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A importância do urbanismo em grandes cidades

Somos tribalistas por natureza. Desde que o mundo é mundo a humanidade entende que a união nos torna muito mais engenhosos, fortes e produtivos.

Há mais de cinco mil anos, grupos de pessoas gravitam para os mesmos centros. O que hoje a gente conhece como cidades grandes, tiveram suas origens em locais como Atenas, Varanasi, Jerusalém, Damascus e Byblus.

Em sua maioria, os motivos que desencadearam a ocupação dessas áreas foram semelhantes. Locais geograficamente confortáveis, climaticamente propícios e – quase sempre – perto de algum acesso à água. Portos sempre foram alavancas comerciais e, de certa maneira, uma janela para o mundo. Até hoje, catorze das quinze maiores cidades no planeta ficam a alguns quilômetros do mar ou de algum rio (Tóquio, Jakarta, Cidade do México, São Paulo, Nova York, Xangai, Manila, Seoul, e assim por diante).

Recentemente, a rapidez com que o mundo passou a se transformar teve impacto direto na multiplicação desses centros urbanos. Em 100 DC, a formação de uma cidade levava séculos, mas hoje em dia, a história é bem diferente. Em 1950, 10% da humanidade vivia em alguma cidade grande; hoje este número passou para 50% e a perspectiva é que até 2050, 75% da população global esteja baseada numa dessas metrópoles.

Todos estes dados foram mera contextualização para que a gente chegue a uma das ciências mais presentes nas nossas vidas: o urbanismo.

As grandes cidades planejadas (Foto: arquivo Pedro Andrade)
As grandes cidades planejadas (Foto: arquivo Pedro Andrade)

Quase tudo que está ao nosso redor foi efetivamente pensado, planejado e construído; da largura das ruas ao material usado nas calçadas, passando, é claro, pelo número de prédios em cada quarteirão, o paisagismo por trás de cada canteiro, as opções de locomoção, os prédios tombados, o estilo envolvido em cada espaço público etc.

Hoje em dia, essas decisões cabem a um time multidisciplinar composto por arquitetos, paisagistas, construtores, servidores públicos, planejadores imobiliários, designers, dentre outros profissionais dedicados a analisar e moldar a forma como a gente vive.

Cidades são órgãos adaptáveis e sujeitos a uma série de transformações. Estas mudanças acontecem constantemente, de acordo com avanços tecnológicos, inovações relacionadas a meios de transporte, desastres naturais, alterações econômicas e necessidades básicas do dia a dia.

O grande desafio é acompanhar o crescimento populacional dos dias de hoje pensando em maneiras eficientes e sustentáveis para a população como um todo.

Levando em consideração que um terço do planeta vive em favelas, conjuntos habitacionais e complexos sem qualquer higiene básica, como crescer economicamente incluindo todas as camadas da população?

Ao nosso redor, tudo foi efetivamente pensado e construído (Foto: arquivo Pedro Andrade)
Ao nosso redor, tudo foi efetivamente pensado e construído (Foto: arquivo Pedro Andrade)

Algumas cidades foram capazes de fazer isso de maneira mais eficaz que outras. Santiago, no Chile, é exemplo de moradia pública inteligente. Após anos lidando com miséria e segregação, o governo lançou uma concorrência global em busca de respostas arquitetônicas capazes de melhorar a vida dos habitantes e, consequentemente, a economia local.

Moradias inteligentes no Chile, projetadas por Aravena. Crédito: site.sca.com.br
Moradias inteligentes no Chile (Foto: site.sca.com.br)

Medellín na Colômbia, é outro exemplo. Cinquenta anos atrás era considerada a cidade mais violenta do mundo, hoje, após um grande projeto de inclusão que contou com o desmantelamento do cartel de Pablo Escobar e a elaboração de novos meios de transporte que conectam a periferia ao centro, é vista como a prova de que lugares extremamente problemáticos podem ser transformados em destinos seguros e prósperos.

urbanismo em grandes cidades
Intervenção urbana e arte social em Medellín (Foto: revistacontinente.com.br)

Não são só fatores sócio-econômicos que interferem na maneira como as cidades são projetadas. Avanços tecnológicos como inovações automobilísticas e a revolução industrial foram decisivos para que o mundo se moldasse dessa forma.

Sem o acesso a carros, lugares como Brasília seriam inviáveis. Apesar da cidade ser referência de criatividade arquitetônica - graças às mentes de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa – a capital é um dos locais menos práticos do mundo. De cima, é tudo lindo, no entanto, a usabilidade do espaço no dia a dia dos moradores não facilita a vida de ninguém.

Costumo dizer que chique mesmo não é ser dono de um Rolls Royce, mas sim, viver em uma metrópole onde o transporte público funciona.

Há casos – como Copenhague – em que uma solução simples como o hábito de andar de bicicleta, resolve o problema. Hoje, mais de 40% dos dinamarqueses vão e voltam do trabalho em cima de uma bike. É saudável, barato e nada poluente.

Isso faz sentido numa cidade com menos de 2 milhões de habitantes, mas, o que acontece quando este número se multiplica?

Tóquio, Londres, Beijing e Nova York são bons exemplos. Além de metrôs eficientes, tudo nesses lugares é pensado priorizando o cotidiano de todos os moradores, desde o acesso a parques e escolas até as latas de lixo distribuídas nas calçadas e os bancos espalhados pelas ruas. Cada detalhe faz muita diferença e grandes cidades foram feitas para serem utilizadas de maneira democrática.

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Complexo Oculus, que abriga o shopping Westfield World Trade Center (Foto: arquivo Pedro Andrade)

Amanda Burden – diretora de planejamento de NY por oito anos - foi responsável por alguns dos projetos mais revolucionários da Capital do Mundo. A reconstrução da área onde antes ficavam as Torres Gêmeas, o High Line Park (uma antiga linha ferroviária abandonada que hoje virou um parque com mais de 18 milhões de visitantes ao ano), a revitalização de Williamsburg (símbolo do renascimento do Brooklyn), vida nova a Dumbo (um dos metros quadrados mais caros de NY fora de Manhattan), uma das maiores ciclovias do planeta e a substituição de carros por áreas dedicadas a pedestres em locais icônicos como a Times Square.

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Centros urbanos devem priorizar o cotidiano e a essência de quem ali vive (Foto: arquivo Pedro Andrade)

Segundo ela, a função das mentes por trás dessas decisões não é adaptar a população a uma cidade idealizada por um conjunto limitado de pessoas, mas sim, criar um local que respeite a alma da região onde os habitantes desse local vivem. Assim como no ofício do arquiteto, do paisagista e do decorador, quando contratados para auxiliar o dono da casa no processo de decisões necessárias, o urbanista também tem como papel adaptar, informar, sugerir e recomendar, porém, sempre priorizando a visão, o cotidiano e a essência quem ali vive.

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