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Arquitetura vernacular: valorizando as tradições e os saberes populares

Campos do Jordão (SP) reproduz a arquitetura vernacular alemã e suíça (Foto: Deni Williams)

A maior parte das construções residenciais brasileiras não conta com o auxílio de arquitetos. De fato, muitas delas são feitas em família, como um aprendizado de pais para filhos, em que se entende como um lar funciona ao colocar a mão na massa. Recursos fáceis de encontrar e características arquitetônicas locais formam a milenar arquitetura vernacular.

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Apesar de ser disseminada em todo o mundo, a arquitetura vernacular tem tudo a ver com o Brasil. O uso de recursos naturais, técnicas regionais e trabalho comunitário têm tudo a ver com o aprendizado que passa de geração em geração e, mesmo muitas vezes abandonado, continua sendo apreciado por quem admira saberes populares.

Saiba mais!

O que é a arquitetura vernacular?

Arquitetura vernacular
Palafita no Camboja. No Brasil, esse tipo de construção é presente em locais próximos ao litoral (Foto: Brian Hoffman)

É um tipo de arquitetura transmitida pelo conhecimento local, sem a supervisão de um arquiteto.

Ela representa uma enorme gama de tradições e métodos construtivos, além da maior parte das construções e dos assentamentos pré-industriais.

O uso de recursos naturais é outra característica marcante da arquitetura vernacular — é só pensar nas construções indígenas.

História

O abandono do estilo de vida caçador-nômade, além de fundamental para a existência humana, permitiu ao homem a criação da agricultura, a manutenção de famílias e o estabelecimento de um local fixo para viver.

Com o assentamento povoado, o homem conseguiu fazer a divisão do trabalho e desenvolver a economia comercial, as estruturas políticas, a arte e, claro, a arquitetura. 

Além das cavernas, no período Neolítico os povos viviam em choupanas, feitas de galhos e folhas. Com o tempo, surgiram as construções de pedra, mais resistentes e ideais para famílias sedentárias. 

A arquitetura vernacular abarca a maioria das residências no mundo. As pessoas constroem as suas casas e ensinam os seus filhos e netos, que erguem outras residências no mesmo terreno.

Das mais frágeis às muito rígidas, esse estilo de construção está ao nosso redor desde que nos entendemos por gente.

Porém, ele só foi começar a ser estudado no século XX, com arquitetos como Frank Lloyd Wright e Le Corbusier, que criaram versões renovadas do estilo.

Um dos principais apoiadores dos estudos sobre a arquitetura vernacular brasileira foi Lúcio Costa, arquiteto responsável pelo projeto de Brasília. 

Quais são as diferenças entre arquitetura vernacular e erudita?

Arquitetura vernacular
Alguns edifícios da arquitetura vernacular podem ter características da erudita, como a Cidadela de Bam, no Irã (Foto: Diego Delso)

A maior diferença entre arquitetura erudita e vernacular é que a primeira prioriza a estética e a segunda a funcionalidade.

No entanto, os estilos se complementam: muitas construções vernaculares trazem a estética erudita e vice-versa.

Quais são as principais características da arquitetura vernacular?

Arquitetura vernacular
Casa rudimentar de pedra com paredes de madeira e pilotis (Foto: Cyclingshepherd)

Por priorizar a funcionalidade, a arquitetura vernacular não segue um padrão estético. Ela se desenvolve entre os diferentes povos. No entanto, as construções variam entre regiões de clima quente e frio. Confira as principais características.

Clima quente e seco

Clima quente e úmido

Clima frio

Como é a arquitetura vernacular brasileira?

Por ser um país de proporções continentais, o Brasil é rico em diferentes manifestações da arquitetura vernacular. Cada região tem as suas características. Conheça alguns exemplos.

Barraco

Arquitetura vernacular
Barracos da favela do Moinho (SP), grande retrato da desigualdade social brasileira (Foto: Mílton Jung)

É o nome genérico para as construções feitas em favelas ou comunidades. Podem surgir em terrenos planos, mas é comum a associação desse tipo de construção a morros, encostas e barrancos. 

Embora muitos tipos de arquitetura vernacular sejam reflexos da desigualdade social, o barraco é o exemplo mais claro.

Alguns são feitos de alvenaria sem reboco, mas grande parte é de materiais simples e básicos, como madeira, papelão e até mesmo isopor.

Na verdade, qualquer material que possa dar algum tipo de sustentação pode fazer parte da estrutura de um barraco.

Palafita

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Semelhantes aos barracos, as palafitas são construções erguidas por estacas de madeira (Foto: Cores no Dique)

Olhar uma palafita é ver uma construção que desafia a gravidade.

Basicamente, esse tipo de construção é uma casa erguida em cima de estacas de madeira, muito comum em locais com alto índice pluviométrico, como a Amazônia, Baixada Fluminense, certos locais da Bahia e no litoral paulista.

As palafitas costumam ser erguidas em locais alagadiços, como margens de rios e lagos. O objetivo das estacas é evitar que as casas sejam levadas pela correnteza. Por serem muito simples, não funcionam em ambientes frios. Por isso, é comum que essas construções se popularizem apenas em locais quentes e úmidos.

As estacas de madeira das palafitas são a forma pré-histórica dos pilotis.

Pau a pique

Arquitetura vernacular
Sustentável, a casa de pau a pique é um tipo de arquitetura vernacular que passa por um resgate (Foto: Manufatura de Ideias)

Também chamada de taipa de mão, sopapo ou sepe, a casa de pau a pique é um tipo de construção em que estacas de madeira são entrelaçadas e fixadas no solo.

As vigas horizontais costumam ser majoritariamente de bambu e o entrelaçamento é feito com cipó. Os vãos entre a madeira e o cipó recebem barro, transformando o conjunto em uma parede. 

A casa de pau a pique pode ficar com esse resultado mais rústico ou receber acabamento alisado e pintura de cal. É uma técnica antiga, vinda com os povos africanos e ainda muito adotada, mas também desenvolvida.

Hoje, as madeiras não são mais fixadas porque apodrecerem rapidamente (se usa uma base de pedra que as afasta de 50 a 60 cm do solo) e as amarrações são feitas também com fibra vegetal e arame galvanizado.

Um dos principais cuidados com a casa de pau a pique não é com a resistência em si, mas sim com a técnica e os materiais utilizados. Se a madeira não for apropriada, pode atrair ratos e insetos, como o barbeiro — muito associado a esse tipo de construção. Em várias situações, ela é substituída por malha de ferro.

Comum na zona rural, a casa de pau a pique é um tipo de arquitetura vernacular em resgate, pois gera baixos impactos ambientais e, por isso, é considerada sustentável.

Oca

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As ocas não têm divisões internas e são construídas de madeira, taquara, palha e folhas (Foto: Thalita Chargel)

A oca (em tupi) ou oga (em guarani) é provavelmente a construção indígena mais conhecida no Brasil e, em um primeiro momento, pode ser a primeira associada à arquitetura vernacular. É construída com madeira e taquara e coberta com palha ou folhas de palmeira.

As ocas não costumam ter divisões internas ou janelas, somente algumas portas. São de grandes dimensões e durabilidade — algumas podem chegar a 30 m e a 15 anos. Além disso, refletem a cultura de comunidade de um grupo: são construídas em mutirões de uma semana e podem abrigar diversas famílias.

Maloca

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Semelhantes às ocas, as malocas são imensas e podem abrigar diversas famílias (Foto: Apollo)

Outro exemplo de arquitetura vernacular indígena é a maloca, construção que é bem maior que a oca e abriga várias famílias.

Diferentemente da anterior, a maloca tem divisões internas. Esse tipo de habitação é muito comum na Amazônia brasileira e colombiana. Cada etnia confere características arquitetônicas específicas para as suas construções.

Mais notadamente no Rio Grande do Sul, "maloca" foi um termo muito usado até o final da década de 90 para designar habitações construídas com materiais improvisados, como os barracos. 

Quilombo

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Quilombo na Vila do Curiaú (Foto: Bruno Fernandes)

Surgido como espaço de resistência dos africanos e afrodescendentes escravizados em toda a América Latina, o quilombo também abrigava minorias indígenas e brancas. Essas residências serviam como refúgio das agressões cotidianas nas senzalas. 

Os quilombos se assemelhavam às aldeias africanas, mas com características arquitetônicas específicas. Como no Brasil eram vistos como abrigos distantes de negros fugitivos, a visão sobre esse tipo de arquitetura era sempre escravocrata. 

Construídos em mais de 25 estados, os quilombos deixaram um legado: o uso da taipa, pequenas aberturas e cobertura vegetal em algumas construções da década de 1920. Mas até hoje há comunidades que vivem e guardam a memória dos quilombolas. 

A Vila do Curiaú, em Macapá (AP), é uma comunidade onde 489 famílias descendentes reproduzem histórias, danças, músicas, festas religiosas e moradas em quilombos.

Casa de taipa de pilão

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Construção histórica conhecida como Casa Grande, construída em taipa de pilão, na região de Ribeirão Grande (SP) (Foto: Edil Queiroz de Araújo)

E por falar em taipa, a casa de pilão se fincou como método construtivo no Brasil Colonial pelos mesmos motivos que a de pau a pique: por ser durável e fácil de construir.

A taipa de pilão é uma técnica construtiva milenar que utiliza a terra como matéria-prima. 

A forma de madeira (chamada de taipal) é preenchida com terra, cal e cascalho. Então, esses materiais são socados com pilões até ganharem forma.

Hoje, os métodos são mais modernos: são usadas formas metálicas, compactadores pneumáticos e até cimento como estabilizador.

Além de um trabalho aprendido na prática, a arquitetura vernacular não deixa de ser uma adaptação de técnicas antigas aos novos tempos. Então, conheça agora o Espaço Dois Trópicos, que une a ancestralidade à arquitetura contemporânea!

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