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Design para refletir

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11.12.2019
Slow design, um movimento que vai além do respeito ao tempo das coisas. Sugere a reflexão sobre materiais, técnicas, processos e necessidades
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O tempo todo nos queixamos da falta de tempo. E embora a decisão de dar tempo ao tempo esteja em nossas mãos, não nos damos esse tempo. E é justamente nesta paradinha, e somente nela, que somos capazes de refletir. Reflexão necessária para que pensemos se uma compra faz realmente sentido, se, num processo de criação, estamos usando os materiais mais adequados, se o produto idealizado tem propósito envolvido... Slow design é mais do que um produto feito demoradamente. É um produto que carrega valores, fruto de pensamentos sobre resgate de técnicas, colaboração, sustentabilidade e durabilidade. E, claro, sobre o fazer com calma, ou melhor, o fazer com alma. Sutilezas que nos fazem criar vínculos mais afetivos com os objetos, mesmo que não saibamos o motivo.

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A designer têxtil Ana Vaz criou esta instalação para a Casa Cor de BH, em 2018. A mostra aconteceu num prédio histórico, que já foi a sede da rede ferroviária de Belo Horizonte. Inspirada por esta informação, Ana criou uma rede de tricô feita de palha de seda pura, que abriga cerca de 200 kg de carvão. O local passará a abrigar um centro cultural e a instalação, assim como a ambientação, criada em parceria com o arquiteto Alexandre Rousset, foram mantidas (Créditos: Jomar Bragança e Leca Novo)

“O slow design pra mim, vem de uma autoconsciência, do propósito com o trabalho”, diz a designer têxtil mineira Ana Vaz. Ana largou a carreira na área de marketing para se dedicar ao fazer manual, às tramas. Algo que fizesse mais sentido com os seus sentimentos e valores. Usa conceitos do tricô, do crochê e do tear combinados a materiais pouco prováveis, unindo passado e presente com espírito inventivo. Suas criações vão de objetos a instalações, roupas e acessórios, desenvolvidos para grandes marcas, mostras, grifes ou mesmo para comunidades. História semelhante é a da designer Inês Schertel. Ela largou São Paulo para viver numa fazenda de criação de ovelhas em São Francisco de Paula, interior do Rio Grande do Sul, em meio a uma mata nativa de araucárias. Foi lá que ela encontrou seu novo propósito e passou a criar peças com design genuíno, valendo-se de um processo tradicional, mas inovador no resultado. “Participo de todas as etapas de desenvolvimento e, por isso, chamo meu processo de slow design. Não tanto pelo tempo que leva pra produzir uma peça – que leva bastante! –, mas pela maneira que me relaciono com o tempo das coisas acontecerem no campo. As ovelhas precisam ser bem cuidadas e tratadas para crescerem saudáveis e me fornecerem lã. As folhas e cascas, que uso no tingimento, funcionam de maneira diferente de acordo com a estação do ano. Os liquens e musgos precisam crescer. Cada coisa ao seu tempo e cada etapa com seu storytelling”, conta ela.

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A poltrona Areia Leve, design da Plataforma4 para a Líder Interiores, ganhou a intervenção Casulo da designer têxtil Ana Vaz, que desenvolveu uma trama feita à mão com fios de seda natural. O sentar torna-se um convite para uma experiência sensorial. Ao ser abraçada pela trama, a pessoa torna-se bicho-homem-seda (Créditos: Jomar Bragança e Luiza Ferraz)

Quando criança, ao brincar no jardim, o designer inglês Gavin Munro conta, em seu site www.fullgrown.co.uk, que notou um bonsai coberto de vegetação, que lembrava uma cadeira. A imagem permaneceu em sua mente por 25 anos. Em um período da sua vida teve muito tempo para pensar, pois passou por várias cirurgias para endireitar a coluna. Neste momento, germinaram as primeiras sementes do que seria a Grown. Gavin criou uma espécie de “fazenda de criação de móveis e objetos”. Ele planta as árvores e guia o crescimento das mesmas em formas impressas em 3D para que troncos e galhos assumam a forma de cadeiras e luminárias. Assim, o tempo das peças ficarem prontas é o tempo do desenvolvimento das árvores, que pode chegar a oito anos. E acredite: há uma longa lista de espera por suas criações. E o motivo é simples: as peças de Munro aproximam a arte da natureza de uma forma respeitosa. “Os móveis Grown desafiam a forma como criamos produtos. Têm um apelo tátil, visceral e orgânico”.

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Fruteiras de crochê de palha de seda com fio de inox e estrutura de metal, dobradinha dos estúdios Ana Vaz e Alva Design (Crédito: Studio Tertúlia)

Como resistir a uma peça com uma bela história por trás? Quem adquire um produto feito à mão, sabe que alguém colocou sua energia e alma ali. Isso contribuiu para se criar uma relação mais duradoura com o objeto. Ana conta que sua alegria e afeição ao fazer contagia o trabalho. “Busco o melhor acabamento possível, a melhor durabilidade porque quero que as pessoas tenham o produto enquanto elas escolherem terem aquilo nas suas vidas. Não quero que a coisa se acabe enquanto a pessoa ainda a está desejando”. E completa: “o slow design é essa tomada de consciência, onde eu me vejo, me percebo, percebo o outro. Porque se perdemos isso, passamos a desumanizar, como se fôssemos máquinas... Aí, perdermos nossa alegria, nossa sanidade e adoecemos.”

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A designer Inês Schertel em meio ao seu rebanho, na fazenda localizada em São Francisco de Paula, RS (Crédito: Divulgacão)
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Luminária Marga, feita de 100% em lã de ovelha. Todo o processo é desenvolvido pela designer Inês Schertel: da tosca à produção dos fios até a criação do produto (Crédito: Divulgação)
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Cesto produzido em lã de ovelha pela designer Inês Schertel (Crédito: Divulgação)
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Inês mexendo nas lãs que darão forma a cestos, assentos de bancos, luminárias e outros objetos. Todo o processo de produção é manual e as peças são desenvolvidas uma a uma (Crédito: Divulgação)
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“Plantação” de cadeiras da Full Grown, marca do designer inglês Gavin Munro. Ele usa moldes criados em impressoras 3D para tutoriar o crescimento das árvores no formato de cadeiras e até luminárias (Crédito: Divulgação)
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O designer Gavin Munro e uma de suas cadeiras “colhidas”. Cada peça demora de 4 a 8 anos para ficar pronta (Crédito: Divulgação)
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Cadeira Leafy, de Gavin Munro para a Full Grown (Crédito: Divulgação)
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Simone Quintas
Colunista
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