Arquitetura futurista: uma glorificação da modernidade
Mostrar o movimento, a velocidade e a evolução das máquinas e da tecnologia, mesmo com base no lado violento das cidades e construções. Essa é a forma e o conteúdo da arquitetura futurista, que privilegia a ascensão de grandes projetos, excluindo seu caráter apreciativo.
No mundo do design, quase sempre os movimentos têm natureza decorativa. Mas isso não é o que acontece com o futurismo. Aliás, essa estética se vangloria exatamente do oposto: objetivar o funcional. Certamente, essa é a principal qualidade dessa corrente, em sua representação mais pura.
No nosso artigo de hoje, você conhecerá a trajetória da arquitetura futurista, desde os porquês que culminaram em seu surgimento até como aplicar esse tipo de design nos seus próximos projetos. Continue a leitura para conferir!
Como a arquitetura futurista surgiu?
A arquitetura futurista tem sua origem no Manifesto Futurista, criado em 1909 pelo poeta Filippo Tommaso Marinetti e publicado no jornal Le Figaro, na Itália.
Nesse material, o autor apoiou conceitos que iam em direção oposta àquilo que era vigente em diversas artes: o classicismo.
No manifesto, alguns dos pilares eram a oposição ao moralismo e ao feminismo e o caráter agressivo como elemento central para uma obra ser considerada arte.
O flerte constante com a violência
Com tais concepções, o futurismo era fundamentalmente uma proposta romper violentamente com os ideais e as práticas da época.
Um dos motivos de o Manifesto Futurista ter nascido nesse formato é que ele foi concebido em um momento de grandes avanços industriais.
Uma corrida que poucos anos depois, em 1914, culminaria, junto a vários outros motivos, na Primeira Guerra Mundial.
Por conta do caráter nacionalista, o futurismo também foi abraçado como projeto de urbanismo em cidades da Itália fascista — exibindo, desse modo, seu lado mais violento.
Nesse período, o futurismo alcançou seu auge. Mas, assim como as duas Grandes Guerras, ele desapareceria depois.
Posteriormente, ele teve um recomeço e ganhou mais força — puxado, essencialmente, pela arquitetura.
Quais são os princípios do futurismo?
Do movimento futurista, outro estilo que marcou as décadas de 1920 e 1930 nasceu: o Art Déco. Essa arte decorativa também carrega, em menor grau, os mesmos princípios.
Veja quais são as principais características da arquitetura futurista:
- sobreposição de imagens em pinturas ou mesmo em detalhes de construções, repetidas nos mesmos padrões, para criar o efeito de movimento;
- tons ora vivos, ora industriais, para ajudar a representar ação e constância, de modo a simbolizar “homem e máquina”;
- alta representação da velocidade, fazendo sempre uma alusão à era das máquinas e ao progresso industrial;
- abstração da realidade por meio de pinturas e arquitetura que esboçam projeções do que será o futuro;
- linhas retas e curvas grandiosas, que entreguem a percepção de movimento e continuidade;
- obras opulentas, mas que eliminam totalmente o caráter decorativo do Art Déco;
- uso de materiais avançados, como o aço, o concreto armado e o vidro.
Quem são os principais expoentes do futurismo em suas várias expressões?
Como vimos, o futurismo surgiu de um escrito que simbolizava um ideal novo de arte e vida. Portanto, ele teve como efeito primário modificar a literatura da época.
Contudo, a pintura e, posteriormente, a arquitetura foram dois outros campos bastante influenciados pelo Manifesto Futurista, que contou com diversos expoentes.
Literatura
Álvaro de Campos/Fernando Pessoa
Álvaro de Campos foi um dos heterônimos — autores fictícios com personalidades próprias — do poeta português Fernando Pessoa. Suas obras tratavam de temas ligados à industrialização e à vida moderna. Um exemplo disso é Tabacaria.
Vladimir Maiakovski
O escritor russo Vladimir Maiakovski é considerado um dos grandes poetas mundiais e, sem dúvida, o maior nome do movimento futurista.
Seus escritos eram recheados de sátiras e críticas políticas, especialmente dirigidos à União Soviética.
Ao lado de David Burliuk — escritor que o incentivou fortemente na poesia —, Maiakovski fundou com outros autores o cubo-futurismo.
Ele combinou as linhas e os formatos do cubismo ao movimento e à dinâmica do futurismo, o que gerou criações na literatura e em outras artes.
Oswald de Andrade
José Oswald de Sousa Andrade é um dos precursores do futurismo no Brasil — que, aqui, ganhou expressão e forma própria com o modernismo.
Em 1912, Andrade conheceu o movimento futurista na Europa e, em 1922, inaugurou a Semana de Arte Moderna ao lado de outros artistas.
Seus textos são fundamentalmente experimentais, mas com o ponto em comum de serem pautados no estilo futurista.
A vida nas grandes cidades e as transformações velozes delas foram temas constantes em suas obras.
Pintura
Giacomo Balla
Giacomo Balla foi um dos grandes nomes do futurismo, exportando da Itália ao mundo as visões que o movimento tem.
Suas marcas estéticas de cores e curvas arrojadas marcaram obras no período de ascensão do futurismo.
Luigi Rossolo
Luigi Rossolo foi pintor, músico e escritor, sendo um dos personagens que mais contribuíram para o futurismo ganhar expressão.
Suas pinturas são bastante voltadas às figuras humanas e aos cenários naturais. Destacam-se, nesse sentido, os quadros Soapdish, Música e Perfume.
Arquitetura
Oscar Niemeyer
Um dos maiores expoentes da arquitetura brasileira e mundial também tem suas expressões futuristas.
Oscar Niemeyer deixou principalmente em Brasília, a cidade que ele projetou junto a outros nomes, suas construções futuristas.
O edifício do Congresso Nacional, feito em concreto armado, com fachada de vidro, aço e outros materiais avançados, é um exemplo disso.
Angiolo Mazzoni
Angiolo Mazzoni foi um arquiteto que criou obras grandiosas, mesmo que baseadas no e para o governo fascista de Benito Mussolini.
Nesse sentido, suas contribuições estão centralizadas em projetos das décadas de 1930 e 1940, na Itália.
Auguste Perret
Auguste Perret foi um arquiteto e construtor francês que baseou suas construções, principalmente, no uso de concreto armado, enchimentos e vigas.
Aliás, o concreto armado é uma assinatura de suas obras, que expõem esse modelo construtivo como acabamento, diferentemente do que se via até então (1900 a 1910).
Le Corbusier
Le Corbusier foi um dos maiores nomes da arquitetura mundial. Ele bebeu na fonte do futurismo para projetar casas e pavilhões icônicos.
O arquiteto suíço naturalizado francês tinha a funcionalidade e o conforto como grandes pilares de suas obras.
Zaha Hadid
A arquiteta que esteve à frente de um dos principais escritórios do mundo para grandes projetos se baseava muito na arquitetura futurista.
O uso de materiais avançados em construções como o PKX, o novo Aeroporto de Pequim, prova isso.
Uma das últimas entregas do escritório de Hadid foi o Changsha Meixihu International Culture and Art Centre, também na China.
Quais são os exemplares mais famosos da arquitetura futurista?
Confira, a seguir, a nossa galeria.
Posto de combustíveis Fiat Tagliero, em Asmara (Eritreia)
Edifício da Capitol Records, em Los Angeles (EUA)
Transamerica Pyramid, em São Francisco (EUA)
Burj Khalifa, em Dubai (Emirados Árabes Unidos)
CN Tower, em Toronto (Canadá)
Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, em Brasília (Brasil)
Como aplicar a arquitetura e o design futuristas em projetos?
Para além de se basear em uma forma violenta de conceber e edificar, a arquitetura futurista tem seus lados positivos, que podem ser aproveitados em novos projetos.
Materiais como vidro, aço e concreto armado
O uso dessas matérias-primas é essencial para caracterizar um projeto futurista. Portanto, quanto mais eles forem utilizados em sua forma bruta, melhor a obra representará a “visão de futuro” que era o objetivo desse movimento.
Curvas e retas extensas
Quase como uma implicação direta dos grandes formatos em tudo o que é área do projeto, as curvas e retas imensas devem ser destacadas.
Formatos avantajados
O arrojado sempre é bem-vindo na arquitetura futurista, fazendo-a remeter ao maximalismo, um design marcado por grandes dimensões.
Pé-direito, revestimentos, sofás, poltronas, quadros e outros elementos de larga escala são algumas opções para aplicar em um projeto futurista.
Foco no funcional
A arquitetura futurista não tem como objetivo divulgar belezas arquitetônicas, mas sim fazer parte do cotidiano acelerado, que exige soluções.
Portanto, prezar por construções que sejam funcionais é o que há, mesmo em detrimento da estética em alguns momentos.
Abstração
Na pintura, a abstração tem sua relevância para uma vida que pede por refúgios mentais, frente ao peso da rotina abalada pela industrialização.
Cores
O uso de tons intensos de vermelho e amarelo são usuais na arquitetura futurista.
Mas esse movimento também abre espaço para cores mais sóbrias, como o azul-escuro, o marrom e o preto, usados em maior escala na Art Déco.
Fachadas, paredes e quadros com tons desse tipo entregarão boa parte de um visual futurista. Além disso, proporcionarão beleza, algo deixado de lado pelo movimento.
Se abrir caminhos para o futuro é uma premissa da arquitetura futurista, então toda obra tem seu pé no futurismo.
Afinal, cada movimento aponta para novidades de alguma forma. Talvez, essa seja a herança que o Manifesto Futurista deixou às demais correntes, mesmo sem a intenção.
Os tons terrosos também podem ter espaço na arquitetura futurista. Veja dicas para aplicar cores desse tipo na decoração!
Foto de capa: A arquitetura futurista é bastante usada no Oriente Médio, em destinos empresariais e turísticos, como Dubai (Foto: PxHere)