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Arquitetura nordestina: uma profusão de materiais, formas e cores

No centro do Recife, as cores vivas dos edifícios revelam um aspecto importante da arquitura local (Foto: Fabricio Macedo FGMsp por Pixabay)

Pronto para embarcar em uma viagem e conhecer a arquitetura nordestina? 

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Na hora de elaborar projetos aconchegantes, nada melhor do que ficar por dentro das características arquitetônicas do nosso país. Isso porque elas compõem estilos que estão diretamente ligados à nossa cultura e, portanto, dizem muito sobre nós. 

Tratando-se do Nordeste, você deve saber que a arquitetura é apenas uma entre as tantas belezas que chamam a atenção na região. No entanto, por conta da sua riqueza e expressividade, vale a pena dedicar um tempo especial só a ela. Vamos lá? 

Arquitetura das cidades nordestinas faz parte do cenário das festas tradicionais do São João em Campina Grande (PB) (Foto: de 2015 por Anjodivino0 por Pixabay)

A arquitetura nordestina está ligada à história da região

Ao voltar o nosso olhar para a arquitetura do Nordeste, podemos aprender muito sobre a história do Brasil. Isso porque foi lá, mais especificamente na Bahia, onde a primeira expedição portuguesa desembarcou. Esse passado colonial continua a ser lembrado, entre outros aspectos culturais, pelas construções espalhadas pelo país. 

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A força da arquitetura colonial pode ser encontrada no município da Laranjeiras, a 23 quilômetros de Aracaju (SE) (Foto: Berenice Kauffmann Abud)

Por isso, a presença da arquitetura colonial nas cidades nordestinas não é motivo de surpresa para ninguém. Na primeira capital do país, Salvador, o Maneirismo foi o primeiro estilo adotado. Ele ficou conhecido principalmente pela pintura branca, pelos frontões triangulares e pelas fachadas com formas geométricas. 

O barroco também é um estilo que se destacou na região. Apesar de ter sido uma tendência europeia que a sociedade açucareira queria trazer para o Brasil, as obras barrocas ganharam traços próprios por aqui. 

Mas não pense que a arquitetura do Nordeste se resume às influências dos colonizadores. Afinal, algumas de suas características particulares também estão ligadas ao modo vernacular de construir as edificações

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Casa de taipa no sertão do Rio Grande do Norte. É possível visualizar sua estrutura de barro (Foto: Wagner ROCHINK)

No sertão nordestino, por exemplo, as casas de taipa — também chamadas de pau a pique — são bastante comuns. É uma técnica interessante porque se baseia em conhecimentos tradicionais e usa materiais encontrados localmente, como barro, madeira, bambu, cipó, palha e água. 

Durante o período em que a produção de açúcar esteve com tudo, um tipo particular de arquitetura se desenvolveu nas propriedades rurais escravocratas. Nesses locais, além da casa-grande, havia a senzala, o engenho, a capela e os armazéns, entre outros espaços. Conforme os senhores foram enriquecendo, a vontade de tornar as construções mais luxuosas também aumentou. 

Assim, a taipa foi trocada pela alvenaria e o solar tomou o lugar da casa baixa. Um ótimo exemplo desse tipo de construção é o Solar do Unhão, em Salvador. Erguido no século XVII, ele serviu para várias funções na propriedade do desembargador Pedro Unhão Castelo Branco. 

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O conjunto arquitetônico Solar do Unhão foi restaurado em 1962 pela arquiteta Lina Bo Bardi e hoje abriga o Museu de Arte Moderna (MAM) da Bahia (Foto: Lazaroagmenezes

A riqueza de detalhes do barroco 

Como comentamos, o barroco ganhou um toque brasileiro quando chegou por aqui, diferenciando-se das tradicionais obras europeias do século XVI. No Nordeste, o estilo foi adotado principalmente para a construção das igrejas, que deveriam ser imponentes para exaltar os valores do cristianismo por meio da arte. 

É por isso que grande parte delas foi construída pelas ordens religiosas da época. Antes disso, as paróquias costumavam ter fachadas sóbrias, sem curvas ou adornos. Foi no começo do século XVII que os detalhes rebuscados começaram a aparecer, dando outra cara às partes exterior e interior das edificações. 

A Igreja de São Francisco Salvador é um bom exemplo disso. Construída entre os séculos XVII e XVIII, ela ficou conhecida como uma das obras mais expressivas do barroco brasileiro. Está localizada no centro histórico de Salvador, que é considerado Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). 

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Fachada da Igreja de São Francisco Salvador, uma das edificações históricas mais importantes da capital da Bahia (Foto: Wellington da Costa Gomez
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Riqueza de detalhes no interior da Igreja de São Francisco Salvador (Foto: gustavoboulhosa por Pixabay)

A partir das imagens, é possível perceber a presença de elementos característicos do barroco, como arcos, colunas arredondadas, predomínio do dourado e decoração exuberante, entre outros.

Os azulejos marcam presença na arquitetura nordestina 

Certamente, o uso de azulejos é mais uma das influências portuguesas na arquitetura do Nordeste. No começo, eles eram utilizados como revestimento de barras decorativas, mas depois passaram a cobrir fachadas inteiras.

Além de ter uma função decorativa, o azulejo se tornou importante por oferecer uma proteção adequada às chuvas e ao calor da região. Ao cobrir as paredes externas, é possível trazer um maior conforto térmico para as edificações

Casarão de azulejos em João Pessoa, na Paraíba
Casarão de azulejos em João Pessoa, na Paraíba (Foto: Murucutu

Porém, é importante dizer que os azulejos também foram bastante usados com propósitos puramente estéticos. Tanto é que o revestimento foi aplicado em cúpulas de torres, sacristias e claustros, entre outros espaços frequentados pela aristocracia. 

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Fachada azulejada do Museu de Artes Visuais, localizado no centro histórico de São Luís, no Maranhão (Foto: Ajmcbarreto)

O charme das casas coloridas com traços coloniais 

Além das construções grandiosas, não podemos deixar de falar das moradias, que são importantes expressões da cultura nordestina. Inclusive, para muita gente, elas são o verdadeiro símbolo da arquitetura da região. 

As casas costumam ter um ar modesto, com traços coloniais. Enquanto as térreas eram mais populares, os sobrados costumavam ser ocupados pelas classes mais favorecidas ou por comerciantes, que vendiam suas mercadorias no térreo e moravam no andar de cima. 

Sobretudo nos centros históricos das cidades, as pequenas casas coloridas foram preservadas e, até hoje, se destacam por determinadas características, como as que você pode conferir a seguir.

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As casas históricas e coloridas são típicas em Penedo, no estado de Alagoas (Foto: Millena Ramos)

Platibandas 

Localizadas na parte superior da fachada, as platibandas tinham o papel de "esconder" o telhado, evitando que a água da chuva fosse lançada na rua. Ao mesmo tempo, eram usadas para embelezar as casas. Com o crescimento econômico, a vontade de se afirmar socialmente favoreceu a criação de uma diversidade de adornos para elas.

Entre os mais comuns estão o registro do ano da construção, conchas barrocas, águias e esculturas de mulheres, entre outras. Ao dar uma volta por capitais como Salvador, Recife e Natal, é possível encontrar muitas casas e edifícios públicos onde as platibandas se destacam. Além de ser uma referência aos tempos das monoculturas, elas estão ligadas à identidade cultural nordestina. 

Pinturas à base de cal 

Outra característica é a pintura à base de cal de platibandas e fachadas. Embora hoje seja possível substituir esse material por outros, essa é uma prática artesanal que merece ser valorizada. 

Uso de cores fortes 

Tanto nas cidades quanto nos interiores e sertões, as casinhas coloridas são bastante comuns. Esse, talvez, seja o elemento estético mais chamativo e alegre da arquitetura nordestina. 

Inclusive, muitos edifícios ganharam cores vivas no processo de revitalização que aconteceu a partir do final do século XX. 

O mais interessante é que as cores usadas nas fachadas também mostram um pouco da personalidade dos moradores. Assim, ajudam a revelar a identidade do povo da região. 

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Edifícios coloridos em uma antiga rua do Recife, em Pernambuco (Foto: Thiago Japyassu de Pexels)

O florescimento da arquitetura moderna no Nordeste 

Após se tornar independente, o Brasil entrou em uma nova fase, deixando o passado colonial para trás. 

Com isso, as cidades passaram por um intenso processo de transformação e as novas construções começaram a valorizar outros estilos arquitetônicos. Algumas capitais foram transferidas das antigas cidades coloniais e outras foram remodeladas.

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Arquitetura moderna do Centro Dragão do Mar contrasta com os casarões do centro histórico de Fortaleza, Ceará (Foto: Nakinn)
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Prédios com arquitetura contempoânea são encontrados nas capitais nordestinas (Projeto em Maceió -AL: Rodrigo Fagá)

Entre as décadas de 1930 e 1960, importantes arquitetos, como Delfim Amorim e Acácio Gil Borsoi, introduziram o estilo moderno nas cidades. Juntos, eles criaram a Escola do Recife, que ganhou protagonismo na região. 

Em oposição ao barroco, as novas edificações trocaram o excesso pela praticidade, as linhas curvas pelas retas. Além disso, passaram a adotar o cobogó, criação nordestina que tem função decorativa e colabora com a iluminação e ventilação dos espaços. 

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Neste projeto, foi usado o Cobogó Mundaú da Portobello, produto com identidade nacional e alagoana, inspirado na concha do sururu, molusco que é patrimônio imaterial de Alagoas (Projeto: Portobello S.A.)

A arquitetura nordestina nos seus projetos 

Nada como conhecer diferentes estilos arquitetônicos para elaborar projetos mais criativos, não é mesmo? Quando a gente olha com atenção para a arquitetura nordestina, vemos que ela tem muito a contribuir, sobretudo por conta da sua expressividade. 

Se você estava em busca de inspiração, com certeza deve ter tido algumas ideias durante a leitura deste artigo. 

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As pontes são um show à parte na arquitetura e engenharia de várias cidades nordestinas, a exemplo da Ponte Estaiada em Teresina, Piauí (Foto: Mauricio Pokemon)

É possível usar os elementos estéticos presentes nas casas e nos edifícios da região para deixar os seus projetos mais calorosos, aconchegantes e cheios de vida. O uso da madeira e da cerâmica, por exemplo, ajuda a criar uma atmosfera parecida com a das tradicionais casinhas coloniais. E o mesmo vale para a aplicação do cobogó em diferentes ambientes. 

Outra dica é inserir mobiliários e objetos artesanais, feitos por artistas da região, na decoração dos ambientes. Nada mais legítimo do que apoiar o trabalho local na hora de levar um pouquinho do Nordeste para outros cantos do Brasil e do mundo. 

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Projeto de arquitetura de interiores valoriza elementos culturais nordestinos (Projeto: M100 Arquitetura; foto: Xico Diniz)

Trouxemos todos esses aspectos para mostrar por que a arquitetura nordestina é formada por uma profusão de materiais, formas e cores. Mas, mais do que isso, ela é a expressão material da história e da cultura dessa riquíssima região. 

Quer continuar viajando pelo Nordeste? Então, aproveite para se surpreender com as características da arquitetura de Olinda!

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