Clássicos da Arquitetura: inspire-se com o Templo de Lótus
Arquitetura é ou não arte? Há profissionais que não consideram, afirmando que arte é uma forma de expressão que, teoricamente, não tem responsabilidade com alguém ou algo. No entanto, ela também não deixa de ser uma manifestação de ordem estética ou comunicativa que transmite sentimentos e emoções. Existem projetos arquitetônicos que podem sim ser considerados obras de arte e ir além disso, como transformar-se em uma causa social. Um dos exemplos mais conhecidos é o Templo de Lótus.
O arquiteto iraniano Fariborz Sahba levou a arte da arquitetura a um outro patamar. Usando a forma para trazer conteúdo, conseguiu desenhar um templo que pode fazer algo um pouco difícil de acreditar ainda nos dias de hoje: unir religiosos de todos os credos. Neste texto, vamos conhecer mais sobre o Templo de Lótus. Acompanhe:
Templo de Lótus: história
Também chamado de Lotus de Bahapur, o Templo de Lótus é uma casa de adoração bahá'í, local para manifestação da fé homônima. Existem apenas oito dessas casas no mundo.
Situado em Nova Dehli, na Índia, é também considerado o templo-mãe da fé. Apesar disso, é uma obra relativamente nova: foi inaugurada em 1986, com base em um projeto criado por Fariborz Sahba, 10 anos antes.
A ideia de criar um templo bahá'í em Nova Dehli surge em 1953, quando o terreno de 26 hectares foi adquirido pelos seguidores da fé. A maior parte do financiamento veio de um único devoto: Ardishír Rustampúr, que doou as economias de uma vida inteira em prol da obra. Mas, para que o templo ficasse pronto, precisou contar com o apoio de 800 profissionais.
A obra teve início em 21 de abril de 1980 e foi até dezembro de 1986. Além do edifício, o projeto-diretor previa também toda uma construção que pudesse beneficiar a população local, como escolas, hospitais, instituições para serviços sociais e humanitários, bibliotecas, orfanato e habitações para idosos carentes.
Edifício mais visitado no mundo
Hoje, o Templo de Lótus é o edifício mais visitado no mundo, com 3,5 milhões de visitantes por ano e mais de 70 milhões desde sua construção. Apesar de ser uma obra feita para o culto da fé monoteísta bahá'í, o local é aberto a fiéis de todos os deuses, independentemente da afiliação religiosa. Os devotos pregam a união espiritual.
Fariborz Sahba: o homem por trás da obra
Nascido em 1948, Fariborz Sahba é um arquiteto iraniano e idealizador do Templo de Lótus. Quando foi contratado para criar a obra, tinha apenas 4 anos de formação pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Teerã.
Durante os 10 anos entre idealização e obra, Sahba trabalhou durante todo o tempo no projeto como arquiteto e gerente de projetos.
Flor de lótus, forma e conteúdo
O lótus é uma planta aquática muito importante para a religiosidade oriental. Além de símbolo religioso da Índia, é ligada ao renascimento, à pureza espiritual e ao nascimento divino. Nasce em meio à lama e consegue crescer limpa, pura e esteticamente perfeita. À noite, suas pétalas se fecham e ela fica submersa, mas ressurge das profundezas pouco antes do amanhecer. Por isso, os antigos egípcios associavam à flor de Ra, o deus do sol.
Nas estátuas, Buda está sempre sentado em cima de uma flor de lótus, transcendendo do mundo comum (lama). A expansão da vida espiritual pela meditação (dhyana) é representada pelas pétalas, que fechadas, semiabertas ou completamente abertas.
Além disso, flor de lótus é também o nome de uma posição de meditação, em que o praticante se senta com as pernas cruzadas e as plantas dos pés para cima.
Arquitetura e fé
O Templo de Lótus é um verdadeiro monumento à arquitetura expressionista. As 27 pétalas, formadas por cascas finas de lajes de concreto revestidas em mármore, são divididas em grupos de 3 para formar seus 9 lados. Seus 70 metros de diâmetro e 34,27 metros de altura comportam 2500 visitantes.
Essas pétalas são classificadas em três categorias:
- de entrada: marcam a entrada em cada um dos nove lados do edifício;
- externas: servem de telhado aos espaços auxiliares;
- internas: formam o principal espaço de adoração. São cobertas por uma claraboia de vidro e aço.
Sua sala central conta com 9 acessos, que simbolizam a união de devotos de inúmeras crenças pelo propósito da paz. Além das escrituras sagradas da fé bahá'í, as de qualquer outra religião podem ser lidas ou cantadas dentro do templo, incluindo em outros idiomas. No entanto, não é permitido tocar qualquer instrumento, realizar sermões ou qualquer outra cerimônia ou prática ritualística.
- Os 10 mil metros quadrados de mármore branco que revestem suas superfícies externas foi importado de Penteli, na Grécia — é o mesmo material-base de muitos dos monumentos da Antiguidade. Não apresenta nenhuma textura ou veio, dando a sensação de delicadeza da flor de lótus. Enviado para a Itália, cada peça foi cortada antes de seguir para a Índia.
O templo foi construído em concreto armado na forma de abóbadas e nove arcos que sustentam seu peso, sem a necessidade de vigas. Na área externa, há 9 piscinas, que formam uma lagoa e dão a impressão de que a construção é uma flor flutuando em meio às águas.
A mistura de concreto e mármore formam um exterior branco prístino, enquanto o interior é caracterizado pela expressão do estilo expressionista, com a cobertura com nervuras pré-fabricadas nos espaços de culto.
Para entrar, é necessário desligar o celular, ficar descalço e manter absoluto silêncio (é um local de meditação). Ele também não tem fotos, imagens, estátuas, púlpito ou altar. Não há limite de horário; você pode ficar o tempo que quiser.
O Templo de Lótus consegue unir arte e arquitetura em sua forma e conteúdo. Resultado de um projeto ambicioso, é também o símbolo de união em torno de um mesmo propósito: a paz.
E para continuar nessa mistura de arte, arquitetura e fé, confira como ficou a Igrejinha da Pampulha após sua reforma!