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Arquitetura e memória

Palácio da Alvorada, Brasília

Palácio da Alvorada, Brasília (Foto: Isac Nóbrega - PR)

Quais histórias contam nossos lares? E os lugares que frequentamos? 

Influenciadas pelos recentes acontecimentos na capital do país, Brasília, nos encorajamos a falar brevemente sobre memória, legado e arquitetura e a forma como esses nos conectam a nossa identidade. 

Em todos esses anos como arquitetas, visitamos diversas casas no intuito de transformá-las e seguir contando suas histórias. Nas últimas semanas, temos pensado muito sobre o peso das lembranças que a casa de cada um traz consigo. 

Catedral Metropolitana de Brasília e, na extremidade direita, o Museu Nacional da República, projetados por Oscar Niemeyer
Ao centro da foto, a Catedral Metropolitana de Brasília e, na extremidade direita, o Museu Nacional da República, ambos projetados por Oscar Niemeyer (Foto: Jornal de Brasília) 

Nosso encontro com as famílias significa que é tempo de prosperidade, renovação, um projeto que vai ajudar a recontar a história de todos que moram ali e, em visitas, nos deparamos com memórias em porta-retratos, pinturas, uma máquina de costura que foi da avó, o forro de mesa bordado pela tia, o toca-discos do avô, as alturas das crianças marcadas em uma parede ao longo dos anos… Uma união da arquitetura com sua memória.

Toda casa conta uma história. Com o patrimônio público não seria diferente. 

Temos a lembrança da primeira escola, o trajeto para a casa da avó, a rua que abrigava a feira de domingo. Se identificássemos a cidade como uma extensão de nossas casas e de toda essa vivência, certamente nossos espaços públicos também teriam outro valor: o valor que nos une a memória coletiva. 

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É curioso pensar como a memória é subjetiva e como lugares têm importância diferente para as pessoas e os grupos a que pertencem.  As obras arquitetônicas também contam histórias, como um porta retrato carregado de lembranças, com seus personagens e narrativas. 

Antes e depois da implantação de Brasília
Antes e depois da implantação de Brasília (Foto: ArPDF/0260_BR DFARPDF NOV_B_0)

Em janeiro, estávamos todos com os olhos voltados para Brasília, muitas imagens e eventos em um mesmo cenário:  a posse presidencial, o Festival do futuro, os danos ao Palácio da Alvorada e um ataque terrorista ao patrimônio público.  

Brasília é única, com urbanismo de Lúcio Costa, arquitetura de Oscar Niemeyer e obras de artistas renomados como Di Cavalcanti, Athos Bulcão, Marianne Peretti, Alfredo Ceschiatti e Bruno Giorgi. O conjunto de edifícios forma um museu a céu aberto: Congresso Nacional, Palácios da Alvorada e do Planalto, Supremo Tribunal Federal e a Catedral de Brasília, abraçados pelos maciços de vegetação projetados por Burle Marx em suas praças e jardins. 

Painel de azulejos, Batistério, Catedral Metropolitana de Brasília
Painel de azulejos, Batistério, Catedral Metropolitana de Brasília, 1970 (Foto, Edgard Cesar/ Fundathos) 

Há quem ame e há quem não se simpatize com a combinação de suas superquadras mas, gostando ou não, é inegável que a estrutura de paisagem, urbanismo, arquitetura e arte formam um conjunto único e inovador extremamente impactante. Por vezes, esquecemos da sua grandiosidade e importância. 

Praça Cívica
Praça Cívica, mais conhecida como Praça dos Cristais, projetada por Roberto Burle Marx  (Foto: Portal Iphan)

A Praça dos Três Poderes é a arquitetura e o urbanismo em sua perfeita união, abre-se ao povo como representante simbólica da democracia. A Constituição Federal de 1988 destaca que é compromisso de todos os brasileiros valorizar, difundir e zelar pelo patrimônio cultural que constituem os bens de natureza material ou imaterial dos diversos grupos que compõem nossa sociedade. Ou seja, mesmo que certo símbolo ou lugar não represente o grupo ao qual você pertence, cuidar é respeitar a diversidade e as nuances que estruturam a nossa sociedade. 

Praça dos Três Poderes
Praça dos Três Poderes. Da esquerda para direita: Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto  (Foto: Eric Gaba/Wikmedia)

É com a memória que construímos identidade, reconhecemos os acontecimentos do passado e preservamos o que é importante passar a diante. Memória produz legado coletivo e individual! 

Talvez a memória também esteja associada a empatia, compaixão e união. Em um país gigantesco, diverso e desigual como o Brasil, é um desafio criar lugares de memória que nos identifiquem como povo. Que encontremos um caminho para reconstruir nossa identidade e tratar nosso país como a casa de todos nós. 

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