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Ingrid Stemmer: Tradução de pessoas em arquitetura

Stemmer Rodrigues assina prédios, casas e projetos de interiores igualmente memoráveis. Começaram com um escritório junto de sua residência e hoje operam em uma esquina linda no mesmo bairro Chácara das Pedras, em Porto Alegre, com as características de vegetação e acolhimento que faz com que os visitantes se sintam em casa. Tem muita afetividade envolvida, do amor pela arte explicitado em eventos como a Semana de Arte e lançamentos abertos para o bairro até o compartilhamento pelo Instagram de uma aula de ioga em live no final da manhã de um sábado no auge da quarentena.

E tudo isso foi semeado a partir da construção de uma família, a Stemmer Rodrigues, dois sobrenomes que batizam o escritório e uniram suas preferências, interesses, culturas e energia criativa. A arquiteta Ingrid Stemmer relembra como tudo principiou. Como tantas histórias de casais e empresas, foi na universidade que os elos começaram a ser feitos. Ingrid e o marido e sócio, Paulo Henrique Rodrigues, estudaram na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Cinco anos depois da criação da empresa, o irmão de Ingrid, Roberto Stemmer, uniu-se a ao casal e os três seguiram no comando da empresa e “essa equação tem sido muito gratificante, pois mantém o equilíbrio”. A arquiteta relata a história como ninguém, neste momento de pandemia em que a sensibilidade está à flor da pele:

– Já na faculdade, o Paulo e eu fizemos alguns trabalhos acadêmicos em dupla e, quando surgiram os primeiros trabalhos profissionais, já no decorrer do último semestre, a criação da Stemmer Rodrigues foi uma consequência natural. Nossa formatura, em 26 de agosto de 1987, cujos aniversários comemoramos até hoje em deliciosos encontros de turma, foi também nossa festa de noivado. Casamos em maio de 1988. Os primeiros anos de escritório em dupla foram muito intensos, onde separar a vida profissional da conjugal era impossível. A entrada do Roberto, com quem ambos temos muita afinidade, na sociedade nos trouxe muito equilíbrio. Acredito que somos complementares em nossos talentos. O Paulo, mais extrovertido, assume o marketing e desenvolvimento de produto, o Roberto tem grande domínio técnico e eu gosto de traduzir as pessoas em arquitetura. Juntos, debatemos tanto questões arquitetônicas quanto o rumo da empresa. Seguimos juntos dirigindo a empresa até hoje – conta a arquiteta Ingrid, que conversou comigo do seu home office

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Paulo Henrique Rodrigues e Ingrid Stemmer com Roberto Stemmer (Foto: Lucas Franck, divulgação)

A evolução da empresa 

Acompanho este escritório desde o início e a família há anos. Primeiro, vêm à memória os projetos de interiores e a figura da Ingrid e do Paulo rodeados de peças de design e obras de arte em projetos diferenciados. A casa conectada ao escritório, as crianças pequenas. A arquiteta mostrava ousadia e desenvoltura com elegância no uso de cores e obras que sobressaíam ao primeiro olhar. Por trás desse visual, o negócio era organizado e evoluía no terreno da construção e da tecnologia com a equipe crescendo junto com os projetos. 

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Em 2014, a empresa Stemmer Rodrigues ganhou pelo edifício Bossa o International Property Awards, da Inglaterra, pela reinterpretação do modernismo brasileiro (Foto: Lucas Franck, divulgação)
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Recentemente, em 2019, o AsBEA Anfacer foi ganho pelo edifício Positano, pelo uso protagonista e criativo do recurso cerâmico na arquitetura (Foto: Lucas Franck, divulgação)

Desde 1998, Stemmer Rodrigues opera no mercado de incorporação imobiliária, 11 anos após o início na arquitetura. Agora, a empresa tem duas divisões principais, uma de arquitetura e uma construtora e incorporadora. Ao longo desse trajeto, a marca já assinou oito empreendimentos, entre prontos e em andamento. 

– A história da evolução do escritório foi uma consequência natural da atuação em projetos de alto padrão para residências, interiores e condomínios. Essa experiência levou a Stemmer Rodrigues a novos horizontes na construção e incorporação de edifícios para o mercado imobiliário – ressalta a arquiteta fundadora.

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Time revisto e atualizado (Foto: Rafael Meinecke, divulgação)

Em 2017, houve um reposicionamento no escritório, quando passou a usar S&R e incorporou quatro jovens sócios que também atuam no desenvolvimento de projetos. No logo, o design gráfico induz à leitura como sendo SER, indicando um novo olhar sobre o negócio. Com o novo quarteto, foi possível SER mais, introjetar novas tecnologias, como o BIM (Building Information Modeling, metodologia que permite criar simulações digitais) e uma comunicação ágil pelo WhatsApp, “o que mantém um frescor na marca”, conforme Ingrid. 

Em fevereiro de 2019, a engenheira Ana Raquel Stemmer Rodrigues começou a estagiar no escritório. Sim, ela é filha de Paulo e Ingrid. Claro que os pais ficaram felizes com essa proximidade. A partir de sua formatura, ela vem trabalhando nos projetos complementares simultaneamente aos projetos arquitetônicos que são desenvolvidos. Com isso, acompanhando as diversas etapas de trabalho, sua atuação mantém a compatibilização entre os projetos sem retrabalhos. 

Só falta a presença do filho, Henrique Stemmer Rodrigues. Ele terminou o Segundo Grau em Lucerna, Suíça, e, no ano passado, iniciou o curso de Filosofia na UFRGS. Quem sabe a filosofia se faça necessária no cotidiano do SER? Cada vez mais a filosofia está se mostrando mais simples, próxima e importante, principalmente neste momento de questionamento do SER no mundo.  

Juntos ou à distância

Há anos todos os projetos do Stemmer Rodrigues estão preparados para serem implementados à distância, o que facilita trabalhos em outras cidades. 

– Desta forma, adaptamo-nos rapidamente ao novo modo de trabalhar durante a pandemia, sem perder qualidade. É certo que toda a equipe sentiu falta de nossa convivência cotidiana, que incluía pequenas pausas gastronômicas – diz Ingrid. 

A construção de esquina sede do escritório é um retrofit de uma casa, no bairro Chácara das Pedras, com característica residencial, mas não distante de um dos maiores shopping centers da capital gaúcha. 

– Na realidade, é um pouco laboratório, já passou por várias repaginações, tanto internas quanto dos três jardins. A mais recente foi inspirada no novo pantone da marca, verde neon. Fizemos uma dinâmica muito bacana onde nós três fomos os clientes e nossa equipe fez o projeto da área criativa. Isso resultou em uma imensa mesa coletiva de forma irregular, que concentra toda nossa atividade de produção, sem definição de hierarquia, onde arquitetos, estagiários e engenheiros dividem conhecimentos e inspiração, sempre ao som de música (uma playlist muito eclética, que está sempre a cargo da arquiteta Renata Lui) – conta Ingrid, que ressalta ainda duas maneiras surpreendentes propostas para ela interagir com o grupo: uma bola gigante de pilates e um balanço Painho (design de Marcelo Rosenbaum e Fetiche para a Tidelli). 

Equipe

Hoje, há o escritório e a construtora com 15 pessoas entre as duas pontas da Stemmer Rodrigues. Para manter a estrutura enxuta, sempre houve investimentos em gestão e planejamento para delegar com segurança questões financeiras e administrativas. Isso permitiu que os arquitetos se mantivessem dedicados a projetos arquitetônicos. E Ingrid de olho em tudo, claro.

A arquiteta Ingrid Stemmer
Ingrid Stemmer, suave, afetuosa, mas observadora e criativa. Sua experiência e perfil são preciosos para esses tempos em que a empatia faz cada vez mais parte determinante do sucesso do negócio

Ingrid Stemmer por ela mesma. Como a arquiteta se vê:

Eu me definiria como a figura mais múltipla do escritório, por meu temperamento, gosto de me envolver em tudo e com todas as pessoas, desde pequenos detalhes como escolher o grão do nosso café e mexer no jardim, até decisões importantes como desenvolver produtos para a construtora. Com o passar dos anos, aprendi que difundir conhecimento no grupo e delegar tornam o processo mais produtivo e leve. Minhas inspirações são um pouco “natureba”: frutas, legumes, cascas de árvores, bebidas. Em viagens, amo visitar mercados, feiras de rua, pomares, vinhedos. Já fizemos uma casa, que chamamos de Marsala, que leva a cor deste vinho, também um apartamento no Recife com tons de beterraba e berinjela e hoje minha casa foi inspirada nas cores de doce de ovos e vinho do porto, uma delícia! Sem sombra de dúvida, minha paixão é a obra de Victor Horta (expoente da arquitetura Art-Nouveau falecido em 1947) em Bruxelas. Sua habilidade de lidar com o espaço e a cor, o detalhismo de criar maçanetas, luminárias, corrimões, mosaicos, sua capacidade de fazer espaços mínimos parecerem amplos e luminosos, mesmo num país sombrio, é inspiradora. Busco sempre peças originais, com frequência, uso os clássicos do mestre Sérgio Rodrigues, sou grande admiradora do trabalho de Jader Almeida. Recentemente, tenho incluído trabalhos desenvolvidos aqui no Rio Grande do Sul pelos designers Guilherme Wentz e Aristeu Pires (um, gaúcho, o outro, radicado na Serra Gaúcha). 

Dois projetos exemplares

Casa da Figueira 

O projeto da Casa da Figueira carrega a marca criativa do trio Ingrid, Paulo e Roberto, que desenvolveram a proposta. Como nos demais projetos, fizeram um lançamento coletivo, tanto de planta, quanto de volumetria, até a aprovação do cliente. Já o detalhamento foi feito em conjunto com a equipe. 

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Nesta imagem, a casa parece pousada sobre pedras (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)

– Quando conhecemos um jovem casal que havia adquirido o lote com a imensa figueira à margem dos canais navegáveis em Eldorado, logo imaginei que ali havia o potencial de um projeto desafiador. Seis meses depois, já contratados, estávamos diante daquele conjunto de copa e raízes que ocupava parte significativa do lote. Seus galhos desenhados pelo vento minuano e seus tons pálidos que abrigavam bromélias vermelho-escuro definiram os primeiros traços do projeto – diz Ingrid. 

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Galhos e sombras criam um certo mistério conforme a hora do dia (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)
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A área de lazer no entorno da casa tem equipamentos para serem desfrutados em qualquer clima (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)
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Estruturas vazadas em sequência em contraponto à base (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)

Os projetos de residências do escritório que são marcados pela topografia e elementos do terreno têm sido presentes resultando em fotos e vídeos espetaculares, além de terem arrebatado premiações, junto com os prédios. Entre os mais recentes prêmios, em 2019, com o projeto da Casa Frame, Stemmer Rodrigues conquistou o prêmio AsBEA-RS na categoria residências. Na mesma área, em 2018, as casas da Figueira e Angular foram primeiro e segundo lugar no prêmio Veka em Santiago do Chile. A Casa da Figueira foi duplamente premiada porque levou ainda o prêmio AsBEA Nacional naquele ano. Para arrematar a lista de destaques, o edifício Bossa, concluído em 2016, foi considerado o melhor projeto arquitetônico do Brasil em sua categoria, no International Property Awards, um dos principais concursos de arquitetura do mundo.

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Recanto da área comum externa do edifício Bossa, um dos projetos premiados do escritório, assim como a Casa da Figueira (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)

A arquiteta relembra um projeto icônico de residência em área privilegiada pela natureza que precedeu a Casa da Figueira: “Alguns anos antes, havíamos desenvolvido um estudo para uma residência sobre uma pedra que aflorava do relevo original, que rendeu belas imagens. Resgatamos este conceito para ocultar o único pilar que sustenta o monolito horizontal de concreto aparente.”

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À noite, há cores que se intensificam com a iluminação (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)

– Na piscina da Casa da Figueira, optamos por pastilhas negras para criar o efeito de espelho. Contamos com a ousadia do proprietário, que não só aceitou a proposta, como participou intensamente de cada decisão. Acompanhei pessoalmente as etapas da implementação do projeto até a produção final. A decisão da família, o casal e duas meninas pequenas, de deixar a praticidade de uma cobertura para viver nesta casa tinha como um dos principais propósitos criar espaços lúdicos, daí nasceram uma brinquedoteca integrada à área social, um dormitório que reproduz a figueira, e até uma casinha na árvore com varanda e coraçõezinhos na janela. 

A morada, junto a um canal navegável, tem uma casa na árvore (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)
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Linhas e composição de de materiais trazem a identidade do escritório (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)
Cores pontuais na arquitetura
Cores pontuais na arquitetura (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)

Casa Weiss

A piscina da Casa Weiss (branco, em alemão), construção mais recente do que a anterior, é a razão pela qual Ingrid Stemmer destaca a residência de esquina além da icônica Casa da Figueira, ambas localizadas em Eldorado do Sul, na Grande Porto Alegre. Mais recente ainda é um apartamento que está sendo finalizado em Porto Alegre e que Ingrid faz questão de mencionar ao dizer que seu projeto preferido sempre é o mais atual. 

Quando usa cerâmica, Ingrid ressalta escolher Portobello. No entorno da casa, em particular na face voltada para a piscina, há revestimento “que lembra pedra” e confere o necessário conforto para o convívio outdoor. Já o mobiliário para todos os estilos inclui um balanço Pêndulo, de Ruy Ohtake, arquiteto e designer que faz parte do time de criativos que desenharam superfícies para as linhas de revestimentos da Portobello e peças de mobiliário para a Officina Portobello, junto, por exemplo, com Jader Almeida, também citado pela arquiteta entre seus designers preferidos.

A natureza sempre é adotada pela arquitetura da Stemmer Rodrigues (Foto: Lucas Franck, divulgação)
O paisagismo entra em sintonia com a proposta
O paisagismo entra em sintonia com a proposta (Foto: Lucas Franck, divulgação)
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Base verde estendida até o gramado (Foto: Lucas Franck, divulgação)
O azul é marcante combinado ao weiss da estrutura da casa 
O azul é marcante combinado ao weiss da estrutura da casa (Foto: Lucas Franck, divulgação)
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Lindo este ângulo da área externa com a casa ao fundo (Foto: Lucas Franck, divulgação)
As linhas retas e os recortes paralelos têm inspiração em Mondrian e Rietvelt para equilibrar os volumes retangulares 
As linhas retas e os recortes paralelos têm inspiração em Mondrian e Rietvelt para equilibrar os volumes retangulares (Foto: Lucas Franck, divulgação)

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Foto de destaque: Projeto icônico do escritório Stemmer Rodrigues lançado em conjunto entre Ingrid Stemmer Rodrigues, Paulo Henrique Rodrigues e Roberto Stemmer, a Casa da Figueira conquistou primeiro lugar no Prêmio Veka em Santiago do Chile em 2018 (Foto: Marcelo Donadussi, divulgação)

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