Yinka Ilori é um designer londrino, de origem nigeriana, que nos últimos anos vem ganhando reconhecimento na pelo intenso uso de cores, padrões e narrativas que caracterizam seus trabalhos nas mais diversas escalas: da arquitetura ao desenho urbano, do mobiliário ao design gráfico. Apesar de atuar em estúdio próprio há apenas cinco anos, ele acaba de ganhar sua primeira mostra retrospectiva: Parables for Happiness, ou Parábolas para a Felicidade, em cartaz no respeitado Design Museum de Londres, até junho de 2023.
“Estou realmente honrado por ter meu trabalho exibido em um estágio tão inicial da minha carreira, e espero que a exibição sirva de inspiração para a próxima geração, para todos aqueles que sentem que não se encaixam no status quo”, declarou Ilori, por ocasião da inauguração da mostra em 15 de setembro. Um feito digno de nota em qualquer grande capital do planeta, mas que, em se tratando da metrópole inglesa, e do seu festival anual, o London Design Festival – que, este ano, completou 20 anos –, não chega exatamente a surpreender.
Afinal, como poucas, Londres se notabilizou, ao longo de toda sua história, por absorver e propagar influências culturais. Desafiar padrões estabelecidos e investir em novos talentos. “Nós criamos o London Design Festival para ser um evento de domínio público. Diferentemente de outros, não visamos apenas ajudar os designers a mostrar seus trabalhos e gerar negócios. Mas oferecemos a possibilidade de compreensão e apreciação por uma audiência tão ampla quanto possível”, afirma Sir John Sorrel, ao lado de Sir Ben Evans, um dos fundadores do festival.
De fato, fiel à proposta original de Sorrel – “Este festival não ficará confinado a centros de convenções e salas de exposições, mas se espalhará pelas ruas e tomará conta da cidade” –, o LDF tem se notabilizado, ao longo dos anos, por colocar os mais diversos espaços, públicos e privados, na órbita dos designers. Este ano, em nove dias de realização, de 17 a 25 de setembro, o evento reuniu mais de 300 atrações: de lançamentos de novos produtos a mostras temáticas, de experiências imersivas a encontros informais.
“Eu queria injetar um pouco de cor e diversão a este ambiente tão urbano”, explica a holandesa Sabine Marcelis, autora de Swivel, ou Girar: um misto de sala de visitas e playground, com poltronas giratórias de pedra, instalado em plena agitação da St. Giles Square, na confluência da Tottenham Court Road e da Oxford Street. Por se tratar de uma instalação interativa, segundo a designer, cabe ao público decidir como desfrutar dela. “Ela pode encorajar estranhos a interagirem uns com os outros, ou apenas sugerir que as pessoas concedam um momento de pausa para si mesmas”, considera Sabine.
Não muito longe dali, no recém-inaugurado espaço Cromwell, o designer italiano Martino Gamper, convidou 14 de seus amigos para uma experiência inédita: criar um suporte para plantas a partir de sobras de materiais coletados nos seus estúdios. Uma vez recebida, cada peça era então posicionada por Gamber em duas salas, dando origem a uma mostra que ele denominou No Ordinary Home, ou, Casa Incomum. Um projeto despretensioso, mas que acabou por se converter numa das principais atrações do Brompton District, o mais antigo dos circuitos londrinos do design e também o que concentrou o maior número de eventos.
Não que os convidados de Gamper não se conhecessem ou não estivessem familiarizados com a vida e o trabalho de cada um. Mas foi talvez essa sensação de intimidade que gerou tamanha identificação do público com objetos tão distintos, reunidos em poucos metros quadrados. O mesmo acontecendo com Two Kettles, No Sofa, ou Duas Chaleiras, Sem Sofá: outra proposta sem maiores pretensões, na qual o designer James Shaw e o escritor Lou Stoppard exploram as agruras de um casal negociando gostos conflitantes quando decidem morar juntos.
Além delas, o novo espaço abrigou uma das mais impactantes instalações da temporada: a Into Sight, ou À Vista. Uma proposta imersiva na qual a Sony Design convidava os visitantes a interagir com superfícies sensoriais capazes de oferecer, à menor aproximação, combinações explosivas de luz, cor e som.
Com uma programação especial, o tradicional Victoria & Albert Museum também foi alvo da atenção dos visitantes, com suas mostras e instalações ligadas à ideia de transformação, seja das moléculas em novos materiais, a regeneração do planeta ou a simples renovação criativa da casa. Como no caso de For Repair, ou Para Reparo, projeto no qual objetos domésticos quebrados foram trocados entre designers de Cingapura e do Reino Unido não apenas para serem reparados. Mas para serem criativamente renovados.
Por fim, duas feiras integraram a programação: a Design London, instalada em um novo pavilhão expositivo, construído às margens do rio Tâmisa, e a estreante Material Matters, ou Questões Materiais, que reuniu mais de 40 marcas para assinalar o significado que os diferentes materiais assumiram hoje em nossas vidas.