A cultura dos povos indígenas é muito presente em nosso país e, muitas vezes, é menos valorizada do que deveria. Afinal, eles foram os primeiros habitantes do nosso país e são a única etnia genuinamente brasileira. A arquitetura indígena faz parte dessa cultura e é muito rica, trazendo grandes lições para os arquitetos contemporâneos. Reunimos neste artigo um pouco de história e tendências que os indígenas continuam ditando nos projetos arquitetônicos atuais. Continue conosco e confira!
Entendendo a arquitetura indígena
Antes da chegada dos colonizadores portugueses em nosso país, os povos indígenas que aqui habitavam já realizavam construções impressionantes. A arquitetura indígena trazia técnicas consideradas avançadas para a época, além de serem verdadeiras expressões artísticas.
Apesar de existirem variedades nas construções dos diferentes povos indígenas, todas elas tinham um fator em comum. Trata-se do uso de vegetais e outros recursos naturais utilizados para a fabricação e adorno das construções. A arquitetura indígena, portanto, é essencialmente vernacular.
Geralmente, as casas dos indígenas são construídas com base em estruturas de madeira, que são conectadas umas às outras por meio de sistemas de encaixe, e para fazer o fechamento nas paredes e telhados, são utilizadas folhas, fibras e cipós, que formam as palhas. Mas importante ressaltar que nos diferentes povos indígenas há diferenças nas técnicas de construção de suas habitações.
A maioria dos indígenas, até os dias atuais, têm o costume de passar boa parte de dia do lado de fora das casas, realizando as suas atividades ao ar livre. O objetivo das construções, nessa cultura, sempre foi pensado para que as pessoas pudessem se proteger de fenômenos naturais, como os ventos e as chuvas, bem como dos ataques de animais.
Modelos de construção encontrados na arquitetura indígena
Para compreender sobre os modelos de construção encontrados na arquitetura indígena é importante saber como as sociedades, ou seja, as aldeias se organizam. Essas comunidades geralmente têm entre 4 e 10 moradias, nas quais vivem até 400 pessoas, aproximadamente.
Nas aldeias, as construções são feitas de forma ortogonal, de modo que o centro tem uma espécie de praça, uma área comum onde são realizadas cerimônias religiosas, rituais, festividades etc. A essas obras é dado o nome de maloca.
As malocas são divididas pela estrutura do telhado. São formados quadrados com um tamanho médio de 6 x 6 metros, sendo que cada um deles é destinado para uma família. De tal maneira, as pessoas moram todas juntas, em comunidade, dividindo a mesma “casa”.
Em outras aldeias existem as ocas, que são moradias menores, uma espécie de cabana, em que as famílias moram separadamente. Assim sendo, apesar de viverem em comunidade, cada grupo familiar têm o seu próprio espaço, não compartilhando o mesmo local, como acontece com as aldeias que vivem em malocas.
Infelizmente, muitas dessas malocas encontram-se abandonadas e não receberam o resgaste histórico que mereciam, como ocorre com obras de outros tipos de arquitetura. A maior parte dos povos indígenas foi desaparecendo com o passar dos anos, muito por conta das atividades de catequização feitas pelos jesuítas e por grupos católicos, que visavam converter os povos em cristãos.
Hoje em dia, a maioria das aldeias vive em reservas ou terras remarcadas. De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), apenas 12,5% do extenso território brasileiro é ocupado por indígenas.
Apesar disso, existe um movimento cada vez mais forte para resgatar valores culturais dos povos indígenas. Isso pode ser visto em obras de arte dos mais diversos gêneros, como a literatura, o cinema, a pintura e, é claro, a arquitetura.
Elementos da cultura indígena presentes na arquitetura atual
A arquitetura atual pode ser muito influenciada pela cultura indígena e elementos que podem ser vistos nas ocas e malocas. Isso vai desde o uso de técnicas de construção, como é o caso das amarrações feitas com cipó e o uso de elementos naturais, até desenhos de obras inspiradas nas construções tradicionais desenvolvidas pelos indígenas.
As amarrações, por exemplo, são uma técnica presente em praticamente todas os povos indígenas. De tal maneira, os elementos construtivos, como pedaços de pau, eram amarrados por cipós, num trabalho totalmente artesanal.
Apesar disso, os encaixes eram muito resistentes e as cabanas indígenas mantinham-se em pé, mesmo em estações do ano em que ocorrem muitos ventos e chuvas.
Os povos indígenas também se preocupavam com o chão das malocas. Eles trabalhavam a terra para que o piso fosse argiloso. Ou seja, para não machucar os pés, quando se realizavam danças e cultos religiosos no local.
A decoração também pode “beber da fonte” da arquitetura indígena, utilizando elementos típicos dessa cultura para desenvolver ornamentos ou enfeites, que deem um aspecto elegante ao ambiente, como os jardins verticais.
Além desses pequenos elementos, grandes obras também podem ser influenciadas na arquitetura indígena. Exemplo disso pode ser visto no Memorial Rondon, espaço que homenageia o Marechal Rondon, que se dedicou muito ao cuidado dos indígenas.
A obra teve início no ano de 1997, em Cuiabá, fazendo parte das comemorações dos 500 anos de descobrimento do Brasil. Idealizado pelo arquiteto José Afonso Botura Portocarrero, a edificação tem o formato de uma maloca e tem todas as referências encontradas nos povos indígenas.
A cultura e a arquitetura indígena fazem parte da história do nosso país e ainda sobrevive em obras de muitos arquitetos. Por isso, você pode se inspirar nesses elementos e desenvolver obras que resgatem componentes genuinamente brasileiros. Certamente tudo ficará muito bonito e carregará um pouco da nossa história.
Como estamos falando em inspirações nacionais, temos outra dica de leitura para você! Confira o nosso artigo que mostra 5 igrejas brasileiras com arquitetura inesquecível. Este conteúdo também traz dicas excelentes para serem incorporadas nos seus projetos.