Athos Bulcão (1918-2008) ensaiava desenhos ainda criança, sem chamar a atenção da família. Talvez por isso, em 1939, decidiu interromper o curso de Medicina para se dedicar integralmente às artes. A mudança radical deu tão certo que, cinco anos depois, ele fez sua primeira exposição durante a inauguração do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Hoje, após anos de trabalho criando desenhos únicos, suas obras são consideradas a “cara” de Brasília e uma verdadeira escola da azulejaria moderna.
A trajetória do artista, que completaria 100 anos no último mês de julho, pode ser notada por todo o país, mas principalmente ao passear pelos principais pontos turísticos da capital brasileira. Muitos dos seus trabalhos foram realizados em parceria com outros ícones da arte moderna, como Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Lúcio Costa. Foi pela amizade e influência deles, inclusive, que o artista transformou a região em uma galeria de arte.
As obras que destacam o “concreto” da arquitetura brasiliense podem ser vistas nas treliças coloridas do salão do Itamaraty ou, ainda, no Teatro Nacional Cláudio Santoro, com os relevos que revestem as paredes laterais do edifício. Este último, realizado junto a Oscar Niemeyer, que sempre fez questão de ter uma integração entre a arte e a arquitetura por meio da azulejaria.
A parceria continuou em projetos como os painéis de azulejos e vitrais da Igrejinha de Nossa Senhora de Fátima e do Brasília Palace Hotel. Também desenvolveu o projeto de pintura do teto da Capela do Palácio da Alvorada. Convidado pelo pintor Cândido Portinari, Athos Bulcão trabalhou ainda como assistente em Belo Horizonte durante a execução do painel de São Francisco de Assis, na famosa Igrejinha da Pampulha, que hoje é vista como um cartão-postal da cidade! Veja as imagens abaixo:
Pelo importante legado que deixou, seu centenário foi comemorado por todo o Brasil, com exposições e eventos. Alguns ainda podem ser conferidos, como no Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo, que oferece uma imersão na vida do artista até dia 15 de outubro. Na Fundação que leva o seu nome, em Brasília, a celebração acontece com uma exposição de fotografias de obras e o lançamento de um conjunto de lenço e azulejo comemorativo. Já o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) homenageia com a reedição de livro fruto do seu inventário. E, na próxima semana, a Portobello também apresentará novidades em seus produtos inspirados no artista (fique de olho no Archtrends!).
Por falar em inspiração, as obras de Athos são fortes referências para os profissionais da arquitetura e design no mundo todo. Para a arquiteta brasiliense, Clarice Semerene, que divide trabalhos entre Brasília e Nova York, Athos ressignificou a tradição do azulejo herdada dos portugueses, ao trazer um elemento inusitado, de cores e formas geométricas, dentro da arquitetura modernista de Oscar Niemeyer. Um de seus projetos foi enaltecer uma parede de um ambiente com azulejos do artista. “Tivemos o desafio de tratar um pilar que existia entre a cozinha e a sala e o transformar com o painel que se tornou o ponto focal do projeto”, pontua.
Gostou de conhecer as principais obras desse ícone do design brasileiro? Agora é esperar por alguns dias para saber aqui no Archtrends o que a maior empresa de cerâmicas do Brasil também preparou para homenageá-lo! Aguardem!