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Espaço Motirõ - CASACOR SP 2023 (Foto: André Mortatti)

Contratar arquiteto é coisa de rico?

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15.09.2023
Carol Bernardo e Tamires de Alcântara, colunistas do Archtrends, exploram como arquitetos podem - e devem - fazer projetos acessíveis à população brasileira
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Recentemente passamos a nomear nossas primeiras reuniões com clientes de “Reunião de acolhimento”, sugestão da Letícia Bemfica, também arquiteta e urbanista, especialista em branding e criação de conteúdo, fundadora do Me dá uma ideia. Essa mudança simples, mas tão significativa, resume muito bem a intenção do nosso trabalho nesse primeiro contato com o cliente: acolher seus desejos, as necessidades para o tão sonhado projeto, aliados às suas condições financeiras.

Para ouvir o artigo completo, clique no play abaixo:

E é desse ponto de reflexão que partimos para esse artigo: orçamento como diretriz de projeto. Um assunto que está constantemente no dia-a-dia do arquiteto e é tão pouco debatido. Será que é por isso que muitos pensam que contratar um arquiteto é um luxo? Um serviço para poucos?

Depois de alguns anos projetando casas, sabemos que a realidade do cidadão médio brasileiro é de uma lista extensa de necessidades para transformar sua casa com um orçamento bem enxuto, o que não deve ser motivo de constrangimento. Pelo contrário, para a maioria das pessoas o dinheiro reunido significa muito tempo e esforço dedicados.

Se para alguns poucos brasileiros dinheiro não é um problema, para grande parcela da população a casa é o maior investimento financeiro da família, por isso é tão importante que nós arquitetos saibamos da responsabilidade colocada em nossas mãos. A relação de confiança entre arquiteto e cliente é o caminho para uma conversa franca sobre quanto se tem pra gastar, tema para se tratar logo no início do processo.

Por mais que alguns ajustes de custo possam ser feitos durante a execução de obra, é na fase de projeto que as decisões mais importantes para os custos são tomadas. É fundamental entender o orçamento disponível como uma das diretrizes do projeto e encontrar soluções técnicas que aliam sustentabilidade, durabilidade, estética, conforto e baixo custo exige uma forma de projetar horizontal, flexível, criativa e sensível.

Arriscamos dizer que nem todos os arquitetos estão aptos a desenvolver projetos com baixo orçamento, seja para construir ou reformar. Em primeiro lugar, porque os cursos de arquitetura são estruturados e pensados por - e para - gente que sempre teve todos os acessos que o dinheiro proporciona, distantes do que é popular. A academia falha ao formar arquitetos que não estão aptos a enfrentar as reais demandas de arquitetura do povo brasileiro.

Em segundo, porque os arquitetos em sua maioria pertencem à elite, não têm interesse em “furar a bolha” e seguem repetindo o mesmo padrão de arquitetura das gerações anteriores: onerosa, ostentosa, insustentável e exclusiva. Essa dinâmica tende a mudar à medida que o acesso à universidade se amplia, com mais diversidade no corpo docente e discente.  

Se cursar arquitetura já foi exclusividade de brancos ricos, hoje não é mais.

Para quem quer refletir sobre uma arquitetura “popular”, no sentido de ser acessível para a maior parte da população, nós consideramos cinco pontos muito importantes: comunicação, materialidade, técnicas construtivas, soluções projetuais eficientes e estética. 

  1. COMUNICAÇÃO: Entendendo a realidade de cada família com uma conversa clara, acolhedora e pautada na escuta: Como o orçamento será levantado? Integral ou parcialmente? Há condições de executar todo o projeto de uma vez? Precisaremos definir etapas de construção? E é a partir disso que o projeto se estrutura. 
  2. MATERIAIS: Etapa de definir materiais amplamente disponíveis no mercado e de fácil aquisição, considerando o reuso e durabilidade. Na maioria das vezes é a própria família que fará a manutenção diária dessa construção, no intervalo entre a jornada de trabalho e as horas de descanso. Então, é importante priorizar acabamentos que facilitem e minimizem o tempo gasto na limpeza da casa.
  3. TÉCNICAS CONSTRUTIVAS: É mais fácil encontrar mão de obra apta a executar quando as técnicas construtivas são de conhecimento local, principalmente considerando soluções que moderem o desperdício e o impacto ambiental. 
  4. SOLUÇÕES PROJETUAIS EFICIENTES: Propor arranjos espaciais que reduzem a área construída, promova a versatilidade dos espaços e a possibilidade da execução em etapas contribui para a redução dos gastos gerais da obra. 
  5. ESTÉTICA: O entendimento do que é “belo” ou “feio” é relativo, pode variar entre os grupos e é compreendido a partir de vivências e referências adquiridas do meio em que estamos inseridos. Nesse processo é muito importante respeitarmos as referências estéticas de cada família, entendendo que esses símbolos podem conter um valor afetivo, simbolizar uma lembrança familiar ou uma conquista.  

Exemplos não faltam de projetos que respondem a esses cinco pontos que citamos acima. Ster Carro é arquiteta e urbanista e presidente do projeto Fazendinhando, iniciativa social que ajuda uma comunidade da zona oeste de São Paulo a melhorar a qualidade de vida de famílias através da moradia. 

Na última CASACOR São Paulo, o Beiral visitou seu ambiente na mostra, nomeado de Espaço Motirõ

Espaço Motirõ - CASACOR SP 2023 (Foto: André Mortatti)

De maneira criativa e impactante, a arquiteta provou em apenas 34 m² que é possível planejar a casa popular totalmente aliada à assistência técnica. De cara, o ambiente gerava uma grata surpresa em quem o visitava: funcionalidade, praticidade, sustentabilidade, estava tudo ali. 

Dentro do ambiente, o revestimento utilizado era o mesmo para pisos e paredes, tanto na cozinha quanto no banheiro, uma maneira de otimizar o tempo de instalação e o custo com a aquisição de diferentes materiais. 

A multiplicidade de uso dos ambientes, banheiro-lavanderia, sala de jantar-escritório, é uma solução para cortar os custos de obra da área construída.  

O ponto visual do lugar, um armário em madeira pinus, que é uma madeira de fácil aquisição, barata e sustentável, planejado modularmente para aproveitamento total das placas. Esse armário se estendia ao longo de todo espaço, integrando a entrada ao final do ambiente, mesmo com área reduzida as possibilidades de estocagem eram muitas.  

E em cada porta desse armário: identidade! O grafismo indígena desenhado com canetinha em adesivos por Waxamani Mehinako, artista da aldeia Kaupüna, região do Alto Xingu (MT), símbolos inspirados na fauna brasileira e utilizados tradicionalmente em pinturas corporais. 

Como trouxemos em Quando a arquitetura simples é a melhor solução: “Quando discutimos a arquitetura residencial de pequeno porte estamos falando do presente e, principalmente, do futuro. O impacto da construção civil, a demanda habitacional e o problema socioambiental que as cidades espraiadas representam são todas questões interligadas e que precisam ser encaradas de frente. A era do desperdício precisa acabar e a arquitetura é parte dessa mudança”

Enxergar a arquitetura como objeto de transformação social e qualidade de vida também é abrir os olhos para as questões de moradia no país. A arquitetura é para todos!

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  1. Exatamente se o profissional de arquitetura abrir espaço para atender a classe popular seria ótimo .

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