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Outro lugar

pedro andrade em petro e branco

Pedro Andrade faz sua estreia como fotógrafo, em exposição no Rio de Janeiro (Retrato: André Cunha)

Eu sempre fui apaixonado por arte

Lembro como se fosse ontem a primeira vez em que me emocionei por conta de algum tipo de expressão artística. Eu devia ter uns onze anos de idade quando meu pai me levou ao show de um coral gospel do Harlem no Rio de Janeiro. Apesar de ser novo demais para entender a conotação religiosa do espetáculo, ou a mensagem por trás daquelas músicas, em certo momento comecei a chorar e - mesmo confuso - me permiti sentir aquilo tudo sem tentar esmiuçar ou compreender o que estava acontecendo. 

menino no rio
Foto: Pedro Andrade

Mais tarde, o mesmo aconteceu em outras circunstâncias. Ainda jovem reconheci o valor que tem um bom filme, uma performance de dança, um museu de tirar o fôlego, um texto inspirado ou uma exposição certeira. 

Entender aquilo que a gente gosta de fazer frequentemente nos dá uma ideia das nossas vocações. Costumo dizer que a gente não deve investir nos nossos sonhos, mas sim nos nossos talentos. No meu caso, era fácil imaginar qual seria meu rumo profissional. Na escola eu era péssimo em matemática, uma negação em todos os esportes e um desastre em tecnologia, no entanto, adorava línguas, redação e qualquer oportunidade que me permitisse ser criativo artisticamente. 

montanha de gelo - foto pedro andrade
Foto: Pedro Andrade

Aos dezesseis anos fiz intercâmbio cultural em Lynchburg, uma cidade pequena no estado da Virgínia, nos Estados Unidos. Foi lá que tive meu primeiro contato com o universo da fotografia, graças a uma aula obrigatória no meu currículo. Como vivíamos em uma época pré-smartphones e câmeras digitais, fui obrigado a descobrir as etapas da revelação de uma imagem, a diferença que a exposição ideal faz, a importância da velocidade de um diafragma e o barato que é enxergar uma obra nascer dentro de um quarto escuro. 

menino mexicano - exposição de pedro andrade
Foto: Pedro Andrade

Hoje sei que o aspecto técnico dessa arte é só o início do processo. Desenvolver um olhar fiel ao próprio DNA é um passo muito mais trabalhoso e, ao meu ver, importante. 

Ao longo das últimas duas décadas tive o privilégio de mergulhar em algumas das realidades mais fascinantes do planeta enquanto visitava setenta e três países com minha câmera de baixo do braço. Apesar de enxergar meu trabalho jornalístico como algo separado das minhas ambições artísticas, as duas empreitadas têm um aspecto em comum: na frente ou atrás das câmeras, eu sempre gostei de gente. 

menina - exposição de pedro andrade
Foto: Pedro Andrade

Da mesma forma que não tenho o menor interesse em compartilhar dicas turísticas na televisão, minha lente também navega por um mundo de sensações e experiências fundamentalmente humanas. 

Nunca acreditei em atalhos. Talvez por isso tenha levado tanto tempo para compartilhar minhas obras. Estudei, li, tentei, errei, aprendi e me apaixonei pelo trabalho de gênios como Garry Winogrand, Diane Arbus, Cartier Bresson, Ed Van Der Elsken, Graciela Iturbide, Anders Petersen e Vivian Maier.

mulheres indígenas pescando
Foto: Pedro Andrade

A essa altura do campeonato, é incontestável que exposições não sejam apenas um apanhado de obras. Pelo contrário, se forem elaboradas corretamente, elas contam uma história clara e específica. 

Com isso em mente, decidi pela primeira vez dividir algumas das minhas obras com o mundo.

mulheres indígenas
Foto: Pedro Andrade

Apesar de ter desenvolvido essas imagens em lugares totalmente distintos, acredito que meu olhar tenha identidade formada. As conexões entre as obras são claras e é impossível não observar o que de fato mexe comigo. Seja em comunidades indígenas na Amazônia Equatoriana, em rodeios mexicanos ou dentro de igrejas esculpidas em pedra na Etiópia, o protagonismo dessa exposição não está no aspecto geográfico das obras.  

exposição de pedro andrade
Foto: Pedro Andrade

Acredito que a gente viva no espaço entre duas dimensões: uma que faz parte do universo ao nosso redor e outra que se passa no âmbito emocional. Frequentemente explorar o lado de fora é mais simples que mergulhar no lado de dentro. Meu interesse em quase tudo que faço vive na intercessão entre essas duas realidades. 

Evito falar sobre minha arte porque acredito que ela tenha voz própria. Não há maneira equivocada de interpretar o que está na nossa frente. Cada um vai ter uma opinião, uma ideia, uma crítica e - se eu tiver feito meu papel - um sentimento diferente. 

O processo de criação dessa mostra na galeria Anita Schwartz me ensinou algumas coisas, mas talvez a mais inusitada tenha sido a sensação de apego e possessividade pelas minhas obras. Por mais piegas que isso possa parecer, o sentimento é que quando essas imagens forem para seus respectivos lares, elas levem também um pedaço de mim. No final das contas está tudo exatamente onde deveria estar... Elas e eu, em outro lugar. 

Serviço

Período: 6 de dezembro a 28 de janeiro
Local: Galeria Anita Schwartz
Endereço: R. José Roberto Macedo Soares 30, Gávea, Rio de Janeiro

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