Entender o outro é essencial no trabalho de Marina Linhares
O traço da designer de interiores Marina Linhares é inconfundível. Cores, texturas e muita memória afetiva fazem parte do universo criativo da profissional, o que encanta os clientes de seu escritório há mais de 20 anos.
Apesar disso, Marina não se preocupa em deixar sua assinatura nos projetos, mas sim em criar a atmosfera perfeita para que a personalidade dos moradores brilhe nos espaços. Observadora e curiosa, Marina envolve os clientes em todo o processo de criação e capta nas entrelinhas os elementos essenciais para se criar uma casa que ative os sentidos.
Em uma entrevista exclusiva, Marina divide conosco como é seu processo criativo, o dia a dia no escritório e o que tem refletido para o futuro. Confira!
Qual o segredo para nunca se repetir nos projetos e mesmo assim manter sua marca?
É interessante falar de marca registrada. Eu procuro não ter marca registrada, mas dizem que eu tenho, porque eu tento tanto ouvir o cliente, que supostamente eu não devia ter esse carimbo. Mas sim, é lógico que os trabalhos são autorais, a gente tem uma busca importante e os trabalhos acabam tendo características próprias. De tons, amo os verdes e os terrosos. Então, sim. Eu acho que é um pouco uso da cor e um pouco a desconstrução dos espaços para que as casas fiquem mais confortáveis.
Você costuma desenhar os projetos à mão, montar moodboards? Fale um pouco sobre seu processo de criação.
Na verdade, desenho muito pouco, rabisco muito e sempre monto moodboard. A gente começa um trabalho falando de referências e falando de cores, criando um moodboard para o cliente.
Seus clientes costumam te dar carta branca quando encomendam um projeto? Como consegue captar a essência dos moradores?
Eu acho que cada pessoa tem uma dinâmica de confiar e trabalhar com o outro. O meu exercício é entender o que a pessoa quer de mim. Alguns dão carta branca e nem por isso é mais fácil. Acho até que a responsabilidade é maior. Mas acredito que o perfil do meu cliente é aquele que quer participar de todas as etapas.
O que você encara como o maior desafio na hora de criar um projeto?
O desafio de hoje, no momento em que estamos, é ter bons fornecedores que acompanhem o ritmo e que cumpram prazos, sendo prática. Outro desafio de hoje é a leitura do outro. Entender se a gente está no caminho certo, se a casa que a gente está fazendo é a casa ideal para aquela família.
Seus projetos são marcados pelo toque afetivo, vindo, muitas vezes, do acervo dos clientes. O que você leva em conta na hora de incluir peças que já fazem parte da vida do cliente na hora de criar um projeto novo?
Isso faz muito parte do meu trabalho: acreditar que as casas tenham personalidade, que contem histórias, portanto, eu uso com muita facilidade e feliz objetos e peças que as pessoas já têm. E isso, no fim, é um exercício que eu adoro fazer e eu acho que, talvez, a gente esteja falando até de uma assinatura minha. Esse resgate do uso daquilo que a gente já tem.
Como você treina sua equipe para que todos fiquem alinhados com o seu olhar?
Olha, eu brinco que a equipe é muito importante, porque a gente não faz nada sozinho. Eu amo as pessoas que trabalham comigo e elas fazem parte da minha equipe — a maioria, há muito tempo. E é um exercício do estar perto, do conversar e, mais do que tudo, das pessoas gostarem do que eu faço e do jeito que eu sou.
Quais são suas principais fontes de inspiração? Costuma viajar especificamente para colher referências?
Eu viajo. Eu gosto bastante de viajar. A gente está num momento que tem viajado pelo Brasil quando dá. Mas a viagem não é só física, mas também mental: acho que quando você assiste um filme bonito, com uma fotografia bonita, quando você está em um lugar de natureza exuberante... Acredito que a inspiração vem de vários lugares, mas é óbvio que a gente precisa estar antenado com o que acontece no mundo. A gente tem o Pinterest e o Instagram, que podem deixar a gente sem sono de tanto que é vasto o mundo. Mas é isso, eu bebo de todas as fontes que estão aí. O mundo está aí, né? Olha pra ele quem quer.
Sempre quis ser designer de interiores? Fale um pouco sobre como escolheu esta carreira.
Olha, foi meio por acaso que me vi trabalhando com decoração e virou uma paixão. Hoje é uma paixão que é maior do que eu. Tento até trabalhar menos e, às vezes, mas minha cabeça está sempre funcionando. Adoro gente, adoro desafios e agora eu estou no momento profissional que a minha busca é entender "que casa é essa que eu tenho que fazer daqui pra frente?" e "como essa turma que tem hoje 20 anos quer morar?", "como não deixar nosso trabalho envelhecer?". Então tudo isso é muito importante.
Que conselho você poderia dar para um profissional que está começando a desenvolver seu próprio estilo?
Estude, pesquise, ouça o cliente e trabalhe bastante.