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Casamentos reais britânicos: o que chama tanta atenção neles?

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25.05.2018
Você acompanhou o casamento do Príncipe Harry e Meghan Markle? Os casamentos da família real britânica são notícia no mundo inteiro, mas só aqui no Archtrends Portobello você fica por dentro da arquitetura das três igrejas mais famosas pelas cerimônias, além de curiosidades sobre o protocolo real britânico. Confira!
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Talvez você se lembre do dia 29 de julho de 1981. Foi o dia de um dos casamentos reais britânicos mais famosos da história, entre o Príncipe Charles e Diana Spencer.

Cerca de 700 milhões de espectadores assistiram à cerimônia ao vivo pela TV. Mesmo que você não fosse um deles, certamente conhece a história que o New York Times chamou de “um conto de fadas tornando-se realidade”. Como você já sabe, o final da história é triste. Mas a cerimônia permanece no imaginário popular como um evento quase mágico.

Em 2018, mais uma cerimônia encantou o mundo. Desta vez, entre o Príncipe Harry, filho mais novo da Diana, e a atriz norte-americana Meghan Markle. Inevitavelmente, você se deparou com algumas notícias sobre o casamento, certo? Mas, com seu olhar arquitetônico, o que provavelmente mais chama a atenção nessas ocasiões é a arquitetura fascinante das igrejas.

Neste post, você vai conhecer algumas particularidades do protocolo real britânico e se inteirar mais sobre a arquitetura de três igrejas importantes para as cerimônias da família real: a Abadia de Westminster, a Catedral de São Paulo e a Capela de São Jorge, em que o casamento do Príncipe Harry foi celebrado. Veja mais!

Os casamentos reais britânicos unem o tradicional ao moderno

Se você já foi a muitos casamentos tradicionais, sabe como os detalhes mudam, mas, em essência, as cerimônias guardam os mesmos princípios. Os noivos estão felizes, as famílias estão reunidas, os convidados estão bem-vestidos e, claro, no centro das atenções, há um belo vestido branco.

Algo que hoje parece tão tradicional foi uma inovação quando, em 1840, a Rainha Victoria entrou na Capela Real do Palácio de St. James vestida com um longo vestido branco. Ela não foi a primeira nobre a escolher a cor — em uma época em que o tom não era nada comum em casamentos —, mas é considerada a precursora mais importante dessa moda.

Para ela, a cor denotava pureza, mas a escolha ia além de mera preferência estética. Os fabricantes de renda estavam enfrentando dificuldades na Inglaterra daqueles tempos, e ela acreditou que poderia dar um incentivo à produção destacando a renda com um vestido alvo.

Entre mudanças e o protocolo real britânico

Esse é apenas um exemplo de como os casamentos reais britânicos, embora afeitos à tradição, têm brechas para inovações. Basta pensar no casamento da Rainha Elizabeth II, em 1947, o primeiro da história a ser transmitido ao vivo pelo rádio (e acompanhado por uma audiência de cerca de 200 milhões de ouvintes no mundo inteiro).

Ao longo do tempo, tradições do protocolo real britânico se mantiveram firmes nos casamentos reais. Desde a Rainha Victoria, é costume, por exemplo, que o buquê das noivas da realeza carreguem murtas, pequenas flores que crescem no jardim da Casa Osborne, antigo palácio real na Ilha de Wight. Os primeiros arbustos foram plantados pela própria Victoria e o marido.

No casamento do Príncipe Harry, não foi diferente. O buquê de Megahn Marckle incluiu um raminho de murta, mas com um toque a mais de sensibilidade: entre outras flores simbólicas, o arranjo foi composto por miosótis, as favoritas da mãe de Harry, Diana.

As inovações e sinais de modernidade são reparados nos detalhes. Em 2011, por exemplo, Catherine ‘Kate’ Middleton chegou à Abadia de Westminster para o casamento com o Príncipe William de limousine, em vez da tradicional carruagem utilizada nas cerimônias.

Mas há alguns pontos que permanecem os mesmos ao longo do tempo. Veja algumas curiosidades:

  • a Rainha Elizabeth II precisa autorizar a união de todos os descendentes. Caso contrário ela pode ser considerada nula perante a Lei 1772 de Casamentos Reais;
  • é costume que as convidadas usem chapéu durante a cerimônia;
  • geralmente, o noivo tem um histórico nas Forças Armadas, e usa um uniforme militar;
  • não há nada de jogar o buquê da noiva para as convidadas! As flores são depositadas sobre o Túmulo do Soldado Desconhecido, na Abadia de Westminster, em homenagem aos soldados ingleses;
  • a Rainha é a última a chegar ao casamento — e os atrasados simplesmente não entram.

Nos próximos tópicos, vamos chegar ao que mais nos interessa: a arquitetura!

Os casamentos reais britânicos são celebradas em igrejas fascinantes

A arquitetura inglesa é fascinante, como já exploramos em um post sobre o Palácio de Buckingham. Escolhidas pelos noivos, as principais igrejas em que os casamentos da família real são celebrados não ficam atrás, e são destaques entre as obras da Inglaterra.

Veja a seguir pontos célebres do país que já foram cenário das cerimônias reais!

Abadia de Westminster, ou Westminster Abbey

A Abadia de Westminster foi escolhida pela Rainha Elizabeth II no casamento com o Duque de Edimburgo, e também pela Princesa Kate, em 2011 — quando foi decorada por flores sazonais inglesas e bordos.

Reza a lenda que Seberto, o primeiro rei saxão a se converter ao cristianismo, foi o pioneiro na construção da igreja onde hoje é a abadia. O santuário, então chamado Thorney, teria sido consagrado pelo próprio São Pedro, e após algum tempo começou a ser chamado de West Minster (Igreja do Oeste).

Ao longo de inúmeras reformas durante um milênio, o ponto foi palco de todas as coroações inglesas desde o século XI (exceto a de Eduardo V, no século XV, e Eduardo VII, no século XVIII).

A arquitetura gótica

A arquitetura gótica que predomina na estrutura é escolha do Rei Henrique III, que, em 1245, reestruturou a construção que estava no local (e já havia passado por uma série de outras mudanças radicais) e adotou o estilo corrente na Europa daquele tempo.

O aspecto grandioso dos arcos, a aplicação de nervuras nas abóbadas e as rosáceas (janelas circulares com detalhes que lembram pétalas) são elementos evidentes da arquitetura gótica na abadia.

Mas, embora a semelhança com igrejas francesas, como a Notre-Dame, seja clara — afinal, a arquitetura gótica foi originada, justamente, do outro lado do Canal da Mancha — há toques particularmente ingleses na arquitetura da abadia de Westminster, como a moldura decorada dos arcos principais e a utilização do escuro mármore Purbeck no revestimento.

Ainda assim, ela é considerada por alguns “a mais francesa das igrejas góticas da Inglaterra”. A abóbada, projetada de forma a ampliar o espaço interior, é um marco da arquitetura do lugar, e a estrutura da abadia forma uma grande cruz.

Westminster abriga nove capelas diferentes, além do túmulo de alguns nobres, como o próprio Rei Seberto e Elizabeth I, e de grandes nomes ingleses, como o escritor Charles Dickens e o naturalista Charles Darwin.

Catedral de São Paulo, ou St. Paul’s Cathedral

A escolha da Princesa Diana pela Catedral de São Paulo não foi por acaso: ela tem capacidade para mais de 3.500 pessoas, contra as 2.000 que a Abadia de Westminster comporta. Na época, foi escolhida para privilegiar o espetáculo — o casamento não foi o primeiro a ser televisionado, mas foi o primeiro em que o público pôde acompanhar toda a cerimônia ao vivo, inclusive os votos.

A reportagem de capa do dia seguinte do New York Times, de 1981, descreve o clima no interior da igreja: “Brilhantes luzes de televisão banhavam os mosaicos reluzentes nos arcos em frente à nave da igreja”.

A estrutura atual da catedral é fruto de uma reforma feita no século XVII, após o Grande Incêndio de 1666, que destruiu 80% da parte central de Londres. A reforma ficou por conta de Sir Christopher Wren, britânico que ficou conhecido como o maior destaque da arquitetura inglesa naquele tempo.

New York Times remonta a história complicada do projeto até ele chegar à forma que tomou. Originalmente, o rei e Wren concordavam em um design inspirado em uma cruz grega, mas o clérigo local considerava o formato muito semelhante ao da Catedral de São Pedro, em Roma, e portanto “muito simbólico do catolicismo para a Inglaterra protestante”.

A catedral é a única das grandes igrejas da Europa desse período que foi desenhada por apenas um arquiteto e cuja obra foi concluída enquanto ele estava vivo. Wren foi enterrado na própria igreja, sob um epitáfio que resume bem a grandiosidade do lugar: “Leitor, se você procura por um monumento, olhe ao redor” (no original em latim, “Lector, si monumentum requiris, circumspice”).

A obra, em estilo barroco, foi a primeira catedral do mundo a ter uma estrutura de três domos. Esse arranjo permite que o domo interno seja muito mais alto e acompanhe a arquitetura interior, já que a sustentação é garantida por outro domo, acima dele. Esse segundo domo — um cone de tijolos — é também o que permite que o exterior seja mais largo e imponente.

Também é notável o trabalho com a acústica, fruto de um novo pensamento sobre como as igrejas protestantes (após o Grande Incêndio) deveriam ser construídas — com capacidade para que todos os presentes ouçam perfeitamente as palavras do sacerdote.

Um exemplo extremo dessa acústica é a Galeria dos Sussurros, sob o domo central. A inclinação das paredes, que se aproximam no topo do domo, faz com que menos som chegue ao ponto superior da estrutura, o que o deixa “preso” na galeria. Esse aspecto arquitetônico permite que mesmo o mais baixo sussurro seja completamente audível do outro lado da sala, 33 metros distante.

Capela de São Jorge, ou St. George’s Chapel

Dificilmente poderíamos chamar um casamento real britânico de “intimista”, mas a escala da cerimônia de união entre o Príncipe Harry e Meghan Markle definitivamente é bem menor do que espetáculos anteriores, como o da Princesa Kate. A igreja escolhida pelo casal foi a Capela de São Jorge — ou St. George’s Chapel, que tem capacidade para 800 pessoas, um número bem discreto, comparado à capacidade para 2.000 convidados da Abadia de Westminster.

Não foi a primeira vez que o Príncipe Harry compareceu à capela de São Jorge para uma cerimônia importante: ele foi batizado nela em 1984. O local tem muita história:  é parte do Castelo de Windsor — maior e mais velho castelo em atividade no mundo.

A arquitetura do Castelo de Windsor

A construção do castelo remonta ao início do século XI, por ordem do Rei Guilherme I (Guilherme, o Conquistador). Em um monte às margens do Rio Thames, a obra é um dos castelos que rodeiam Londres, criado a princípio para reforçar a proteção a oeste da cidade.

A arquitetura original era a de um castelo de mota, uma inovação arquitetônica da Europa Medieval. Enquanto castelos fortificados com pedra já existiam há mais tempo, a estrutura das construções de mota era de madeira, e sempre erguida em uma região mais alta em relação ao ambiente ao redor — podendo até ser um monte artificial. Além das paliçadas de madeira circundando a obra em si, uma segunda cerca protegia os jardins, mais abaixo do castelo.

Em inglês, esse tipo de construção é chamado de motte and bailey, em referência às duas estruturas principais que o compõem: o motte (monte) e o bailley, a área dos jardins mais abaixo. Ainda que não siga mais a estrutura amadeirada de um castelo de mota tradicional, é possível perceber traços dessa arquitetura até hoje no Castelo de Windsor: o monte artificial em que a icônica Torre Redonda foi construída é remanescente daquele período.

Ao longo de mais de um milênio de história, o castelo passou por diversas reformas e adaptações. O aspecto atual da construção começou a se definir no século XII, quando Henrique II substituiu a estrutura de madeira por uma estrutura de pedra — os castelos de mota começavam a declinar em toda a Europa, devido à deterioração a que a madeira estava sujeita e às dificuldades para se construir os montes artificiais.

No século XIV, Eduardo III converteu a estrutura, então uma fortificação militar, em um palácio gótico, gastando mais do que qualquer monarca inglês despendeu em uma única obra. Foram incorporados aspectos da arquitetura gótica — que exploramos no tópico sobre a Abadia de Westminster. Durante o século XIX, eles foram ressaltados com a adição de torres e reforço da alvenaria de pedras.

As pedras, aliás, são a matéria-prima principal do castelo, e estão presente nas paredes externas, nas 300 lareiras, no piso e nas várias gárgulas esculpidas a mão que adornam o exterior da obra.

A arquitetura da Capela de São Jorge

A arquitetura da Capela de São Jorge, ou St. George’s Chapel, forma o cenário perfeito para um casamento britânico — especula-se que até o Príncipe William teria preferido dizer “sim” à Princesa Kate na capela.

Ela começou a ser erguida no século XV por desejo do Rei Eduardo IV, especialmente como casa espiritual da Ordem da Jarreteira, a mais antiga e prestigiada ordem da cavalaria inglesa (inspirada no mito dos Cavaleiros da Távola Redonda do Rei Arthur). O Príncipe William, o Príncipe Charles e a Rainha Elizabeth II são membros, e espera-se que o Príncipe Harry junte-se a eles em breve.

Vários elementos que remetem à ordem estão presentes na capela. Cada cavaleiro expõe uma bandeira com o próprio brasão nas paredes, além de deixar na capela um capacete, um elmo e uma espada. Após a morte deles, essas peças são direcionadas à realeza, e resta na capela uma placa com o nome de cada um, como tributo.

Esse é apenas um dos detalhes particulares à decoração intrincada da capela, que é um dos pontos altos do estilo gótico perpendicular na Inglaterra. Esse estilo foi uma tendência no país entre o final do século XIV e o começo do século XVI, após as fases primitiva e decorativa do gótico.

O gótico perpendicular privilegia linhas verticais marcantes, especialmente no traçado das janelas. Elas são mais largas que nas fases anteriores do gótico, graças à utilização de arcobotantes, estruturas de sustentação que as ladeiam no exterior da obra. Na Capela de São Jorge, essas estruturas concentram-se nas janelas superiores.

Outra característica marcante do perpendicular gótico que a igreja do casamento do Príncipe Harry incorpora é a abóbada em leque, em que as nervuras de pedra irradiam do mesmo ponto.

No exterior, a arquitetura da capela também chama atenção. Ela é revestida por rochas Cotswold, que lhe dão um aspecto mais claro e delicado que o Castelo de Windsor, em que predomina o cinza. Para o casamento real britânico, o exterior da capela ficou ainda mais bonito com densos portais de peônia circundando as entradas — ornando com arranjos semelhantes no interior.

Com o casamento do Príncipe Harry e de Meghan Markle — agora, duque e duquesa de Sussex —, mais um capítulo de história foi adicionado ao lugar, que já é lendário. Nada menos que 10 reis britânicos estão enterrados no local.

Gostou de saber mais sobre a arquitetura da igreja em que aconteceu o casamento do Príncipe Harry? Compartilhe este post nas suas redes sociais e mostre que os casamentos reais também vão muito além das fotografias de celebridades, e também são um espetáculo de arquitetura!

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