Se a casa fosse um livro, quantos capítulos ela teria? A casa na esquina da rua Groenlândia com a Rua Atenas, em São Paulo, já foi cenário de muitos acontecimentos. Construída nos anos 1940, constituiu o lar de várias famílias nas décadas que se passaram. Um olhar atento percebe indícios de sua história: ampliação da casa principal, construção de garagem e anexo, mudança da rua de entrada, árvores de idades variadas.
Nos últimos anos, no entanto, o casarão ficou desocupado. Poderia ser o triste destino de tantas casas do século 20 que acabam abandonadas em bairros residenciais de São Paulo, consequência da violência urbana e da especulação imobiliária. Mas uma reviravolta inesperada mudou tudo no final de 2020. A casa ganhou um novo e feliz capítulo.
Os últimos meses foram cheios de vida na agora batizada Casa Mollde + Conteúdo_. Em vez de residência, o espaço se transformou em mostra de decoração permanente. Um local visitado por profissionais de arquitetura e seus clientes, onde é possível ver produtos e soluções, como móveis, obras de arte e eletrodomésticos, aplicados em uma casa real.
Os ambientes são amplos e integrados com o jardim que mais parece uma mata, em um dos bairros mais arborizados de São Paulo. Estima-se que uma das árvores seja centenária. A sombra das copas torna tudo fresco e, por um momento, é possível esquecer que se está no maior centro urbano do Brasil. Como um tesouro escondido atrás dos altos muros do Jardim Europa, que pode ser vivenciado não apenas pelos sortudos proprietários, mas compartilhado com mais pessoas.
Nos interiores, a atmosfera é acolhedora, em uma paleta de tons quentes de verdes, beges e rosas. Diferente de uma mostra de decoração tradicional, em que os projetos são mais espetaculares, a Casa Mollde chega a ser discreta. Encanta por sua naturalidade. É como se cada poltrona ou sofá convidasse para sentar e realmente sentir o espaço, em uma experiência que vai além do impacto visual.
Há peças de personalidade forte, como as esculturas têxteis da artista Eva Soban, as luminárias em cestaria da Biasa e as fotografias de Kiolo. No mobiliário, o sofá com design de Victor Leite e as cadeiras com design de Naná Mendes da Rocha, ambos fabricados pela Arte Nova. E eles justamente ganham destaque por serem dispostos pontualmente, sem exageros.
Mais de 40 marcas expõem seus produtos ali, mas não parece. “Um retorno que recebemos muito de quem visita é de que é uma casa possível, que a decoração parece espontânea”, explica Natasha Schlobach, diretora da Casa Mollde + Conteúdo_. Mais uma diferença das mostras de decoração tradicionais é que os ambientes não são assinados por vários profissionais de arquitetura. O projeto e a produção são do designer de interiores Newton Lima e a curadoria de mobiliário é do designer de produto Victor Leite - e isso vale para toda a Casa Mollde.
Um importante trunfo da dupla foi preservar a história da casa. Da mesma maneira que nenhuma árvore foi cortada no paisagismo, alguns bons elementos internos foram mantidos. Por exemplo, os pisos de taco de madeira do living e de mármore travertino no hall de entrada. Na escada, também original, o corrimão foi retirado, deixando marcas que não foram camufladas. Ainda, não houve mudanças estruturais.
“Aceitamos o repertório da casa. Entendemos que somos apenas um capítulo na sua história”, diz Natasha. É emocionante ver um precioso casarão antigo restaurado, belamente decorado e diariamente visitado. Um local que já abrigou tantas vidas, agora, mais do que nunca, vivo.
Serviço
Endereço: Rua Groenlândia, 1089, Jardim Europa, São Paulo
Visitação: mediante agendamento pelo e-mail contato@casamollde.com