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A dieta da sustentabilidade

Mais do que a preservação ambiental, a recuperação das áreas exploradas pela atividade humana é enfatizada desde a Rio 92. Aqui, a jazida da Portobello em Canoinhas, SC, recuperada para a piscicultura

Ops, comecei muito mal esse texto. Não dá pra conquistar sua atenção com duas palavras que todos sabem que são importantes, mas que estão desgastadas pela cultura “não olhe para cima”, o filme que nos coloca de frente com a indiferença com que tratamos assuntos tão relevantes como a possibilidade do fim da humanidade. 

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Mas um segundo parágrafo é também uma chance de recomeçar. Sabemos que temos que privilegiar alimentos saudáveis e nos hidratar. Mas, por vezes, esses cuidados básicos parecem quase impossíveis. O mesmo ocorre com a sustentabilidade. Ações simples, como não desperdiçar água, dar o destino correto ao lixo (isso inclui não jogar lixo na rua) e economizar energia, para ficar somente nos temas ambientais mais básicos, ainda estão distantes do cotidiano da maioria das pessoas.

E a boa notícia é que, assim como a dieta, a sustentabilidade tem ganho abordagens que não só traduzem a evolução dessa disciplina, mas a tornam cada dia mais sexy - sim, aprendi que sustentabilidade pode ser sexy recentemente, em uma conversa com um novo parceiro da Portobello, o chef Alex Atala. E, seguindo o raciocínio, vale um passeio, ainda que superficial, pela história recente da sustentabilidade, mostrando como algo óbvio e necessário precisa de novas roupagens de tempos em tempos para se manter atrativo.

Nas últimas três décadas, o entendimento de sustentabilidade evoluiu, mudando algumas abordagens, especialmente para as empresas, mas também de maneira a renovar o interesse do público em geral. Surgiram termos e siglas como desenvolvimento sustentável, Triple Bottom Line, ODS e ESG. Eu tive a oportunidade de acompanhar todo esse processo enquanto trabalhava para a Portobello, marca que tem o dom de deixar esse tema sempre contemporâneo.

Nesses quase 30 anos de Portobello, acompanhei a evolução da sustentabilidade. A sustentável fábrica de Lastras, inaugurada em 2019, é reflexo da terceira fase, que preza os ODS

Um dos importantes marcos da sustentabilidade foi a Rio 92, que aconteceu um ano antes de eu começar a trabalhar para a Portobello. Foi nesse encontro que, com o consistente conteúdo do Relatório Brundtland de 1987 (nome em homenagem à primeira ministra da Noruega, que chefiava a comissão mundial para o meio ambiente e estruturou os pilares da Agenda 21 para a Rio 92), o termo desenvolvimento sustentável foi consolidado, popularizado e adotado pela maioria dos países, inclusive o Brasil. Temas como a pobreza dos países do terceiro mundo e o consumismo dos países mais ricos, somados a preocupações ambientais, como o aquecimento global, os cuidados com a camada de ozônio e os impactos na biodiversidade, de alguma forma, conseguiram envolver a todos em torno de um objetivo comum. E o grande feito foi exatamente unir os países para um desenvolvimento sustentável, sem culpados ou inocentes, estabelecendo um compromisso com novos limites. E o desenvolvimento sustentável foi a abordagem que conquistou o público na década de 90.

Avançando um pouco mais no tempo, na Rio +10, em 2002, em Joanesburgo, a Cúpula Mundial Sobre o Desenvolvimento Sustentável (o termo consolidou-se mesmo) reforçou os compromissos de 92. Já na Rio +20, novamente no Rio de Janeiro, foram lançadas as bases para a criação dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, os famosos ODS, que, em 2015, foram acordados e publicados pela ONU.

Os ODS marcam uma nova abordagem, que envolve diferentes setores do governo e da sociedade civil em torno de objetivos práticos, palpáveis e mensuráveis - mais um marco importante na evolução da sustentabilidade. 

Entre a Rio 92 e a publicação dos ODS, houve uma conscientização sobre o Triple Bottom Line, termo que surgiu logo após a Rio 92, que dizia que o foco da sustentabilidade deveria ser dividido entre as áreas ambiental, social e econômica. De fato, o desenvolvimento aconteceu dessa forma.

Mas, em 2020, Larry Fink, então CEO de um dos maiores fundos de investimento do mundo, o Black Rock, colocou o fator econômico como vetor acelerador da sustentabilidade ao incluir na seleção de investimentos critérios sustentáveis. Talvez esse tenha sido o mais importante feito para que a sustentabilidade ocupasse um papel efetivo na gestão das empresas. Depois disso, não há um executivo importante que não tenha se capacitado para falar de ESG. Eis aqui mais uma nova roupagem para a sustentabilidade, motivando a todos a entrar nessa “dieta”, muito importante e saudável para todos.

Sustentabilidade Portobello (ENG/ESP) | 2021

ESG - Environmental, social and corporate governance é um termo em inglês para governança ambiental, social e corporativa, cunhado em um documento de 2004, chamado Who Care Wins, a partir da provocação de Kofi Annan, então secretário geral da ONU, para 50 CEOs de instituições financeiras, sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais. E, 16 anos depois, a decisão do Black Rock fez do ESG o protagonista do mercado de capitais e, consequentemente, pauta imprescindível em todas as empresas listadas nas bolsas.

Dos 30 anos entre a Rio 92 e a supremacia do ESG em 2022, acompanhei esse tema na Portobello por 29 e estabelecer um paralelo é quase automático. Na primeira década, o foco no meio ambiente; nos anos 2000, a força da responsabilidade social; e nas décadas seguintes, os desafios de consolidar a governança e a gestão em torno da sustentabilidade. O ESG nos deu uma direção precisa. Mas deixo essa história paralela para a próxima coluna no Archtrends. Desenvolvimento sustentável, Triple Bottom Line, ODS e ESG podem soar como clichês, mas estão efetivamente transformando o mundo e conquistando pessoas. Vamos seguir essa dieta em casa, nas empresas e nos governos e teremos um futuro sustentável, além de um discurso sexy!!

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