Localizado na Vila Madalena, em São Paulo, em um terreno de 3,5 mil metros quadrados, o Edifício Corujas apresenta uma proposta diferente dos edifícios comuns de escritórios. Indo na contramão dos gabaritos altos e estruturas envidraçadas, o projeto propõe amplas salas com iluminação natural e jardins privativos, além de criar espaços que incentivem a convivência entre as pessoas.
Outra preocupação do edifício é com o espaço público. O recuo maior que o necessário gera uma espécie de praça, disponível tanto para quem trabalha quanto para quem passa pela região. Também há bicicletário e vestiário, incentivando o uso da bicicleta.
Com uma proposta humanizada, o projeto apresenta uma estrutura envidraçada, ligando-se às áreas verdes. Dividido em dois blocos, conta com amplas salas com jardins privativos, salas de reunião em locais abertos e áreas comuns que visam a integração entre as pessoas. Todos os espaços estão conectados a um átrio arborizado, criando uma praça central.
Quer conhecer essa obra mais de perto? Confira o post a seguir!
História e propósito do Edifício Corujas
A escolha do partido definitivo do projeto foi um pouco longa. O primeiro estudo previa a demolição de todas as casas da área a ser ocupada, mas isso foi inviável, já que um dos moradores desistiu de vender sua propriedade.
A segunda proposta previa que o edifício circundasse a casa; porém, os gastos gerados seriam muito maiores. Já a terceira e última opção tornou-se viável depois que a incorporadora comprou outros terrenos vizinhos.
Para contar um pouco mais sobre o Edifício Corujas, não podemos deixar de explicar de onde vem seu nome e da influência que o zoneamento do bairro da Vila Madalena teve em seu partido.
A região tem um dos poucos córregos a céu aberto da cidade, o córrego das Corujas, com algumas vegetações nas margens, dividindo a Vila Madalena (zona mista) da Vila Beatriz (zona residencial). A implantação do edifício está, então, na transição de dois tipos de zoneamento, com coeficiente baixo (uma vez a área do terreno) e altura máxima de nove andares.
Pensando nisso, o escritório FGMF, responsável pelo projeto para a incorporadora Idea!Zarvos, propôs a criação de um espaço mais humanizado de trabalho, diferente da arquitetura corporativa comum, com prédios altos e espelhados encontrados em outros bairros da cidade, que propõem o afastamento dos indivíduos.
A solução foi pensar em uma arquitetura horizontal, com seus usos distribuídos em dois blocos. Além dos espaços fechados, áreas avarandadas generosas foram criadas para reuniões externas, incluindo jardins privativos.
Segundo o escritório, tal espacialidade é adequada à cidade e principalmente à Vila Madalena, bairro cultural e boêmio de São Paulo, onde o pedestre e as relações interpessoais são muito importantes.
Por isso, o projeto busca reforçar essas ideias ao criar amplas áreas de convívio, circulações abertas, bicicletários, café e um painel artístico. Com isso, o ambiente se transforma em comunidade, além de incentivar o uso da rua pelos pedestres.
Outro propósito é integrar-se ao espaço público. Para isso, o recuo foi feito maior que o necessário, deixando-o aberto para a rua com uma praça e jardins; o edifício também é responsável pela praça Linear das Corujas. Assim, é possível perceber a total preocupação do projeto com seu entorno, além dos pedestres e usuários que transitam diariamente pelo local.
Partido e características arquitetônicas
A estrutura horizontal do edifício, que é separada por três eixos, está implantada em um lote de 3,5 mil metros quadrados. Com 6880m² de área construída, o escritório projetou dois volumes principais, praticamente paralelos, e nas extremidades do terreno, criando uma praça central.
A entrada principal está na Rua Natingui e aproveita o ligeiro declive para deixar parte do subsolo à mostra. Isso permite uma entrada sem rampa para a garagem.
As salas localizadas no térreo têm pé-direito duplo e receberam paredes levemente inclinadas e revestidas por madeira cumaru, com algumas aberturas em vidro, contrapondo-se aos vazados dos pavimentos superiores. A mesma madeira das paredes se repete no forro e no deck.
Terreno
De acordo com o escritório, o terreno foi um dos elementos mais trabalhosos, dificultando o uso do guindaste para mover as peças de pré-moldado. Além disso, o nível da água nessa área é muito alto, sendo necessário fazer o térreo em um nível elevado.
Estrutura, materiais e fachadas
A estrutura é mista, com laje pré-moldada in loco no térreo, elementos pré-moldados de concreto aparente e vigas metálicas que ficam escondidas nas fachadas.
A mistura de materiais — como madeira, cerâmicas, vidro, concreto aparente, peças galvanizadas e em aço — também chama a atenção. Alguns desses elementos exigiram detalhamentos mais trabalhosos, como o encontro da estrutura metálica com a de concreto, assim como o revestimento de madeira do térreo.
Já para o controle da iluminação natural, o escritório optou por brises de chapa metálica perfurada. Durante o dia, elas fazem sombra nas paredes de vidro sem prejudicar a vista do entorno e, de noite, permitem criar uma superfície iluminada.
Além da estrutura aparente, do paisagismo e dos materiais, outros elementos são responsáveis pela plasticidade, como as circulações vazadas e o fechamento de algumas áreas com caixilho. Já no térreo, os rasgos no embasamento revestido por madeira cumaru criam pontos luminosos na praça quando é noite.
Paisagismo e identidade visual
Já o paisagismo, da cobertura ao subsolo, é projeto de André Paoliello, priorizando as áreas comuns. A intervenção artística ficou por conta de João Nitsche, com painéis sobre o muro da residência que permaneceu, retratando como se fosse em uma visão raio-X as possíveis pessoas, animais e objetos que existem no interior.
Cobertura
O último pavimento também tem varandas, assim como o primeiro. Nelas existem escadas metálicas independentes dando acesso à cobertura, que funciona como jardim privativo para cada conjunto do segundo andar.
Premiações
A obra ganhou, em 2014, a 7ª edição do prêmio "O Melhor da Arquitetura" na categoria de edifícios comerciais. O objetivo é premiar os melhores projetos de arquitetura do Brasil, destacando a inovação e a criatividade dos arquitetos.
O projeto ganhou também o 8º prêmio AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) na categoria Edifícios de Serviços, modalidade não edificado.
Rotina de trabalho no prédio
A estrutura do Edifício Corujas influencia muito no modo de viver e trabalhar. Com a disponibilidade de bicicletário e vestiário, os funcionários do local podem utilizar a bicicleta como meio de transporte alternativo. Além disso, na loja do condomínio é possível aproveitar a hora de entrada e de saída ou mesmo fazer uma pausa para o café durante o expediente.
A horizontalidade e as circulações abertas permitem que o passante encontre casualmente colegas e outras pessoas para manter contato, além de espiar o que acontece nos escritórios. As reuniões, em geral monótonas e feitas em ambientes estéreis, agora são realizadas em espaços abertos em meio ao jardim.
Significado do prédio para a cidade de São Paulo
Ter um edifício desses na cidade de São Paulo significa que é possível trabalhar em ambientes mais agradáveis, que gerem criatividade e incentivem as relações interpessoais.
Além disso, a ligação que o Edifício Corujas tem com o espaço urbano é muito significativa, priorizando o pedestre, as áreas verdes e incentivando o uso de meios de transporte alternativos, como a bicicleta.
Com isso, o projeto vai contra o estereótipo dos edifícios comerciais, reforçando um modelo que vem ganhando espaço na cidade: o que preza a iluminação, a convivência e a relação direta com a esfera pública.
Você também tem um trabalho que prioriza alguns desses elementos? Então aproveite para se cadastrar no Archtrends Portobello e divulgar suas ideias.
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