Para os ocidentais, uma tigela para colocar arroz. Para os orientais, um utensílio em que dentro “existe todo um universo”. Na cultura japonesa, o chawan é um objeto básico que não pode faltar na cozinha. Lá na sua origem, era usado na cerimônia do chá não apenas para colocar a bebida, mas apreciar sua beleza fazia parte do ritual. Com uma forma singela e atemporal, o chawan tem desafiado ceramistas, há séculos, a criarem peças que sejam funcionais e artísticas ao mesmo tempo.
No ano em que se comemoram 110 anos da relação nipo-brasileira, ainda nos surpreende saber que o Brasil abriga a maior população de origem japonesa fora do país asiático. São cerca de 1,6 milhão de nikkeis – descendentes não nascidos no Japão – por aqui. Natural que São Paulo, ao lado de Londres e Los Angeles, seja uma das sedes da JAPAN HOUSE pelo mundo. O espaço, idealizado pelo governo nipônico como ponto de difusão de sua cultura para a comunidade internacional, é capaz de produzir grandes oportunidades e atrair visitantes que desejam vivenciar novas experiências e atividades, como é o caso do Chawan Project.
Com curadoria da artista Hideko Honma, o evento contempla um ciclo de oito palestras, quatro já realizadas, com ceramistas japoneses convidados por ela. Pela primeira vez reunidos, o time vem apresentando suas histórias e técnicas, dentro da evolução da cerâmica, mas, acima de tudo a filosofia DÔ e a estética.
O próximo encontro na JAPAN HOUSE acontece nesta quarta-feira dia 24, às 19h, com Shugo Izumi. Segundo Kátia Shimabukuro, integrante da organização, o Chawan Project tem sido um sucesso: “A sala tem capacidade para 150 pessoas e temos tido lotação máxima toda vez. Todos têm gostado muito, tanto que estão voltando para as palestras seguintes. O público consiste em grande parte de ceramistas e interessados em arte e filosofia japonesas”.
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É o caso de Lilian Malta que, sem descendência oriental, se define como uma “iniciante no mundo da cerâmica”. Através de Hideko Honma, com quem tem aulas de torno há 30 meses, ela conheceu o projeto e fez questão de participar de todos os encontros realizados até então. “A iniciativa foi pioneira, quer pela feliz escolha de seu tema, quer pela reunião dos renomados artistas palestrantes. Como aluna ceramista está sendo uma oportunidade incrível conhecer um pouco da técnica dos artistas, manusear suas peças e ter a confirmação que o caminho da cerâmica possui um potencial infinito”, analisa Lilian.
Em cada apresentação, os ceramistas vêm destacando como a simplicidade e a complexidade do chawan são traduzidas através de seu design minimalista, orgânico e sofisticado, o qual também contém as raízes da história e da formação de um povo. A partir disso, fica mais fácil entender como o chawan faz parte da narrativa de cada japonês, da infância à velhice, nas alegrais e nas tristezas. Quem o confecciona, portanto, carrega grande responsabilidade e a missão de desenvolver a disciplina e o aperfeiçoamento constante.
Os ceramistas profissionais que fazem parte do Chawan Project, Shoko Suzuki, Kenjiro Ikoma, Akinori Nakatani, Kimi Nii, Shugo Izumi e Mitsue Yuba, nasceram no Japão, mas exercem sua profissão no Brasil. Na abertura do ciclo de palestras, o professor Shouichi Hayashi, do Centro Shado Urasenke, discorreu sobre a história do chawan, seu uso e deu um panorama geral sobre estilos e fornos japoneses, enquanto o chef Jun Sakamoto fez uma performance em tempo real. Para encerar o ciclo, uma mesa-redonda, mediada por Jo Takahashi, está prevista com todos os participantes.
Apesar de os países manterem um laço forte, a cerâmica por aqui ainda é rotulada, na maioria das vezes, apenas como artesanato. “Tenho a impressão que, no Brasil, a cerâmica ainda vive sua infância, sem formação acadêmica, bibliografia em português ou nacional”, desabafa a ouvinte e aluna Lilian Malta. Em meio a um mundo onde as coisas simples da vida estão ficando em segundo plano, uma iniciativa como o Chawan Project é corajosa e admirável por despertar um novo olhar sobre a arte da cerâmica.
CHAWAN PROJECT 2018 // 5º encontro
JAPAN HOUSE São Paulo – Avenida Paulista, 52
Data: 24 de outubro de 2018
Horário: das 19h às 20h
As senhas deverão ser retiradas 1h antes na recepção
Próximos encontros:
- 16 de novembro das 11h às 12h – Mitsue Yuba;
- 15 de dezembro das 11h às 13h – Mesa-redonda.