É difícil encontrar algum brasileiro que nunca tenha ouvido falar na Igreja São Francisco de Assis. Se, ao falar o nome, alguém reluta em responder, espere alguns segundos e diga “Igreja da Pampulha” para ver o que acontece: a memória refresca na hora!
A construção da Igreja, que está localizada em meio a um complexo que recebeu da Unesco o título de Patrimônio Mundial da Humanidade, tem uma história por trás que é repleta de inspiração para profissionais da arquitetura em todo o mundo.
Quer saber mais sobre a Igrejinha querida dos mineiros e ter uma noção de toda a riqueza histórica, cultural e arquitetônica que existe em meio à uma construção que foge do convencional? Se a resposta for sim, este post é para você mesmo!
Tenha uma ótima leitura!
A história da construção da Igreja
A obra foi carinhosamente apelidada de “Igrejinha da Pampulha” por estar localizada na orla da lagoa de mesmo nome, e teve sua inauguração oficializada no ano de 1943.
Ela faz parte do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, projetado por Oscar Niemeyer a pedido de Juscelino Kubitscheck, prefeito da cidade de Belo Horizonte na época.
Em meados de 1940, a capital mineira vinha passando por um período que abraçava as expressões arquitetônicas do modernismo brasileiro. Em meio a um movimento que se iniciou nas artes plásticas, literatura e música, era hora da arquitetura moderna conquistar seu espaço na cidade.
Pensando nisso e unindo a ideia com a vontade de desenvolver mais uma região localizada ao norte da cidade, JK idealizou um projeto que foi batizado de Conjunto Arquitetônico da Pampulha, como já iniciamos ali em cima. Além da Igreja, o conjunto é formado pelo Museu de Arte da Pampulha (MAP), Casa do Baile, Iate Tênis Clube e pela Casa Kubitschek, onde o prefeito passava seus finais de semana.
O prefeito logo reuniu um time de peso para desenvolver aquele projeto, completamente ambicioso para a época. Além da assinatura de Niemeyer, a Igreja possui os jardins planejados por Burle Marx, renomado artista brasileiro que ficou mundialmente conhecido por exercer a profissão de paisagista. Seus jardins são reconhecidos mundialmente, com mais de 3 mil projetos localizados em 20 países.
Os painéis ficaram sob a responsabilidade do artista plástico brasileiro Candido Portinari, com assistência do azulejista Athos Bulcão, os mosaicos foram feitos pelo artista Paulo Werneck e, por fim, as belas esculturas da Igreja foram assinadas por Ceschiatti, grande escultor mineiro.
Você sabia que a Igreja São Francisco de Assis foi o primeiro projeto de Niemeyer a ganhar forte expressão internacional, sendo forte responsável por levar o nome do arquiteto para os 4 cantos do mundo? Legal, não é mesmo?
Não era possível, porém, dizer que após a inauguração da Igrejinha, tudo correu perfeitamente bem. Ao mesmo tempo que era aclamada por uma camada da população, grande parte da sociedade belo horizontina não ficou muito feliz com a construção da Igreja. O motivo? Sua fuga do convencional e desprendimento de tradições religiosas da época.
As curvas sinuosas, o traço moderno e a pequena identificação com o que era idealizado como “Igreja” na época levou a população e a classe religiosa a vetar a consagração da capela. Não era possível, por exemplo, assistir missas ou realizar cerimônias religiosas na Igrejinha da Pampulha.
Na época, inclusive, era falado que a Igreja era considerada como um “galpão”, pelo fato de “não ter função alguma”. Foi assim por um período de quase quinze anos.
O significado da Igrejinha da Pampulha para os mineiros
A construção foi responsável por lançar um arquiteto recém formado para o mundo, consagrando Niemeyer como uma (se não for “a”) figura mais importante da arquitetura brasileira.
Além disso, a cidade ganhou alma. Por mais que Belo Horizonte estivesse crescendo, fosse uma bela capital e contasse com um planejamento minucioso do prefeito JK em relação à arquitetura, a Igrejinha da Pampulha se tornou mais do que uma notável construção de reconhecimento internacional: o cartão-postal dos mineiros.
Ela, juntamente com todo o Complexo da Pampulha, foi responsável por trazer uma identidade para a cidade que carecia de pontos turísticos notáveis ao ponto de serem reconhecidos em todos os cantos do Brasil.
Além do significado pessoal que a igrejinha guarda no coração dos mineiros, ela também foi pontapé fundamental para a construção de Brasília. Não acredita? Foi o próprio Niemeyer que disse! Ao descrever a importância da construção para si mesmo, o arquiteto resumiu toda sua ideia em uma frase: “A Pampulha foi o início de Brasília”.
Já é possível perceber que esse prédio, que guarda consigo traços de uma revolução da arquitetura da época, é mais do que uma simples Igreja, não é mesmo?
As principais características arquitetônicas
Depois de conhecer mais sobre a história da Igreja São Francisco de Assis, é hora de compreender sua arquitetura que, como já vimos, fugia do convencional.
O concreto foi um dos materiais usados com mais abundância no projeto, porém a característica que realmente enche os olhos de qualquer um que visita a Igreja são suas curvas e formas sinuosas, flexíveis e oblíquas. Foi justamente esse material que permitiu a maleabilidade de uma forma tão bela e natural.
As curvas também foram responsáveis por harmonizar os volumes diferentes dos “cômodos” da igreja, que não seguiam um padrão que pudesse ser “selado” com um telhado só, por exemplo. Era necessário integrar toda a diferença de formas existente, e as curvas superiores foram responsáveis por realizar a atividade com louvor.
A abóbada da Igreja também é muito comentada por arquitetos em geral. O projeto dessa parte em especial, que já existe tradicionalmente em projetos de construções religiosas, foi desenvolvido de forma muito original. A estrutura delas é composta por arcos que harmonizam entre tamanhos maiores e menores, de forma parabólica e responsável por apoiar toda a construção.
O mural, desenvolvido por Portinari, reproduz os traços modernos da época na medida que faz uma releitura ao próprio São Francisco de Assis. Essa característica, inclusive, foi uma das que causou estranheza pela classe mais tradicional da população mineira.
Dentro da igreja, o altar (que também foi feito por Portinari) continua seguindo a linha modernista juntamente com os 14 quadros da Via Sacra. Quem visita a igreja percebe logo de cara que ela foge dos tradicionais painéis e afrescos de outras construções mineiras, principalmente daquelas igrejas localizadas nas cidades históricas, como Ouro Preto e Mariana.
Visitar a Igrejinha da Pampulha é se imergir por completo em um movimento arquitetônico que quebrou paradigmas, transformou a história de uma cidade e ressignificou um ambiente que, até então, era inabitável, além de ver de perto uma construção que é só amor da parte dos mineiros.
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