O lixo no meio ambiente já chegou num nível quase irreversível para a saúde do planeta e da humanidade. Alguns estudos prevêem que a geração de lixo no mundo chegará a 3,4 bilhões de toneladas anuais até 2050. Os dados do Diagnóstico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos do Brasil mais recente concluíram que geramos mais de 80 milhões de toneladas de lixo todos os anos, mas não reciclamos nem 4%. Complicado, né? Mas esse é um problema que pode ser resolvido adotando economias regenerativas que olham pro “lixo” como insumo, e não algo sem utilidade.
Afinal… o que é lixo?
Pergunta engraçada de se fazer, né? Mas ela é sim relevante, para a gente conseguir entender essa questão e enxergar novas possibilidades. No livro Homo Integralis – uma nova história possível para a humanidade (2021), a autora, a ativista ambiental e criadora do Menos 1 Lixo Fe Cortez, explica o lixo como um problema criado pela humanidade resultante da lógica da Revolução Industrial:
"... o lixo é um erro de design, mas não só o erro de pensar o produto e seu pós-consumo, como essa expressão amplamente usada sugere, e sim um erro muito maior: ele representa de modo tangível o erro da forma de pensar que sustentamos até aqui” (Cortez, 2021, p. 40).
A palavra “correta” para falar de lixo é resíduo, e, em resumo, resíduo é o que pode ser reaproveitado. O que não tem solução é o rejeito, que deve ser encaminhado para aterro sanitário ou incineração. Na edição 2021 do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil da Abrelpe, a conta da geração de resíduos sólidos urbanos chegou a cerca de 82,5 milhões de toneladas, uma média de 1,07 kg de resíduo por dia para cada brasileiro.
O Ibope descobriu que mais de 70% dos brasileiros não separam o lixo, sendo que 77% sabem que vários materiais são recicláveis, mas não se dão ao trabalho de separar. A falta de políticas públicas e educação ambiental tem resultados visíveis: a cada ano mais de 25 milhões de toneladas de resíduos sólidos vão parar no oceano no mundo todo.
Socorro! O que eu posso fazer?
A nossa dica para começar a jornada é assistir a websérie Bê a Bá da Reciclagem da Menos1Lixo, todinha dedicada a tirar dúvidas sobre reciclagem.
Também é fundamental conhecermos economias regenerativas, como a economia circular, que quebra com o paradigma linear de extração - produção - consumo - descarte. Ela se inspira na natureza: tudo é idealizado e produzido para que haja reinserção na cadeia no pós consumo. Não existe "jogar fora" ou desperdiçar nesse modelo, porque tudo tem vida útil do começo ao fim. E, assim, o conceito de lixo deixa de existir, eliminando vários problemas ambientais consequentes dele.
Um exemplo inspirador é a cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. Por lá, a proposta é enviar o mínimo de lixo possível aos aterros, com a meta de zerar esse número. A Fe Cortez esteve lá e conta mais nesse vídeo:
Quer outro exemplo? Na Portobello, a geração de resíduos chegou a 0,06% em 2020. O patamar de reciclagem, reutilização e recuperação dos resíduos gerados no processo produtivo é maior que 99%, rumo ao lixo zero! A empresa trabalha com a lógica da circularidade, onde a maior parte dos resíduos é reincorporado ao processo produtivo. O revestimento cerâmico, que é composto de argila e outros minerais, pode ser triturado e aproveitado como matéria-prima para vários insumos da construção civil, inclusive tijolos.
Entender que o resíduo que geramos, seja como cidadão ou empresa é responsabilidade nossa, é um jeito de começar a repensar o jeito como produzimos e consumimos. Reduzir, reutilizar e reciclar seguem sendo R's importantes, que a gente aprende lá na escola e deve levar pra vida toda. Que tal se inspirar nos bons exemplos que a gente trouxe e começar a praticar a circularidade no dia a dia?
Por Luísa Saldanha - @saldanhitos