Os resíduos residenciais, comerciais, industriais e da construção, sem reaproveitamento pela população, podem ser destinados no aterro sanitário. No Brasil, essa é a maneira mais comum de descarte do lixo produzido nas cidades.
De acordo com a Organizações das Ações Unidas (ONU), o mundo produz cerca de 2,3 bilhões de toneladas de lixo por ano. A previsão é que essa quantidade aumente com o passar dos anos. Em 2050, é previsto um aumento de 60% do lixo mundial.
Além disso, a produção de lixo está relacionada com o aumento do Produto Interno Bruto, o PIB e do poder aquisitivo da população. Quanto maior o poder aquisitivo, maior a produção de resíduos sólidos.
Sendo as cidades grandes produtoras de lixo urbano, é necessário implementar sistemas para reduzir esse impacto no meio ambiente. E a arquitetura também tem um papel a desempenhar nesse contexto.
Continue a leitura e entenda mais sobre o assunto!
O que é e como funciona um aterro sanitário?
Todo aterro sanitário é uma obra de engenharia para o descarte dos resíduos sólidos produzidos pelo homem.
A fim de garantir a disposição dos resíduos que não podem ser reciclados, o aterro é considerado uma forma segura e eficiente. Mas, na prática, existe a possibilidade de contaminação do solo, da água e do ar.
Por isso, a construção do aterro sanitário deve atender aos quesitos exigidos, e assim, não causar danos à saúde pública e ao meio.
Assim, a técnica de enterrar o lixo no aterro sanitário acontece acima de um solo impermeabilizado, junto com um sistema de drenagem para o chorume ou lixiviado. Este é um recurso para evitar vazamentos de material líquido para o solo e lençol freático.
É necessário ainda uma área extensa disponível para implementação do aterro sanitário. Para isso, consequentemente, ocorrerá a remoção do solo e de toda sua vegetação nativa.
Para construção e manutenção do aterro, também deve ser consultado normas e leis, como:
- NBR 8419/1992, que trata da apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos;
- NBR 13896/1997, que fixa as condições para projeto, implantação e operação de aterros de resíduos não perigosos. Essa norma afirma que é recomendado que o aterro tenha vida útil mínima de 10 anos;
- Lei 12.305/10, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Há também alguns cuidados na manutenção dos aterros, como disposição de elementos para captação, armazenamento e tratamento do chorume e biogás. Estes são gerados na decomposição dos resíduos urbanos e causam impactos ambientais.
De acordo com a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (ABREMA), o Brasil possui, aproximadamente, 700 unidades de aterros. E muitas cidades ainda utilizam os lixões como forma de descarte de resíduos.
Qual a diferença entre o lixão e o aterro sanitário?
Essa é uma dúvida muito comum entre as pessoas, visto que são as formas mais conhecidas de descarte de resíduos sólidos urbanos.
O lixão, diferentemente do aterro sanitário, dispõe seu lixo a céu aberto sem nenhum tratamento do solo e resíduos. Por essa razão, é considerado uma maneira incorreta de depósito de lixo. Afinal, acarreta diversos impactos ambientais e afeta a saúde da população.
Vale ressaltar que esse meio de descarte de lixo também é um dos causadores de enchentes nas cidades.
Com tantas consequências problemáticas, para proporcionar segurança à população e às cidades, a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 determinou a extinção de todos os lixões do Brasil até 2014. No entanto, ainda hoje, existem lixões ativos.
O Marco Legal do Saneamento Básico estabeleceu um cronograma para o cumprimento do fechamento desses estabelecimentos. Até o atual momento o Estado brasileiro não cumpriu a meta e possui mais de 3.000 lixões ativos.
Um número agravante, já que é previsto um aumento de 50% do lixo doméstico produzido no país para 2050.
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Quais são os impactos ambientais causados pelos aterros sanitários?
Apesar do lixão ser um descarte de resíduos sólidos urbanos com mais consequências negativas, o aterro sanitário também pode apresentar alguns impactos ao meio ambiente. Conheça alguns deles:
- Para construir um aterro sanitário é preciso uma grande extensão de terra. Isso pode gerar dificuldade de encontrar o local ideal para este fim. Além do mais, a instalação de um aterro provoca a desvalorização das áreas próximas;
- Quando ocorre vazamentos de chorume, líquidos e gases, o meio ambiente é afetado com a contaminação dos lençóis freáticos e aquíferos. É possível colocar em risco a vida de animais selvagens. Vale lembrar que o lixo atrai insetos transmissores de doenças;
- No aterro sanitário também há um limite para a quantidade de lixo, que é depositado em camadas. Ao chegar no final de sua utilidade, o aterro deverá ser encerrado, e são necessárias medidas para minimizar os impactos no ambiente.
Todo aterro sanitário precisa de manutenção em toda sua vida útil a fim de amenizar os efeitos negativos.
Veja a seguir como a arquitetura tem modificado os espaços antes destinados aos resíduos urbanos!
A importância do projeto de paisagismo para recuperação de áreas degradadas
Antes de se tornar um aterro sanitário, houve ali um solo permeável, vegetação nativa, animais e cursos de água. Ou seja, uma natureza em melhor equilíbrio, mesmo com moradores nas proximidades.
Ao receber tratamento para instalação de um aterro, tudo se modifica. Ao passar anos recebendo toneladas de resíduos gerados pela população, parece não existir possibilidades de recuperação.
No fechamento do aterro sanitário existe a ideia de restabelecer o local e devolver para as pessoas melhores formas de vivenciar o espaço.
Praças e parques urbanos fazem parte dos projetos paisagísticos, que vêm transformando a realidade das áreas degradadas pelo lixão e aterro sanitário.
Projetos de praças e parques são soluções para substituição de aterros sanitários inativos
O encerramento de um aterro sanitário pode virar um problema para a cidade. Mesmo após seu fechamento, é preciso um monitoramento de 10 anos para evitar contaminações ao meio ambiente.
Pensar nesses espaços desativados, sem uso e função, ocupando uma grande parcela territorial, gera inquietação e a vontade de reaproveitar o local para novas atividades.
Com isso, projetos de arquitetura e urbanismo começaram a ganhar campo nessas áreas tão degradadas pelos resíduos. Pesquisas e investigações científicas abriram caminhos para novas possibilidades.
Há registros de propostas para reativar terrenos que possuíam aterro sanitário e lixão, com praças e parques urbanos para usufruto da população. O que significa áreas verdes e espaços de lazer, muitas vezes, para uma área desvalorizada e periférica.
Claro que, para isso, é necessário fazer uma investigação rigorosa no intuito de descobrir se aquele local ainda oferece riscos de contaminação. Caso não haja mais perigo, torna-se apropriado para um novo empreendimento.
A requalificação desse espaço urbano já acontece em várias partes do mundo, como o aterro sanitário Fresh Kills, em Nova York, nos EUA, que recuperou áreas degradadas, transformando a paisagem da região.
Em São Paulo, a Praça Victor Civita, localizada em Pinheiros, é um exemplo de transformação de um espaço que já foi utilizado para a destinação de lixo.
Atualmente, a praça conta com práticas e materiais sustentáveis. As pessoas têm acesso a atividades recreativas, como laboratório de plantas, renovação do solo, reuso de águas pluviais etc.
Outro exemplo de intervenção positiva da arquitetura nesses locais é a Biblioteca Parque Villa-Lobos (BVL), situada em São Paulo. Construída onde antes funcionava um lixão a céu aberto, sua revitalização devolveu para a população um espaço de livre acesso.
O mais interessante é perceber que um espaço antes degradado pode ter outra função na cidade e oferecer à população novos usos. Além disso, locais transformados em ambientes verdes, sustentáveis e agradáveis aumentam a qualidade de vida dos moradores.
O aterro sanitário é importante para as cidades, já que são usados para destinar o lixo produzido. No entanto, requalificar esse espaço após sua utilidade é uma forma de resgatar aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais do lugar.
Você leu sobre a importância do aterro sanitário e soluções projetuais para transformá-lo. Agora, leia sobre aporofobia e como isso se manifesta na arquitetura e no urbanismo.