Constantes mudanças nos acessórios e nas cores estão previstas na “raiz” da proposta para a Arquitetando Ideias. É interessante acompanhar como as profissionais tratam um projeto quando as clientes são elas mesmas. Vejamos quais são os dois diferenciais apontados por Carla e Luana para o projeto da sua empresa feito a quatro mãos chegar ao objetivo pretendido:
– Primeiro, a forma com que todos os ambientes se comunicam, de maneira fluida e, segundo, a escolha de todas as peças e materiais. E esses dois pontos fazem com que o nosso estúdio seja extremamente aconchegante (com cara de casa e não de corporativo, onde os clientes se sintam à vontade até para tirar os calçados), extremamente funcional para o nosso dia a dia e elegante sem ser chato e tradicional.
Solução infalível, a dupla optou por fazer uma base neutra, com materiais naturais e “super atemporais”, e deixou o toque de cor para os detalhes “mutantes”: tapete, quadros, objetos. Para entender melhor as escolhas e suas aplicações no novo espaço da Arquitetando Ideias, comecemos pela área: 60 metros quadrados, resultado da união de duas salas comerciais de 30 metros quadrados cada uma. Um dos lavabos foi mantido como tal e o outro teve seu espaço transformado em copa. No lavabo, chama a atenção, além do piso e das paredes revestidos de Portobello Nero Venato polido 60x120cm, a bancada preta esculpida em porcelanato Area Black 120x120cm. Carla conta mais sobre essa escolha:
– A ideia era um clima all black, mas brincando com diversos materiais: a caixa em preto marmorizado com acabamento brilho, super elegante, contrasta com a tela expandida e as lâmpadas soltas com os fios aparentes do forro. E por aí fomos brincando!
O outro ambiente compartimentado é a sala de reuniões, confortável e fechada para apresentação de projetos e momentos que demandem muita concentração. Contudo, visualmente é mantida integrada pela escolha do fechamento com divisórias de vidro incolor duplo, recurso para garantir o desejável isolamento acústico. Nas paredes, o calor do visual de tijolos, Portobello Chelsea Dark Red 14x26cm, corresponde à ideia de calor para os ambientes de trabalho.
– Não acreditamos em padrões, no tradicional, no conservador, em lares "não me toque". Acreditamos na verdade de cada um e em lares funcionais, práticos e aconchegantes, respeitando o estilo de vida e individualidades de quem vai morar ali – diz Carla, que considera o estúdio a casa da Arquitetando Ideias.
Então, para corresponder à ideia de um escritório que convide ao convívio como em uma residência, sem a sisudez de um ambiente de negócios convencional, tem um espaço de descontração, todo revestido de Portobello Brickstar Carbon 8x30cm: “Um bar para atender às nossas festinhas e para os momentos de descontração com os clientes”. Os toques especiais do décor contam com uma pintura do artista Julio Ghiorzi que haviam usado em um ambiente do escritório na CasaCor Rio Grande do Sul, Drops de Anis e, ao lado dela, obra de Giovani Ngnoatto, curadoria da Paula Bohrer, da Modoo.
Carla menciona a intenção de proporcionar uma experiência melhor aos usuários, em ambiente leve, integrado, descontraído e alinhado com o DNA da Arquitetando Ideias e com a forma que Carla e Luana propõem o atendimento aos clientes. O novo endereço da marca tem espaços para reuniões informais, para “um drinque após a reunião” e resulta em área inspiradora também para o dia a dia das profissionais, com a equipe integrada, dividindo e arquitetando ideias.
A arquiteta ressalta que a mesa de trabalho é compartilhada “para toda equipe ter um contato mais fluido”. Já no lounge, o coração do layout da Arquitetando, concebido no projeto na sequência do espaço para reuniões e para trabalhar, ocorrem encontros mais informais, com a ideia de “trazer o sentimento de se sentir em casa mesmo, nós e os clientes”. Meta atingida.
– Quando as reuniões acontecem aqui, eles ficam tão à vontade que tiram os calçados. É exatamente isso que queríamos! – conta Carla.
Mas, se para projetar o estúdio o trabalho nasceu a quatro mãos, com até as idas às lojas para definir cada detalhe feitas juntas, o padrão de atendimento aos clientes é cada uma abraçar um projeto do início ao fim, dividindo as demandas.
– Nós duas sempre participamos das reuniões de briefing e nos juntamos para iniciar a criação. Mas, a partir do conceito do projeto definido, uma toca ficha no restante do projeto inteiro, até o acompanhamento de obra – revela Carla.
Para definir o que estimula seu trabalho, a arquiteta menciona “experiências, viagens (aliás, saudades!), encontros” e até o universo do próprio estúdio, porque considera que, “quando a cabeça está aberta”, tudo pode ser fonte de inspiração. Mas admite que “referências arquitetônicas literais inspiram muito”. Em última análise, o repertório formado ao longo da vida influi nas escolhas, com o efeito do contato com “ideias, soluções, mistura de materiais e sensações dos espaços já visitados”. E, na hora de propor um novo projeto, conforme sentem a “vibe do cliente”, essas memórias afloram, “muitas vezes de forma abstrata”.
Entre suas preferências por profissionais de arquitetura, Carla confessa:
– Guilherme Torres sempre foi nossa maior inspiração e segue no topo máximo da lista!
Para entender os estímulos criativos da dupla de arquitetas, convém conhecer o seu gosto por propostas diversas: a linguagem industrial do design da Prototype, “com a modernidade das peças do Gustavo Bittencourt e Estudio Bola, e tudo isso junto e misturado com o lado mais sintético da Kartell”, diz Carla, rindo.
Entre as peças de design escolhidas para a casa da Arquitetando, estão a Bubble Chair, peça criada por Eero Aarnio em 1968, “que era um desejo em comum”. O design nacional diz presente com móveis assinados da gaúcha Saccaro: as poltronas Bloom e a mesinha auxiliar Mínima, obras do paranense Emerson Borges, e a mesa de centro Soul, do catarinense Luan del Savio.
No DNA do novo projeto do escritório, a proposta de elementos mutantes é levada ao pé da letra, como em um cenário efêmero, onde são produzidos vídeos para o canal da dupla no YouTube mostrando as transformações. Sabe-se lá neste momento qual é a paleta de cores predominante.
– Os materiais da base do projeto, apesar de já conhecidos, como as plaquetas de tijolos da sala de reuniões, buscamos trazer novos formato, tonalidade e forma de aplicação que não a tradicional contrafiada. Encontramos um carpete com a cor muito próxima e fomos brincando com as cores e diferentes texturas. É assim que tratamos cada projeto que desenvolvemos. Nós acreditamos em uma arquitetura que inspira todos os dias quem mora ou trabalha ali, que transmita personalidade a ponto de você entender parte daquela pessoa conhecendo o lugar onde ela vive. Esse estúdio é a casa da Arquitetando Ideias, é a nossa cara e todos que entram aqui sentem isso!
Pandemia
Carla ressalta que, nos momentos mais tensos da pandemia, acabam fazendo as reuniões virtuais com os clientes via zoom, “mas não é a mesma coisa” que ter contato pessoal. Pelo seu cuidado com a sede da empresa, marcada por propostas para conviver entre a equipe e para receber clientes, fica claro o quanto as arquitetas acreditam na experiência presencial, na intimidade criada por meio dos momentos em comum no estúdio. No entanto, adaptaram a experiência e tiram partido de cada possibilidade.
– Reduzimos bastante a ida em lojas. Temos montado um moodboard bem completo para apresentar aos clientes os materiais aqui no estúdio mesmo e tem funcionado. Estando aprovado, não precisamos ir até as lojas de revestimentos, por exemplo, só encaminhamos as compras por e-mail e está feito.
A pandemia está impactando também nos projetos de mais de uma forma, pelos novos comportamentos das pessoas em casa. Entre as mudanças, avaliam que não era uma prática comum tirar os calçados ao entrar em casa.
– Hoje, é um pedido constante e sempre tentamos encontrar uma forma legal e diferente pra atender essa necessidade atual e permanente. Tomara que ninguém a abandone pós-pandemia, porque realmente faz muito sentido! – diz Carla.
Mas, na hora de criar qualquer projeto, admite que passaram a pensar ainda mais no quesito funcionalidade, “principalmente em materiais de fácil limpeza e manutenção”.
Entre as novas necessidades que os arquitetos precisaram resolver, uma é a de um espaço para trabalhar em casa:
– O clássico home office, impossível não comentar! Alguns projetos ocupando um ambiente inteiro, outros é apenas uma mesa própria para isso dentro de algum cômodo. Tudo depende da rotina de cada um, mas em 90% dos casos ele existe!
Outro tema em alta é a “valorização enorme” de áreas externas, para muitos ocorrida apenas após o confinamento imposto pela pandemia. “Por muito tempo, as pessoas não pensavam duas vezes em fechar sacadas e integrar a área com o living, ter piscina era muita manutenção e chatice para pouco uso. Ter plantinhas em casa era muito trabalhoso”. Carla acredita que isso mudou muito e, para a arquiteta, tratam-se de condutas que tendem a “seguir por longos anos até vir um novo comportamento”.
– E tudo me leva a crer que existe uma necessidade de contato com o externo, com a natureza. Acho que a tendência é essa, desde as escolhas por materiais que remetam a materiais mais naturais, aos conceitos de projetos mais acolhedores mesmo, aos imóveis com valorização de áreas externas e privativas – conclui Carla.
Breve história
É bom conhecer histórias inspiradoras para constatar que é possível realizar sonhos profissionais com dedicação e uns sacrifícios no começo, claro. Carla e Luana, apesar de terem se formado juntas em 2007, trabalharam dois anos em outros escritórios até que tomaram coragem para “tirar o grande sonho do papel”. Aí começa a Arquitetando Ideias.
– A nossa primeira sede era bem humilde: dividíamos com Everson (hoje marido, mas na época namorado da Luana). Nós nos juntamos para conseguir viabilizar o aluguel da sala, porque o negócio dele não tinha nada a ver com o nosso, era uma agência de DJ's – conta Carla.
Compartilhavam copa, lavabo e recepção, mas cada um tinha a sua sala. Bem, as arquitetas tinham pouco menos de 10 metros quadrados para elas, estagiárias e secretárias. O engraçado, conforme conta a alegre Carla, era que a sala ficava no 3º andar e não havia elevador no prédio:
– Todo mundo que ia nos visitar chegava na sala esbaforido (hahahahaha!). A gente odiava! Passaram três anos lá até conseguirem se estruturar para ir para uma sala maior – “em um prédio muito mais legal, com elevador (iuhuuuu!)”.
A nova sala tinha 35 metros quadrados no total. Mas começaram novamente dividindo com o marido de Luana, “mas logo ele saiu e nós tomamos conta da sala toda”, conforme relembra Carla. Foi lá que contrataram o primeiro estagiário, Fabrício, parte da equipe até hoje.
Cinco anos se passaram e surgiu a necessidade de mudança. Inicialmente, a ideia era reformar, mas “o nosso sonho não cabia em 35 metros quadrados e no prédio onde estávamos não tinham salas disponíveis para ampliar”.
Mais recentemente, a mudança para este espaço de 60 metros quadrados resultou na concretização de “praticamente todas as vontades atuais!”. Mas Carla faz questão de explicar:
– O aumento de área nunca foi por uma vontade de ampliar equipe e sim de ter mais espaço para os sonhos. Seguimos sendo em três arquitetos fixos e temos freelancers para suporte quando necessário. A Lígia, que faz nosso administrativo e financeiro, nos atende remotamente e temos uma assistente virtual. Não queremos ter uma equipe fixa gigante. Olhando toda essa trajetória, dá para dizer que todas as mudanças foram muito alinhadas com um upgrade geral da Arquitetando Ideias. O nosso estilo de projeto mudou ao longo desse período, nós amadurecemos como pessoas, o nosso cliente mudou e a evolução do escritório acompanhou!