Se preferir, clique no play abaixo para ouvir o artigo completo:
A cada dia surge a novidade que vai mudar o mundo. O mais novo smartphone, um app imprescindível ou formas diferentes de consumir conteúdo e aprendizado. Na arquitetura não é diferente, com a chegada do BIM e demais softwares de gestão e especificação. Nesse tempo de inovação constante, novos materiais e formas de repensar antigos métodos também surgem, mas o quanto disso realmente absorvemos na prática?
Cito dois exemplos recentes, mas com resultados antagônicos, o Concreto Translúcido e os Fotovoltaicos Orgânicos. O primeiro, com alto impacto visual e tecnicamente eficiente, praticamente inexiste no Brasil. Já o segundo, transformou uma startup brasileira em líder global de produção em larga escala nesse segmento, à frente de Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Reino Unido. Trata-se de um filme leve, flexível, com até 50% de translucidez, que, no lugar de minerais ou compostos tóxicos, utiliza materiais orgânicos, sintetizados em laboratórios. Conta ainda com processo produtivo escalonável e de baixo custo.
Mas por que praticamente não ouvimos nada a respeito do Concreto Translúcido – moldado com fibras ópticas internas, que permitem a transmissão de luz natural ou artificial em elementos arquitetônicos –, que à primeira vista parece uma joia rara para fomentar a criatividade dos arquitetos? Há o desconhecimento e o conservadorismo dos arquitetos brasileiros, e a consequente falta de demanda, apesar de sua produção ser bastante simples. O elevado custo das fibras ópticas no Brasil é sem dúvida um fator impeditivo, mas falta, principalmente, aposta da indústria aliada à insistência dos projetistas em encontrar caminhos para o uso do material.
Outro exemplo contemporâneo que também gera polêmica entre arquitetos: a possibilidade da construção com impressão 3D. De início, a classe se entusiasmou e apostou nas pequenas construções, como casas, abrigos temporários, trailers e mobiliário urbano. Hoje, uma economista de vinte e poucos anos, Anielle Guedes, causa arrepios na alta hierarquia arquitetônica ao promover, como CEO da startup Urban 3D, a construção de edificações populares, com quatro ou cinco andares, em poucas semanas e a um custo até 80% menor do que os sistemas construtivos atuais. Está em desenvolvimento um produto químico, facilmente formatável via impressoras, que em tese substituirá o concreto e poderá criar módulos que vão de pavimentos e vigas, até paredes. Apesar de ter discursado e sido aplaudida na ONU, arquitetos ainda torcem o nariz para a ideia, que visa uma drástica ruptura nos processos de projetos para habitações de interesse social.
Diversas iniciativas como essas requerem o enfrentamento de velhos padrões. A arquitetura paramétrica e a biomimética, ainda pouco difundidas, a internet das coisas, que caminha a passos largos para se tornar a internet dos espaços, na qual design, tecnologia e arquitetura se unem visando controle e melhor resultado ambiental, ou o primeiro projeto brasileiro realizado via crowdsourcing – iniciativa privada que coube ao arquiteto Arthur Casas dar forma, alimentado por mais de quatro mil ideias colhidas no website do projeto.
Arquitetos, no geral, adoram inovação. Estão sempre à procura de novas formas de projetar, e produtos que deem vazão às suas ideias. Mas ao serem impactados com a realidade contemporânea, correm o risco de esbarrarem no próprio modelo de negócios ultrapassado, que ainda considera a equação tempo versus dinheiro, passível às turbulências e humores do mercado. É hora de empreender, repensar processos e modelos, e aceitar o mundo da economia criativa. É preciso, mas ainda impreciso.