Quando você pensa no Japão, você o associa com neve? A maioria das pessoas não. Contudo, sabia que o país é um dos que mais neva no mundo? Há um fator bem curioso por trás disso. Algumas cidades japonesas estão entre as que mais acumulam neve no planeta. O Nihon (Japão em japonês) é um excelente destino de inverno, repleto de experiências únicas da estação.
Visitar o Japão por si só é um sonho comum a muitas pessoas. O país experimenta as quatro estações bem definidas, e essa demarcação é bem documentada e refletida na cultura, nos costumes, nas festividades, na gastronomia e na arquitetura por todo o arquipélago. Os lugares se transformam a cada estação, e visitá-los em diferentes épocas do ano é um verdadeiro presente.
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Conhecer o Japão no inverno nos proporciona novos recortes que colaboram na construção de uma imagem de um Japão diverso e complexo. Apesar de estar em uma latitude similar à da Itália, a geografia do país favorece o acúmulo de neve. Mas, de onde vem tanta neve?
A origem da neve
Durante os meses do inverno, certas partes do Japão recebem algumas das maiores quantidades de neve em todo o planeta. Isso ocorre devido a uma característica geográfica bem peculiar.
Massas de ar continentais, seco e gélido, sopram da Sibéria e alcançam o Mar do Japão, onde arrastam consigo uma grande quantidade de umidade da sua superfície. Essa umidade se transforma em nuvens, e, ao chegarem à costa do Japão, encontram a cadeia central de montanhas. Os ventos impulsionam essas massas, que se chocam com as montanhas e são comprimidas ao serem empurradas para cima. Devido às temperaturas negativas, toda essa umidade condensa e cai em forma de neve em grandes quantidades.
Observe o mapa do Japão no inverno e as regiões onde ocorre precipitação em forma de neve:
Vivenciando o inverno japonês
No Japão a temporada de neve é longa. Em algumas regiões, começa a nevar em novembro podendo durar até maio, com o pico ocorrendo em fevereiro.
Tóquio, Quioto e Osaka podem receber pequenas quantidades de neve de tempos em tempos, entretanto, oferecem rápido acesso às montanhas e áreas com maior volume de neve.
Além das atividades de inverno já conhecidas, como esqui, caminhadas na neve, gastronomia sazonal, hospedagem em cenário invernal e observação de vida selvagem, o Japão oferece outras possibilidades bem interessantes e únicas.
Caminhar por praias cobertas de neve, contemplar o espetáculo do gelo marinho à deriva no Mar de Okhostk, relaxar em fontes termais e hospedar-se em templos budistas envoltos em um cenário branco, observar de perto os macacos de Nagano que se banham em águas quentes, participar de festivais do gelo como o de Sapporo, percorrer rotas alpinas em diferentes modais, acompanhar a produção de sakê, provar alimentos sazonais com técnicas ancestrais e ver de perto a arquitetura gassho-zukuri com seus telhados íngremes de duas águas cobertos com palha de arroz.
Historicamente, o Japão desenvolveu uma relação muito íntima de veneração da natureza. O silêncio do inverno e a beleza calma da neve são associadas a forças misteriosas. Por esse motivo, diversos rituais xintoístas são realizados no inverno. Há diversos matsuri (festivais) pelo país, a construção de kamakura (iglus de gelo) em regiões mais ao norte, o festival de Setsubun em fevereiro e o Omiwatari, fenômeno natural interpretado como a passagem de divindades locais pela superfície congelada do lago Suwa.
Além disso, é no final de fevereiro que florescem as perfumadas e coloridas ameixeiras, trazendo as primeiras cores do ano e lembrando que a primavera está chegando.
Ano Novo no Japão
O Oshogatsu, o Ano Novo japonês, é celebrado na virada do ano e carrega consigo rituais bem específicos. É uma época em que “o Japão é bem Japão.”
Milhares de pessoas viajam para rever seus parentes e muitos serviços são interrompidos temporariamente. O país entra em uma pausa entre os dias 29 de dezembro e 4 de janeiro.
É realizada uma grande faxina em família, o osoji. Após a limpeza, casas e estabelecimentos são decoradas com kodamatsu (arranjos feitos com bambu e ramos de pinheiro) para simbolizar longevidade, vitalidade e fortuna. Kagamimochi (uma oferenda com dois mochi e uma tangerina) é posto em casa, e os shimekazari (guirlandas trançadas com palha e papel decorativo) são penduradas nas portas para convidar e dar boas-vindas às deidades da fortuna e espantar os maus espíritos.
No final do dia 31 de dezembro, come-se toshikoshi soba (macarrão de trigo-sarraceno especialmente preparado para o fim de ano) simbolizando o desejo de uma vida longa e o conceito de deixar as coisas para trás (enquanto você engole o macarrão e o esquece). Um pouco antes da virada do ano, acontece o joya no kane, momento em que os sinos badalam 108 vezes em alusão à purificação dos 108 desejos mundanos. O último badalo coincide com o início do ano.
No primeiro dia do ano, os japoneses acordam cedo para ver o primeiro raio de sol, chamado de hatsuhinode. Comem o ozoni (sopa do primeiro dia do ano) e o osechi ryouri (refeição com diversos ingredientes, onde cada um representa um significado importante).
Por fim, realizam o hatsumode a primeira visita ao templo no novo ano, entre os dias 1 e 3 de janeiro.
Há também outra celebração importante de Ano Novo que acontece anualmente entre janeiro e fevereiro: o Ano Novo Chinês. Nagasaki, Kobe e Yokohama possuem históricas Chinatowns e importantes celebrações. Essas cidades portuárias receberam grandes fluxos de chineses que se estabeleceram no país nos séculos passados. Atualmente, a maioria dos chineses e seus descendentes que residem no Japão, vivem em grandes cidades como Osaka, Yokohama e Tóquio. Todas essas cidades têm alguma forma de celebração do evento.
Alguns cuidados
Por conta do grande acúmulo de neve em algumas regiões é necessário planejar a viagem com um pouco mais de atenção durante o inverno. Imprevistos podem acontecer. Nevascas e grandes volumes de neve podem atrasar e até mesmo cancelar voos, ônibus e trens.
Em anos de La Niña, fenômeno climático de resfriamento das águas em algumas partes do Oceano Pacífico, há chances de um inverno mais rigoroso no Japão e, resultando em uma maior probabilidade de acúmulo de neve.
Quem visita o país no inverno e pretende ir a regiões com neve precisa monitorar as condições climáticas e logísticas. Como sugestão, acompanhe o site da Agência Meteorológica do Japão (JMA), os sites regionais da Japan Railway (JR Hokkaido, JR East, JR Central, JR West, JR Shikoku e JR Kyushu), além dos sites dos aeroportos e estações de esqui das regiões destino ou de passagem.
Caso escolha passar o Ano Novo no Japão, lembre-se que entre os dias 29 de dezembro e 4 de janeiro há um grande fluxo no turismo doméstico e muitos serviços encerram temporariamente. Recomenda-se reservar hotéis e passagens com antecedência.
Aproveite o Japão nessa linda época do ano.