Design é a cultura por meio da qual o diálogo entre arte e indústria progressivamente toma forma. E é justamente essa relação entre o designer e a organização empresarial que forma a base da economia criativa, que é o sistema que transforma ideias em lucro.
Uma manifestação importante da criatividade econômica é o empreendedorismo, que reúne ideias, talentos e capital de maneira inovadora para criar e disponibilizar produtos. E é justamente nessa seara que a relação “design x indústria” entre Brasil e Portugal vem se desenrolando melhor, para muito além da dimensão histórica.
Um dos bons exemplos de que se tem notícia é o Experimenta Portugal, uma chancela exclusiva de São Paulo, criada pelo Consulado-Geral de Portugal em 2015 e que conta com a participação de Bruno Assami, diretor executivo do projeto.
“Em 2015 nós fizemos esse primeiro grande evento no Pavilhão das Esculturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, em parceria com a Virada Cultural. E há uma capacidade magnética do Experimenta Portugal – que atrai produtores, criadores etc., com novas propostas e iniciativas, beneficiando a divulgação e a geração de negócios”, explica o cônsul-geral de Portugal, Paulo Lopes Lourenço.
Criado inicialmente para celebrar o dia de Portugal, o dia de Camões e as comunidades lusitanas no Brasil, o evento tem se concentrado em apresentar manifestações culturais portuguesas em áreas antes pouco conhecidas pelos brasileiros – como artes plásticas, cinema contemporâneo e, principalmente, design.
Com o tema Arte e Cultura, a quarta edição da festa, realizada durante os meses de maio e junho deste ano, manteve a proposta e apresentou um extenso calendário de eventos culturais.
Exposições, música, cinema, design e palestras fizeram parte da programação, coroada pela apresentação de um projeto especial, resultado de uma rica parceria: de um lado a matéria-prima e a indústria portuguesa; do outro, o design brasileiro.
A ideia foi unir a indústria de móveis de Paços de Ferreira, a capital europeia do móvel, e a Corticeira Amorim, empresa líder no mercado mundial de produção de cortiça, para produzir protótipos assinados pelos Irmãos Campana – uma marca de prestígio do design brasileiro.
Se criatividade é apenas conectar as coisas – como declarou o CEO da Apple, Steve Jobs, em uma entrevista para a revista Wired –, o projeto seguiu a direção certa.
Com sede em Paços de Ferreira, a Epoca – um dos fabricantes de móveis mais modernos e bem equipados do país – entrou na empreitada como a representante do setor moveleiro.
Por outro lado, a escolha da cortiça como matéria-prima, e sua conexão direta com o design, traçaram a união entre tradição e contemporaneidade. Nesse contexto, a Corticeira Amorim abriu espaço na agenda para falar de inovação, apostando em tecnologia e sustentabilidade para ampliar os usos do material.
Cereja do bolo, a participação da conceituada dupla de designers brasileiros, Fernando e Humberto Campana, completou o time de peso. Com o intuito de valorizar o material escolhido, os irmãos Campana apostaram em formas simples e na textura própria da cortiça para criar uma coleção composta por três cabinets e uma poltrona.
“Eu sempre quis trabalhar com cortiça. Acho que ela vem ao encontro da nossa filosofia de trabalho, de recuperação, de reciclagem, de respeito ao meio ambiente, enfim”, diz Humberto, que visitou Paços de Ferreira e a Corticeira Amorim durante o processo criativo.
Seja por meio de manifestações culturais mais tradicionais, como a música e a gastronomia, ou concentrado em áreas mais contemporâneas, como o design, o Experimenta Portugal aposta no diálogo recíproco entre os dois países, sob as bênçãos da língua portuguesa, ampliando interesses, relações e possibilidades de negócios em ambas as direções. Um namoro promissor, que só tende a se fortalecer.