Para uns, ver a seleção brasileira de futebol ganhar um campeonato dá aquela alegria. Os desfiles das escolas de samba do Rio, de São Paulo também enchem muita gente de orgulho. Em tempos passados, eram as vitórias do Ayrton Senna... Recentemente, o que me fez estufar o peito e pensar “caramba, que bom que sou brasileira!” foi a experiência de entrar na Fenearte (Feira Nacional de Negócios do Artesanato), que acontece há 20 anos em Olinda, PE, todo mês de julho. Aquele colorido, o tengo lengo tengo de Luiz Gonzaga batendo no peito, o sotaque pernambucano, o bolo de rolo e os grandes artesãos de todo o país reunidos ali, vindos dos mais remotos lugares, como o sertão e o agreste nordestinos, as comunidades ribeirinhas do Amazonas, os pampas gaúchos... Estavam todos lá, em carne e osso, explicando suas artes, suas inspirações, dando sentido às suas peças, sentido que vai além do estético. Eram cinco mil expositores, distribuídos em 800 espaços, o que faz da Fenearte a maior feira de artesanato da América Latina! Para mim, um parque da Disney!
O artesanato de raiz traduz toda a nossa mistura de culturas. Mistureba rica, que origina uma arte única, verdadeira, despretenciosa. Absolutamente livre de qualquer modismo e influência. “O artesanato brasileiro é diverso, complexo, cheio de referências. Tem a ver com a colonização, com o clima, com a cultura...”, acredita o arquiteto Maurício Arruda, que circulou pelo evento assim como os estilistas Ronaldo Fraga e Dudu Bertholini, a organizadora da Feira na Rosenbaum, Cris Rosenbaum, a jornalista Zizi Carderari, influenciadores e formadores de opinião de todo o país em meio aos cerca de 300 mil – eu disse 300 mil! – visitantes.
No Centro de Convenções de Olinda, a área mais concorrida era a Alameda dos Mestres, que sempre reúne mestres-artesãos pernambucanos. Nomes como o de J. Borges, Luiz Benício, Abias, Seu Heleno, Neguinha, Cunha, só para citar alguns dos 64 que estavam por lá. Mãos habilidosas que esculpem na madeira e no barro, que pintam, que criam com material reciclado. “Eu sempre achei muito mais bonito valorizar uma peça única feita pelas mãos de alguém, do que uma peça assinada por um designer reconhecido internacionalmente, mas feita por uma máquina na China”, diz o fotógrafo Lufe Gomes, do perfil Life by Lufe. E ele tem razão. Uma peça feita à mão carrega histórias, emociona e conforta. Como Lufe diz, conversar com as pessoas por trás das peças, ver as mãos que as fazem, olhar nos olhos, tudo isso faz com que os objetos ganhem outro valor. Cria-se uma relação pessoal, um afeto. “A Fenearte faz isso pela gente”, completa Lufe. Provavelmente, você nunca vai se desfazer de uma destas obras depois de passar por essa experiência.
Os demais corredores da feira não deixam a desejar. Tinha o couro do cearense Espedito Seleiro – o mesmo que participa da coleção Cangaço dos Irmãos Campana –, as esculturas de troncos e galhos do alagoano Aberaldo, as figuras andróginas do mineiro Higino D’Almeida, as luminárias do também mineiro Wagner Trindade, entre outros tantos.
Mas, este ano, parece ser mesmo dos alagoanos Jasson Gonçalves da Silva e da mestre em cerâmica Irinéia Nunes da Silva. Ambos fizeram parte da exposição Be Brasil Milão, realizada pela Apex-Brasil e pelo Consulado Geral do Brasil em Milão, no mês de abril. Jasson também foi parar na Fenearte com as mesmas escultóricas poltronas que brilharam na Itália. Agricultor, os conhecimentos em madeira de Jasson vieram da fabricação de cerca, do carro de boi e outras necessidades do cotidiano na roça. Há dez anos, a contragosto da família, decidiu fazer artesanato. “Era uma coisa que eu sabia e não sabia que sabia”, diz ele para mim, orgulhoso de ter chegado onde chegou, onde nunca imaginou estar. “A Fenearte melhora a autoconfiança do artesão ao coloca-lo em contato direto com o público. Pois ele se enxerga e se valoriza ao lidar com as pessoas”, define a jornalista especializada em artesanato, Zizi Carderari. “Você sai de lá com vontade de usar mais artesanato nos projetos”, “finaliza Maurício Arruda com a mesma empolgação e satisfação que eu senti ao mergulhar neste universo.