Muito da importância de um profissional vai além da atuação em si. O seu impacto no mundo diz mais do que um Q.I. acima da média ou o detalhamento de seus projetos. Jane Drew é um exemplo disso.
Ela poderia se conformar em ser uma grande arquiteta e urbanista, mas resolveu atuar em defesa das mulheres e dos refugiados.
Ao transformar uma história de amor em parceria profissional, Drew marcou seu nome na arquitetura e se transformou em prêmio para homenagear grandes arquitetas.
Apesar disso, assim como muitas mulheres, ainda não recebe o prestígio que merece por sua atuação na área que escolheu.
Conheça a trajetória dela!
Os primeiros anos de Jane Drew
Jane Drew nasceu em Thornton Heath, um distrito localizado no bairro londrino de Croydon, em 1911.
Até então, seu nome seria Iris Estelle Radcliffe Drew, mas ela foi registrada dias depois como Joyce Beverly Drew.
Seu pai era um renomado designer de instrumentos cirúrgicos; sua mãe, uma professora que a encorajou a estudar e aprender.
Entre 1929 e 1934, ela estudou na Architectural Association School of Architecture. Foi lá que conheceu seu primeiro marido, James Thomas Alliston, outro aluno da instituição.
Eles se casaram em 1933 e tiveram duas filhas, Jennifer e Georgie. Os dois se separaram em 1939.
Foi quando se envolveu com o modernismo que Drew conheceu Maxwell Fry, amor de sua vida e grande parceiro de profissão.
Em 1946, Drew e Fry — que haviam se casado quatro anos antes — formaram o escritório Fry, Drew and Partners em Londres, concentrando-se no planejamento de construções em larga escala para países de clima tropical.
Muitos dos seus projetos eram voltados para moradias acessíveis — grande parte delas na Inglaterra, no Oeste da África e no Irã.
A Segunda Guerra Mundial
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939–1945), a arquitetura era um segmento dominado por homens.
Jane Drew fundou um escritório na King Street, em St. James (Londres), que inicialmente só empregava mulheres.
Foi uma ideia revolucionária para a época: ajudar outras profissionais que passavam pelas mesmas dificuldades que ela.
Sua empresa foi bombardeada, levando embora suas obras de Pablo Picasso, Henry Moore e Pierre Bonnard, mas não suas esperanças.
Em 1944, ela abriu seu escritório na Bedford Square, com Riehm Marcus, Trevor Dannatt, K. Linden e F.I. Marcus.
De 1944 a 1946, Drew foi assessora-assistente de planejamento urbano das colônias britânicas da África Ocidental. A Universidade de Ibadan (1953–1959), na Nigéria, foi um dos muitos edifícios que ela e Fry projetaram.
Drew também falava diversos idiomas, o que possibilitava que ela conversasse com os aldeões africanos.
Por isso, atuou como intermediária entre o Escritório Colonial (departamento da Grã-Bretanha voltado para cuidar das suas colônias) e a África Ocidental.
Isso também a ajudou muito quando milhões foram liberados para a construção de novas escolas em Gana.
O trabalho em Gana
O trabalho em Gana, aliás, foi um dos mais ousados e intrigantes da dupla Drew e Fry.
As construções respeitavam a topografia local. Ao mesmo tempo em que havia um esforço de trazer uma nova arquitetura, os arquitetos incorporaram motivos locais nesses projetos.
É possível dizer que Drew e Fry criaram uma espécie de "modernismo tropical" para Gana, com Drew intercedendo entre colonizados e colonizadores e Fry criando uma fachada para o país.
A influência de Le Corbusier
Jane Drew conheceu o modernismo antes da Segunda Guerra Mundial, por meio do Congresso Internacional da Arquitetura Moderna (CIAM), criado por Le Corbusier.
Ela ficou encantada com seu conhecimento, sua personalidade e capacidade de lidar com os problemas habitacionais em países subdesenvolvidos.
Influenciada pelo arquiteto franco-suíço, ela e Fry fizeram parte do comitê criador do Modern Architectural Research Group (MARS), uma versão britânica do CIAM de Le Corbusier.
Segundo a organização, seu objetivo era o "uso do espaço para a atividade humana, em vez da manipulação de convenções estilizadas".
O trabalho em Chandigarh
A importância de Jane Drew no modernismo é muito grande.
Por seu trabalho bem-sucedido na África, ela e Maxwell Fry foram convidados pelo então primeiro-ministro indiano Jawaharlal Nehru para trabalhar no projeto da parte indiana de Chandigarh, capital de Punjab.
A cidade é um ícone da arquitetura modernista e da liberdade ante o colonialismo europeu, que dominava uma parte da região.
As funções de cada arquiteto foram bem definidas. Le Corbusier teria o controle total do traçado urbanístico da nova capital e desenharia os palácios do Capitólio.
Drew, Fry e Pierre Jeanneret, denominados arquitetos-seniores, supervisionariam os projetos de Le Corbusier e desenhariam, in loco, prédios públicos, hospitais, escolas, casas e equipamentos urbanos.
O modernismo
Jawaharlal Nehru não queria que Chandigarh tivesse construções tradicionais, seguindo o que já era consagrado na arquitetura oriental.
Pelo contrário: o primeiro-ministro desejava construções-modelo para abrigar os milhares de refugiados paquistaneses que chegavam diariamente no país.
Por isso mesmo, priorizava novas formas de planejar e pensar o design habitacional.
Foi na cidade que Jane Drew experimentou estratégias de moradias com consciência social. Ela, Fry e Jeanneret integraram escolas, clínicas de saúde, piscinas e teatros ao ar livre em meio às residências.
O redesign criado por Drew, Fry e Jeanneret influenciou projetos residenciais por toda a Índia.
Jane Drew faleceu em 1996, aos 85 anos, vítima de câncer. Ela foi enterrada perto da Igreja de St. Romald, em Romaldkirk (Inglaterra).
Sete meses antes, havia sido premiada como Dama Comandante da Ordem do Império Britânico.
Em toda a sua vida, Drew usou a arquitetura como uma ferramenta para melhorar a saúde, o bem-estar e o cotidiano.
O Prêmio Jane Drew
Em sua homenagem, em janeiro de 1998 aconteceu a primeira edição do Jane Drew Prize, concedido a profissionais que promovem inovação, diversidade e inclusão em seus trabalhos e suas carreiras.
Esse primeiro prêmio, no entanto, não foi bem-sucedido. Houve problemas em encontrar nomes que atendessem aos critérios estipulados pelo júri e a noite de premiação não ocorreu como esperado.
Desde 2012, a condecoração está sob a jurisdição da revista britânica de arquitetura Architects' Journal e segue com sucesso até hoje.
Jane Drew teve uma vida magnífica por mérito próprio, mas também sofreu com discriminações.
Quando trabalhou em uma série de projetos de planejamento na África Ocidental para o Escritório Colonial, por exemplo, seu salário aumentou apenas em £ 100 porque ela era uma mulher.
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Foto de capa: Universidade de Ibadan, na Nigéria, projetada por Jane Drew e Maxwell Fry (Foto: Eukoha)