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Projeto do time da arquiteta paisagista Ana Trevisan ( Lio Simas/ CASACOR)

CASACOR SC e a reinterpretação do morar

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13.08.2021
Com a pandemia em cena, profissionais traduzem o momento em ambientes com pouca cor e valorização do essencial à casa atual.
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A casa foi um dos grandes focos de atenção dessa pandemia que insiste em permanecer entre nós, ainda nos exigindo cumprir todos os protocolos de segurança sanitária e praticar o cuidado com o coletivo. A temporada da CASACOR Santa Catarina 2021, que acontece em Florianópolis, não poderia deixar de se tornar uma vitrine neste período que ressignificou conceitos e valores para boa parte das pessoas. Nesse recorte, o espaço privado é uma tradução do momento e, também, uma oportunidade para os profissionais reinterpretarem esse morar, considerando, ainda, o tema proposto: A Casa Original.

A mostra apresenta 21 projetos de interiores e paisagismo que ocupam as instalações do Espaço +UM, novo empreendimento na Rodovia SC-401 que inaugurou juntamente com a abertura da exposição. O time de profissionais vem de cidades como Joinville, Blumenau, Balneário Camboriú, Criciúma, Itajaí e Florianópolis. Além da visitação presencial – seguindo os protocolos sanitários e com a venda on-line de ingressos para controlar melhor a circulação – o público poderá conhecer os ambientes fazendo um tour virtual – acesse aqui  www.casacor.abril.com.br

Retrofit

O prédio passou por um retrofit com projeto do escritório MarchettiBonetti+. Foi reestruturado para uso corporativo, atendendo às demandas atuais por ambientes criativos, flexíveis, com múltiplas opções de serviço, jardim com áreas de descanso, e terraço com vista para o morro e a Baía de Santo Antônio de Lisboa. Sem grandes atributos arquitetônicos, uma das soluções foi manter a estrutura de alvenaria neutra e sobrepor uma camada visual com painéis em madeira com o objetivo de criar o que o arquiteto Giovani Bonetti chama de “novidade na volumetria pouco atrativa”. A edificação se conecta com o prédio vizinho, que não passou por reformas. A única intervenção foi pintar com tons neutros para mitigar a volumetria.

Pausa ao tempo vivido

O percurso pelos ambientes da mostra evidencia a busca por uma pausa ao tempo vivido. Paira no ar uma atmosfera leve, com menos elementos decorativos, pouca cor como representação de “respiro” – palavra muitas vezes dita pelos corredores da mostra - e a valorização de itens essenciais como conforto, luminosidade, materiais verdadeiros e, novamente, uma paleta de cores neutras e off-white dominando a cena. De uma maneira geral, essa é a tradução dos profissionais a esse momento pandêmico pelo qual ainda estamos passando.  Dois ambientes fazem referência às consequências do Covid-19 nas famílias dos arquitetos.

A CASACOR SC tem pouca cor em 2021. A maioria dos ambientes é claro, e o protagonismo é dos tons neutros. Tem exceções que trilharam o caminho inverso, apostando na leitura da casa original cheia de cor e referências nacionais. O conjunto da exposição é de elegância e sofisticação, em ambientes que apresentam escolhas análogas e onde se vê o uso predominante de madeira – seja natural ou processada - cestaria, fibras, pedras naturais e cerâmicas artesanais. As escolhas refletem a necessidade do ser humano em estar próximo da natureza dentro da sua própria casa.

Ambientes destaques da mostra

Camadas Brasileiras - “Vivo neste espaço a (re) interpretação dos sentidos, de como me construo como pessoa. Para mim o ambiente deve se manifestar de forma sinestésica. Busco trabalhar as relações entre luz e sombra, cores, formas, tramas e a verdade dos materiais”, pontua Juliana Pippi sobre o ambiente Camadas Brasileiras para a CASACOR SC. São camadas de tons terrosos no teto, nas paredes, nos objetos e no mobiliário. Um dos partidos para o projeto foi justamente a cor do teto “Camadas Brasileiras”, desenvolvida pela arquiteta para a Coral e que em breve será lançada no mercado. 

Casacor Santa Catarina 2021
Camadas Brasileiras traz um criterioso garimpo de peças artesanais, de design e arte feito por Juliana Pippi. A cor do teto, batizada de Camadas Brasileiras, foi desenvolvida pela arquiteta para a Coral (Foto: Marco Antonio)

Potente e impactante logo na chegada, o ambiente apresenta a criteriosa escolha da arquiteta, que não deixa escapar nada em seu garimpo por objetos, fotografias, obras de arte e peças de design: você vai ver Tarsila do Amaral, Shirley Paes Leme, Walmor Corrêa, Arnaldo Antunes, Marco Antônio, Gustavo Moreno, entre outros; e trabalhos de Inês Schertel, Domingos Tótora e a obra “Semente”, de Clara Fernandes, feita com papel craft, fio de seda e paina de embiruçu.

O ambiente tem cozinha/bar, estar e banheiro setorizados com soluções criativas como a “Cortina de Cobogó “em tijolo cerâmico Chelsea Dark Red, da Portobello. O item faz contraponto ao revestimento do piso e às paredes do lavabo em Dansk Concrete Mud 120x250. 

A arquiteta que tem realizado collabs com a indústria, mostra suas peças no ambiente: xales tecidos à mão e tingidos com pigmento natural rochoso assinado com a Pia Laus; mesa de centro em Bronzite natural vinda da Bahia; e sofá da linha “Camadas” em cambraia de linho natural com Studio Ambientes.

O lavabo é marcado pelo brilho aquarelado da coleção Gouache Mandarine, da Portobello, com tampo desenhado pela arquiteta e executado pela marca. Completam o ambiente, a luminária Canoa, de Ana Neute, e a parede de bronzite maciça em seu estado bruto.

Cosmopolitan Loft - projetado por Mariana Pesca, o loft  traz a leitura da arquiteta do modelo da mulher atual, poderosa, independente e dona de si, nas suas palavras, que encontra no espaço o que necessita: receber, cozinhar, trabalhar, relaxar e cuidar de si. O ambiente está entre os que escolheram o off White como sinônimo de leveza para esse momento, sendo revestido com lâminas amadeiradas no teto e nas paredes. No lado oposto, o contraponto: um volume com intervenção artística da arquiteta Camila Saavedra que indica o caminho de circulação até o charmoso banheiro todo revestido na cor Rosa Chá, que tem porta automatizada com comandos a partir de uma assistente virtual. 

Claro, o ambiente tem no piso um dos destaques que chama a atenção assim que se entra no Loft: trata-se do porcelanato Ipanema, uma collab do estilista Oskar Metsavaht com a Portobello.  A discreta cozinha chama a atenção ao esconder os equipamentos, mantendo a cena organizada e limpa. Entre as escolhas da arquiteta, destacamos: fotografias de Patrícia Vieira, sofá Pedras e bufê Pele da designer Roberta Banqueri, poltrona Lina do Studio Suite e peças do designer Guilherme Wentz.

[meu.coração.queima] - Objetos e elementos da casa brasileira - a rede, o cobogó, a cerâmica, o barro, o rosário - e as cores intensas do Brasil tropical, “bonito por natureza” como diz a música de Jorge Ben, são a representação de Jeferson Branco, de Balneário Camboriú, para o tema A Casa Original. 

A casa popular brasileira e seus elementos ordinários são inspirações para o arquiteto, que adiciona camadas sofisticadas à cena por meio do próprio desenho do projeto, da escolha de materiais e objetos, da tecnologia no mobiliário. O resultado é uma interessante mistura high-low, que diz muito sobre o repertório do arquiteto. Ao valorizar a cultura brasileira, Jeferson Branco pretende fazer do espaço da mostra um manifesto crítico a questões como a desigualdade social, o lambe-lambe “desMATAmento” sobre a Amazônia; o extrativismo sem controle dos nossos bens materiais.

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A narrativa da casa original na visão do arquiteto Jeferson Branco passa pela cultura brasileira. A mistura de revestimentos e objetos, num mix high low, traduz esse conceito no ambiente [meu.coração.queima] (Foto: Romário Couto)

Living Gourmet Respiro -  Respiro não foi somente o nome que a arquiteta Mariana Maisonave deu ao seu ambiente na CASACOR SC 2021. Respiro foi uma necessidade entendida a partir da tragédia coletiva que estamos vivendo com a pandemia. O pai da arquiteta é um sobrevivente da Covid-19 e o ambiente é uma leitura de Mariana a esse momento, além de uma homenagem ao pai. “Algumas experiências parecem vir para nos mostrar a necessidade de pausa e da tomada de consciência - um ‘respiro’ - para encontro do equilíbrio e daquilo que é essencial para nós: estar com quem amamos”, diz. 

Por isso, o predomínio dos tons claros e neutros, com apenas o essencial em mobília e alguns pontos de destaque: as luminárias e as Oliveiras atrás do sofá. O Living Gourmet Respeito tem 52m² de área com estar, jantar e cozinha separados pelo mobiliário e definidos ainda pelos revestimentos, que assumem papel de protagonismo. Destaque para as lastras Palissando, lançamento da Portobello, aplicadas de forma inédita no projeto: painéis em diferentes níveis estão sobrepostos e iluminados entre si. 

Rooftop 20 | 21  - A área externa do Espaço +Um tem projeto do time da arquiteta paisagista Ana Trevisan. São ambientes para a mostra que se caracterizam pela fluidez do espaço com soluções necessárias para curtir os ambientes externos com segurança e cuidado. O Rooftop 20 | 21 faz referência direta ao ano atípico que vivemos, apresenta dois terraços que somam 400m2 de área e tem na arte urbana do Cazão um dos focos de atenção. Os matizes de verde e laranja da vegetação predominam nas cores do mural.

Sala Íntima - Na 12ª participação na CASACOR SC, Anna Maya apresenta a Sala íntima, onde traz suas referências em arquitetura e arte. O living agrega home office e em seus 60m2 representa o próprio espaço íntimo de Anna. “Vou criar o meu espaço de trabalho em casa”, pensou.

Anna partiu para uma base neutra nas paredes e teto, arrematando com o piso Berliner Sand no formato 120x120, da Portobello, para trazer unidade. Mobiliário solto segue a mesma proposta, que é quebrada com elementos de presença: o tradicional círculo utilizado pela arquiteta em seus projetos, aqui surgem nos nichos do painel em ripas e no teto com iluminação embutida; o tapete produzido especialmente para compor o cenário, inspirado nos tons do pôr do sol; e a série de quadros com 18 colagens criadas pela artista visual Vanda Kair a partir das memórias de viagens de Anna, com fotos e recortes.

Quarto Suna – Suna, palavra japonesa para areia, é um convite ao descanso do corpo e da alma. Colocar os pés no carpete que reveste o espaço traz uma sensação rara e provoca o desejo de andar com os pés descalços. Suna/areia foi o partido para o projeto que oferece ao visitante uma atmosfera de calmaria, elegância e evidencia o traço arquitetônico do escritório OSA, de Blumenau, que alia senso estético à função. O revestimento das paredes também faz referência a areia, trata-se de um papel ecológico que será reutilizado após a mostra.

Um dos destaques é a Cama Orgânica, criação autoral da equipe do escritório para a marca de colchões Reveev. Com linhas arredondadas e tecido felpudo, a dimensão da cama foi projetada para incluir, num mesmo móvel, mesa de cabeceira com carregador de celular, assento e tatame para meditar. Tem ainda iluminação sensorial balizadora e caixas de som acopladas. 

Outros itens para prestar atenção: raízes residuais de uma árvore centenária de imbuia faz referência ao tema A Casa Original; o pendente Tombo, de Guilherme Wentz; a prateleira chanfrada em mármore Paraná com nove metros e mais de 40 vasos cerâmicos produzidos artesanalmente no Parque Nacional da Serra da Capivara, declarado pela Unesco Patrimônio Cultural da Humanidade; a poltrona Chifruda, de Sérgio Rodrigues que fica em frente a obra de Elizabeth Jobim; e arara Galho, metálica assinada pelo escritório de Blumenau.

Casa dos Pássaros - Voar entre as memórias e sempre ter onde pousar é a metáfora que permeia o espaço do arquiteto Tufi Mousse, em que descreve a relação entre o morador e a casa no mundo pós pandemia sob o seu ponto de vista.  “Nosso projeto apresenta um espaço de convívio para a família, os amigos e para os novos amigos. Um amplo ambiente de estar integrado à cozinha, como ela era na nossa visão lúdica de original. No sentido de pureza conceitual da forma e função assim como na origem ancestral. Sentimos a mudança ao nosso redor e a busca pelo suficiente, sem exageros e luxos insustentáveis. Entendemos como original aquilo que basta para nos sentirmos bem e sermos felizes”, explica o arquiteto o conceito do espaço e o seu entendimento sobre A Casa Original. 

A Casa dos Pássaros reforça o traço puro e limpo do arquiteto numa composição permeada por volumes que marcam janelas, o teto com uma grande luminária sobre a mesa, setorizam espaços como o pórtico na cozinha e a parede em ripas estruturadas para abrigar objetos. Destaque para a grande mesa de jantar desenhada pelo arquiteto, com escritório em Joinville e São Paulo, e que em setembro participa da edição paulista da CASACOR.

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Estar integrado à cozinha é a visão do arquiteto Tufi Mousse sobre A Casa Original. Menos artigos supérfluos no ambiente projetado para receber. Destaque para a mesa assinada pelo arquiteto, o pórtico marcando o espaço e a grande luminária sobre a mesa (Foto: Fabio Jr. Severo)
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No ângulo oposto à cozinha fica a confortável sala, com volumes que marcam as janelas, a parede em ripas para acomodar objetos e o conjunto com plantas como se fosse um jardim dentro de casa (Foto: Fabio Jr. Severo)

Loft Naturalle - A madeira Tauari, executada de forma artesanal, dá forma a uma caixa para acolher quarto e banheiro do Loft Naturalle, do arquiteto Michael Zanghelini. O cheiro amadeirado no ambiente mexe com a memória e extrai um suspiro! Como uma cabana de madeira, a suíte oferece conforto elevado ao nível máximo. Uma sutil iluminação corta pela metade o revestimento das paredes criando um ponto de atenção e relaxamento. O vidro canelado utilizado nas divisórias do banheiro está de volta depois de reinar nas décadas de 1940 e 1960. Retornam à contemporaneidade cheios de nostalgia.

Brise de madeira maciça faz a transição para o estar, onde placas de mármore sem acabamento nas bordas indicam a escolha do arquiteto baseada na valorização do descarte do material nas marmorarias. O forro de madeira tem iluminação que remete às casas antigas de madeira e suas imperfeições, uma memória que criou um efeito interessante no espaço. Contrapondo a esse passado rústico, tudo aqui é acionado por comando de voz ou por pontos. A cozinha arremata com cor o espaço e a proposta inusitada: um teto cheio de círculos vazados. 

Preste atenção na seleção de obras de artistas catarinenses: Eli Heil, Suely Beduschi, Vera Sabino, Rodrigo Cunha,  Juliana Hoffmann e Sara Ramos.

Casa Yugen - Yugen, uma expressão da estética japonesa que o arquiteto Gabriel Bordin se apropriou para definir o conceito do seu espaço: tem a ver com o que é profundo, abstrato, misterioso, nos lembra para enxergar além das aparências.  A Casa Yugen faz um convite não verbal para a contemplação, promove um jogo de luz e sombra como ponto alto do projeto para além do rigoroso desenho do arquiteto.  

Um espelho d’água logo na entrada traz o movimento e apresenta misturadores de parede para lavatório assinados por Jader Almeida. A parede de ardósia recebe obra do artista Rubens Oestroem.

A cozinha é a protagonista do ambiente, trazendo a ideia de simetria, desenho potente da bancada de linhas orgânicas e poucos elementos. 

BAIXE AQUI O GUIA PORTOBELLO NA CASACOR SANTA CATARINA 2021

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