso em um projeto de micro house, é necessário que ele pense bastante nas questões para obter o melhor aproveitamento possível do espaço. Como dispor uma cozinha, um banheiro, uma sala e um quarto em 10 metros quadrados?
A multifuncionalidade de cômodos e móveis é essencial nas micro houses. Abusar de mobiliário embutido — e tornar ambientes modificáveis — deve ser a principal ideia do projeto. É importante lembrar que o foco desse tipo de moradia são os jovens.
São indivíduos que abrem mão do espaço em busca de valores mais acessíveis em um ponto mais privilegiado das grandes cidades. Ou seja, ficam em casa praticamente para dormir e descansar e/ou se concentrar nos estudos.
Para que o ambiente atenda às necessidades desse público, é importante pensar na disposição dos objetos no espaço. Por exemplo, usar, em uma sala de estar, sofás e almofadas que podem ser convertidos em duas camas de solteiro ou uma cama de casal. Ou, ainda, paredes móveis, que se deslocam para formar ambientes de acordo com a demanda. Uma sala de jantar pode se tornar um quarto para estudos com a devida movimentação das paredes e dos móveis.
O micro housing é uma tendência global. Surgido em Seattle, nos Estados Unidos, o estilo se espalhou rapidamente para outras grandes cidades do país. Nova Iorque, Washington, DC, São Francisco e Boston são algumas delas.
A tendência também já é realidade no Brasil. Segundo o Secovi/SP, em São Paulo a maior parte dos imóveis lançados na cidade são apartamentos de um dormitório. A grande maioria em regiões centrais da capital, que dispõem de uma grande variedade de comércio e lazer.
Esse tipo de imóvel também atrai investidores. Afinal, trata-se de um produto que tem muita liquidez, podendo ser facilmente vendido ou alugado. O micro housing é um conceito moderno que atende às demandas de uma nova geração.
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