Guia da janela na arquitetura
Não é novidade para ninguém que o olhar atento é a marca registrada do arquiteto. Descobrimos detalhes, analisamos contornos, formas, buscamos soluções e inspirações em situações ao nosso redor. E foi ao visitar uma casa do final do século 20 que nos recordamos de um tema que já estava há tempos em nossa mente: quando foi que deixamos de ousar nos desenhos de portas e janelas?
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Nessa coluna, especificamente, falaremos de janelas, mas a simplificação de desenhos acontece também com vários outros elementos arquitetônicos.
Sejamos diretas, o principal motivo para a simplificação dessas soluções é o processo de industrialização que tende a padronização de itens: menor variedade de modelos, maior facilidade de fabricação, consequentemente, menor custo de produção e maior lucratividade. Por isso, não importa o porte ou uso da edificação, as janelas de correr se tornaram regra na arquitetura contemporânea brasileira, seguidas do modelo maxin-ar.
Outro motivo é a associação da janela de correr com a modernidade, especialmente a janela de vidro, em oposição aos modelos que remetem a estilos arquitetônicos anteriores. E, quando pensamos na extensão territorial do Brasil, com climas e culturas tão diversas, achar que dois modelos de janelas atenderão todas as necessidades de conforto térmico, lumínico e acústico é pura ingenuidade. Ou será comodismo?
Classificamos alguns modelos pelo tipo de abertura e folha, seguidos de suas vantagens e desvantagens de instalação, bem como alguns exemplos de possíveis materiais. Assim, fica muito mais fácil de você decidir qual a melhor solução para seu projeto.
Tipos de abertura de janelas
O primeiro passo para especificar uma janela é escolher o seu tipo de abertura. Considera-se o vão disponível para instalação e o tipo de ambiente em que será utilizada.
Janela de abrir/girar
Gira a partir de um eixo fixado na lateral da esquadria. Sua abertura de folhas pode acontecer para fora ou para dentro do ambiente. É comum encontrarmos executadas em madeira, mas também podem ser fabricadas em alumínio, aço, vidro e PVC.
Vantagens: O modelo permite a combinação de diferentes tipos de folhas, o que amplia as possibilidades de uso. Permite formatos diferentes, como arcos, e uma abertura de 100% do vão.
Desvantagem: Demanda um espaço maior para o giro das folhas.
Janela basculante
Possui uma alavanca de abertura comum que movimenta as folhas em um eixo vertical.
Vantagens: Por ser acionada somente em um ponto na lateral da janela é um modelo mais fácil de manusear, mesmo em locais de difícil acesso. Em vãos mais altos é dividida em várias folhas, o que faz ocupar pouco espaço quando está aberta. Esse modelo permite a ventilação constante do ambiente e pode ser mantida aberta mesmo em dias chuvosos.
Desvantagem: Menor permeabilidade visual.
Janela maxin-ar
Muito parecida com o modelo basculante, a diferença está no eixo principal que, nesse modelo, é horizontal. Como a peça gira a partir do topo da esquadria, a parte de baixo da folha é empurrada para cima.
Vantagens: Ao ter sua folha projetada para fora, o vão de abertura fica protegido em dias chuvosos.
Desvantagens: Recolher a folha aberta pode ser tornar um empecilho, especialmente para pessoas de baixa estatura. Apesar de abrir o vão completo, a ventilação não é abundante pois quando está aberta a folha permanece na frente da abertura
Janela pivotante
Construída a partir de um eixo fixo vertical instalado no centro da esquadria, onde a folha rotaciona. Esse tipo de abertura permite formatos diferentes, como a janela redonda.
Vantagens: Uma ótima solução para vãos altos e estreitos, pois com ela é possível a abertura total do vão, tirando proveito de toda a área disponível para ventilar o ambiente.
Desvantagem: Quando aberta ocupa espaço interno e externo, o que pode ser um problema em espaços pequenos.
Janela articulada/camarão
Nesse modelo as folhas se acomodam umas sobre as outras articuladas por dobradiças.
Vantagens: Especialmente interessante para grandes vãos, pois pode ser dividida em várias peças.
Desvantagem: Demanda um espaço maior nas laterais para acomodar as folhas recolhidas.
Janela guilhotina
Comumente dividida em duas partes horizontais - uma fixa ao topo, e outra que sobe e desce.
Vantagens: Além de ocupar pouco espaço, mantém a linha do olhar do observador livre.
Desvantagem: Abertura de apenas 50% do vão.
Janela fixa
É composta por uma folha transparente, sem aberturas. Na ausência de moldura é classificada como blindex.
Vantagens: Como seu foco é a entrada de luz natural e visibilidade do entorno, cria visadas arquitetônicas interessantes. É uma excelente alternativa para climas frios, onde o calor da edificação precisa ser mantido.
Desvantagem: Como permite a passagem de luz, mas não a ventilação, deve ser usada com cuidado em climas tropicais.
Tipos de folhas de janelas
Definido o tipo de abertura da janela, é a hora de definir a “função” de cada uma das suas folhas. Entrada de ventilação natural, luz solar, integração com o entorno são alguns dos pontos a se considerar para escolher o melhor fechamento.
Janela veneziana
A folha do tipo veneziana possui pequenas aberturas ao longo da peça. Essas aberturas podem ser criadas por aletas inclinadas ou frestas que, mesmo com a janela fechada, permitem a entrada de ventilação e iluminação natural, por isso é tão popular nas casas brasileiras.
Janela opaca
Modelos em que a vedação da folha é total, seja com madeira, vidro opalino ou alumínio. Quando fechada isola completamente a entrada de ruídos externos, não há troca de ventilação e pouquíssima permeabilidade da luz natural.
Janela transparente
Para quem não abre mão da integração visual entre a edificação e seu entorno e quer um ambiente bem iluminado durante o dia. Embora sua aplicação proporcione a entrada abundante de luz natural, é preciso estar atento ao posicionamento dessas aberturas em edificações onde a incidência de luz solar pode comprometer o conforto térmico interno. Normalmente estão associadas à instalação de brises, beirais e marquises.
Janela com vidro texturizado
Mantém a entrada de luz natural sem perder a privacidade. São uma ótima opção já que tornam-se mais um elemento de destaque da decoração. Podem ser do tipo aramado: com uma malha metálica incorporada ao vidro; canelado: onde ondulações são aplicadas à superfície do vidro; pontilhado: com pequenos pontinhos lado a lado que criam uma textura na peça, mini boreal: texturizado com micro quadrados ou martelado: similar ao anterior mas com formas irregulares marcadas na superfície do vidro.
Materiais de janelas
Por fim, a materialidade que, em conjunto com as demais escolhas, dará vida a fachadas e ambientes. Para definição certeira, além das questões estéticas, deve-se considerar o local de aplicação, orçamento disponível e durabilidade de cada material.
Janela de vidro
Se aplicados sem caixilharia (moldura que envolve os quatro lados da esquadria), serão do tipo blindex, um modelo que, embora proporcione um visual leve e discreto, é pouco resistente, veda muito pouco os ruídos externos e não é aplicável a todos os tipos de abertura. Ao optar pelo modelo temperado com caixilharia torna-se uma peça versátil e super resistente.
Janela de madeira
Não há dúvidas de que a esquadria de madeira é extremamente versátil e atemporal. O material exige manutenção frequente com a aplicação de selador e verniz mas, quando bem executada, é um excelente isolante térmico e acústico. Modelos de esquadria onde a madeira é o material principal são ainda mais exclusivos, pois permitem a criação de desenhos e texturas.
Janelas de alumínio ou PVC
Os materiais mais utilizados em esquadrias, seja para caixilharia ou fechamento total da folha. Apresentam boa durabilidade/resistência e algumas diferenças entre elas são decisivas para definir qual a melhor escolha para seu projeto.
Janelas em PVC apresentam melhor isolamento acústico e térmico, ao contrário do alumínio que é um condutor de temperatura. Por outro lado, se as peças em PVC possuem uma estrutura mais elaborada, isso impacta também no preço do produto final - as peças em alumínio são mais baratas e mais acessíveis.
A lista não para por aqui, as possibilidades são muitas e a arquitetura perde sua qualidade quando não as conhecemos e aproveitamos. Cabe a nós, profissionais, ir além do lugar comum e especificar peças mais interessantes em projetos cada vez mais inspiradores.
Qual a sua preferida?