Os caminhos do design sustentável segundo Marcelo Rosenbaum
Na Revestir de 2020, a Pointer, marca do Portobello Grupo, lançou o Cobogó Mundaú. A peça de formas orgânicas e de textura granulada é uma mistura de cimento com conchas do molusco sururu. De cor acinzentada e reflexo furta-cor, o cobogó foi desenhado pelos designers Marcelo Rosenbaum e Rodrigo Ambrosio. A chegada desse produto ao mercado, pela Portobello Shop, representava a materialização de uma parceria ampla, envolvendo o IABS - Instituto Brasileiro de Sustentabilidade e o Instituto A Gente Transforma, que buscava um destino para 300 toneladas de sururu descartadas mensalmente na Lagoa do Mundaú, em Maceió, AL.
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Neste ano, durante a Revestir, esse movimento dará um novo passo com o lançamento da linha Solar, também de Rosenbaum e Ambrosio para a Portobello Shop. A coleção consiste em revestimentos cerâmicos, feitos com o sururu descartado, e mais opções de cores, em tons terrosos. Em Solar, as superfícies dos revestimentos reproduzem efeitos ripados e lineares, e são combinadas com maxitijolinhos. Outra característica das peças é a textura conquistada pela presença do sururu, algo que promove conforto e faz referência a uma cadeia que busca, acima de tudo, a sustentabilidade.
“Vamos apresentar agora, nesse primeiro momento, dois novos revestimentos que partem de uma experiência dessa arquitetura brasileira modernista, um pouco brutalista, em que o material também é deixado à vista”, disse Rosenbaum em entrevista exclusiva ao Archtrends. Solar faz parte da coleção Authentic e chegará às 150 lojas da rede Portobello Shop ao longo de 2023.
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O designer ressalta que Solar não se trata apenas de um novo produto, mas da evolução de uma parceria, de um projeto iniciado para resolver uma questão socioambiental. “A partir do desenvolvimento desse cobogó, começamos a nos relacionar com o Portobello Grupo, que entrou no projeto, e que deu tração para uma continuidade e viabilizar a construção, inclusive, de um entreposto dentro da favela, dentro da comunidade do Mundaú, para produção”, explica. O projeto agora foi batizado de Sururu: Conchas que Transformam.
Caminhos para a sustentabilidade ambiental e social
A participação de Rosenbaum nesse tipo de projeto faz parte de uma caminhada de muitos anos, que culminou na criação do Instituto A Gente Transforma, em 2010. Com essa plataforma, ele faz incursões em comunidades marginalizadas e se dedica a conhecer e resgatar a cultura local, saberes ancestrais e a levantar desafios. Ele também propõe a criação de peças de design ou edifícios como forma de estimular a autonomia de comunidades e a recuperação da autoestima.
Entre os casos de sucesso, há projetos em Várzea Queimada, no Piauí; em Nova Colômbia, no Amazonas; e em Formoso do Araguaia, no Tocantins. Esse último consistiu na criação de uma morada de estudantes, de idades entre 11 e 18 anos. O edifício, com aproximadamente 1.100 metros cúbicos de madeira reflorestada, foi feito em parceria com o escritório de arquitetura Aleph Zero e conquistou o RIBA International Prize de 2018.
Diante desse cenário e todas as ações que têm pautado os seus trabalhos, questionamos Rosenbaum sobre possíveis caminhos para a indústria e profissionais que perseguem o design sustentável. Para ele, hoje, existem mais perguntas que respostas. “E eu não tenho essas respostas. Eu consigo entender o contexto, eu vou fazendo, vou prototipando. Nada absoluto, não temos nenhuma experiência no mundo em que possamos falar que deu certo 100%. Eu me coloco muito nesse lugar como estudante mesmo, como aprendiz”, diz o designer.
No entanto, Rosenbaum ressalta a importância em conhecer o contexto em que vivemos e a nossa função naquele espaço. “De forma que a sua ação possa diminuir o impacto, seja ele social ou ambiental. Para mim, não interessa fazer algo que não vá mitigar o impacto. Eu entendo que a crise ambiental é realmente séria e que as questões sociais me importam e me interessam, e que eu tenho responsabilidade com isso”, afirma.
Além das relações que ele mantém com empresas, conectando-as aos seus projetos com comunidades, enfatiza mudanças que podem ser feitas na indústria e no varejo para reduzir os impactos, como diminuição do uso da água e de outros recursos naturais.
Por fim, o designer aponta a necessidade de atenção também nas relações de trabalho, que têm levado a burnout, ansiedade e depressão. “Não dá para tirar o ser humano de um objeto. Então, o que fazer? Não sei, fazendo, prototipando, tendo relações, encontros, nessas visões, olhares, desse lugar coletivo, comunitário, do planeta como um único espaço de vida, e que é de todos”, conclui.
Aproveite e confira a entrevista dada pelo designer Marcelo Rosenbaum no Archtrends Podcast: