Arquitetura francesa: quando a história vive em pedra e concreto
A arquitetura francesa é uma das mais admiradas em todo o mundo, com obras memoráveis como a Catedral de Notre-Dame, o Palácio de Versalhes e a Torre Eiffel.
Neste artigo, vamos embarcar em uma viagem histórica até a França, que será a sede dos Jogos Olímpicos de 2024, para desvendar a sua arquitetura e inspirar os projetos contemporâneos.
Viaje conosco!
A história da arquitetura francesa
É impossível falarmos de arquitetura francesa sem adentrarmos na própria história da França.
No início, o que hoje conhecemos como França ficava situada na região da Gália e fazia parte do Império Romano.
Por isso, o princípio da arquitetura francesa é, praticamente, uma mescla dos estilos grego e romano, com arcos, abóbadas e cúpulas.
Um exemplo notável desse período é o Les Alycamps, uma grande necrópole romana próxima das muralhas da cidade antiga de Arles, que está entre as mais famosas do mundo antigo.
Pré-românico
Nessa época, Clóvis I unificou o reino franco, integrando o território da França a esse grande reinado.
Tanto ele quanto seus sucessores se dedicaram à construção de igrejas e mosteiros, dando continuidade à tradição da basílica romana, porém com influência de outras culturas e locais, como a Síria e a Armênia.
Infelizmente, pouco sobrou desse período.
Românico
A arquitetura românica se desenvolveu simultaneamente em diferentes partes da França durante o século X.
O estilo se caracterizava por paredes espessas e presença de arcos ornamentais rítmicos, chamados de bandas lombardas.
As igrejas bizantinas de Constantinopla tiveram muita influência nessa época. Um dos exemplos é a Catedral de São Pedro de Angolema.
Medieval
A arquitetura gótica francesa é muito famosa. Predominou de 1140 até 1500 e se dividiu em quatro períodos: gótico antigo, gótico alto, rayonnant e gótico tardio ou estilo extravagante.
Tudo começou em 1140, com o estilo gótico antigo, que ficou caracterizado pela adoção do arco em ponta, sendo uma transição da arquitetura românica tardia.
O estilo gótico alto do século XIII canonizou proporções e formas do gótico inicial e as desenvolveu para alcançar estruturas leves, porém altas e majestosas.
Os arcobantes se tornaram uma forma tradicional de apoiar as paredes. Eles podem ser vistos na Catedral de Notre-Dame de Paris.
Renascença
Nos primeiros anos do século XVI, os franceses passaram a se envolver em guerras com o norte da Itália e levaram para casa algumas ideias estilísticas próprias da Renascença.
Um dos exemplos mais antigos desse período é o Château d’Amboise, no Vale de Loire, palácio no qual Leonardo da Vinci passou seus últimos anos.
Aliás, o Vale do Loire ficou conhecido pelos seus magníficos castelos renascentistas.
O estilo foi se desenvolvendo progressivamente, culminando no maneirismo francês, também chamado de estilo Henrique II.
Em Fontainebleau, diversos artistas italianos formaram a Primeira Escola, com ideias que inspiraram arquitetos como Phillibert Delorme, Androeut du Cerceau, Giacomo Vignola e Pierre Lescot.
Inclusive, esse último responsável por projetar a fachada interior sudoeste do Cour Carrée do Louvre, em Paris.
Barroco
O barroco francês foi extremamente importante para a história da arquitetura, influenciado toda a Europa no século XVIII. François Mansart é considerado o primeiro a utilizar o estilo na França.
A comuna de Maisons-Laffitte ilustrou a transição dos castelos pós-medievais do século XVI para as casas de campo em estilo de vilas do século XVIII.
O próximo passo no desenvolvimento da arquitetura residencial europeia envolveu a integração de jardins na composição.
Exemplo disso é o Castelo de Vaux-le-Vicomte, do arquiteto Louis Le Vau, do designer Charles Le Brun e do paisagista André Le Nôtre.
Rococó
Durante a regência, a mudança artística do Rococó passou a ser mais bem estabelecida. Primeiro, no palácio real e, depois, em toda a alta sociedade francesa.
O auge do Rococó, no entanto, foi na década de 1730.
O estilo mantinha os gostos do Barroco por formas complexas e padrões intrincados, mas começou a integrar uma grande variedade de características, como o design oriental e as composições assimétricas.
Neoclassicismo
A primeira fase do Neoclassicismo na França ficou conhecida como estilo Luís XVI, com destaque para o arquiteto Ange-Jacques Gabriel.
A segunda fase contava com os estilos Directoire e Império. Um dos grandes símbolos é o Arco do Triunfo, projetado por Jean Chalgrin.
Inicialmente, o Neoclássico era um estilo parisiense, não da realeza. Foi Maria Antonieta, a rainha amante das novidades e dos modismos, quem o levou para a corte.
Colonial
Do início do século XVII até a década de 1830, os franceses criaram diversas colônias na América do Norte, no Caribe, na Guiana Francesa, no Senegal e em Benin.
A partir de 1604, os colonos e os engenheiros do governo começaram a construir edifícios enormes e caros, a exemplo de Versalhes.
Assim, cidades como Québec passaram a ter também grandes palácios, casas geminadas e igrejas parisienses.
Belas Artes
Belas Artes foi um estilo parisiense que se originou na lendária École des Beaux Arts. Floresceu durante o século XIX e início do século XX, sendo uma elaboração grandiosa do Neoclássico.
As fachadas simétricas ornamentadas com detalhes luxuosos, como grinaldas, medalhões, flores e escudos, são suas grandes características.
Muitos americanos estudaram na École des Beaux Arts. Consequentemente, o estilo influenciou fortemente a arquitetura norte-americana entre 1880 e 1920.
Art Nouveau e Art Déco
A Art Nouveau buscava romper com os padrões das Belas Artes.
As primeiras casas surgiram em Bruxelas, na década de 1890, projetadas por Paul Hankar, Henry van de Velde e, especialmente, Victor Horta.
Rapidamente, o estilo chegou a Paris, onde foi adaptado por Hector Guimard, que aplicou os detalhes no metrô da cidade.
O auge da Art Nouveau foi a Exposição Internacional de Paris de 1900, com artistas como Louis Tiffany e Alphonse Mucha, entre outros.
Já a Art Déco apareceu na França um pouco antes da Primeira Guerra Mundial e influenciou não apenas a arquitetura, mas também móveis, cinemas, joias, carros, trens, transatlânticos e objetos do dia a dia, como rádios e aspiradores de pó.
No início, foi influenciada pelas ousadas formas geométricas do Cubismo e pelas cores vivas do Fauvismo, além dos estilos exóticos de China, Japão, Índia, Pérsia e Egito Antigo, entre outros. Seu domínio terminou com a Segunda Guerra Mundial.
Arquitetura modernista e contemporânea
A arquitetura modernista francesa foi importante para todo o mundo, principalmente graças a arquitetos renomados como Le Corbusier, que influenciou diversos profissionais, inclusive o brasileiro Oscar Niemeyer.
Além dele, outros nomes importantes são Robert Mallet-Stevens, Fréderic Borel, Dominique Perrault e Jean Nouvel. Alguns exemplos de construções modernistas e contemporâneas são Villa Savoye e Notre-Dame du Haut.
O estilo provençal
Além desses importantes períodos, a arquitetura francesa conta com um forte apelo regional, com destaque para o estilo provençal.
A arquitetura provençal tinha algumas marcas que ainda podem ser vistas, como janelas altas no segundo andar, muitas vezes arqueadas no alto, que atravessam a cornija e se elevam acima dos beirais, casas de tijolo ou estuque com telhados inclinados e janelas equilibradas em cada lado da entrada.
Características marcantes do estilo são os móveis com pátina. Isso iniciou entre os séculos XVI e XVII quando os artesãos buscavam esconder os defeitos da madeira com uma mistura de gesso e cola.
Com o passar do tempo, essa mistura se desgastava e, assim, surgia uma aparência envelhecida.
O estilo acabou “pegando” e se tornando sinônimo de arquitetura francesa para muitas pessoas. É bastante procurado em todo o mundo até hoje.
As obras mais famosas da arquitetura francesa
Impossível falarmos da arquitetura francesa sem citarmos algumas das obras mais icônicas desse país, marcadas na história mundial.
Torre Eiffel
É o grande ícone de Paris e da França. Foi construída para a Exposição Universal de 1889, que comemorava os 100 anos da Revolução Francesa.
O nome é uma homenagem ao criador, Gustave Eiffel. Porém, na época, a torre era chamada por alguns parisienses de modo depreciativo como “aspargos de metal”. Por isso, quase foi desmontada em 1909.
No entanto, acabou sendo salva para ser usada como plataforma para as antenas de transmissão, necessárias na radiotelegrafia.
Catedral de Notre-Dame de Paris
Essa é uma das mais importantes catedrais da Europa e impressiona pelos seus inúmeros detalhes arquitetônicos.
Sua construção foi iniciada em 1163, com um projeto do bispo Maurice de Sully, e concluída apenas no século XIV.
Arco do Triunfo
O Arco do Triunfo foi erguido em 1806 em celebração à vitória de Napoleão Bonaparte em Austerlitz. No alto da plataforma de observação, é possível observar as 12 avenidas que partem dali.
Abaixo, no nível da rua, temos o Túmulo do Soldado Desconhecido, em homenagem aos mais de 1 milhão de soldados que perderam a vida na Primeira Guerra Mundial.
O monumento foi inspirado no Arco de Tito, em Roma.
Museu do Louvre
Inicialmente, o prédio do Louvre foi construído como uma fortaleza por Phillipe-August, no início do século XIII.
Depois, foi reconstruído como uma residência real, no século XVI. Só foi transformado em museu em 1793 pela Convenção Revolucionária.
Villa Savoye
É a casa mais famosa de Le Corbusier, construída entre os anos de 1928 e 1929. Fica em Poissy, nos arredores de Paris.
Apresenta alguns pontos importantes da arquitetura moderna, como pilotis, fachada livre, janelas em fita, planta livre e terraço jardim.
Atualmente, a Villa Savoye é um museu dedicado à vida e obra de Le Corbusier.
A arquitetura francesa em projetos contemporâneos
São muitas as formas de se inspirar na arquitetura francesa para projetos atuais.
Afinal, como vimos, o país conta com inúmeros períodos e estilos diferentes, que podem ser mesclados em um ambiente contemporâneo.
O estilo provençal é um dos mais usados, com o charme dos móveis em pátina, a presença forte das flores do campo e a decoração romântica.
Esse estilo combina com ambientes rústicos e campestres, com revestimentos em madeira clara ou que tragam o toque das pedras.
Além dele, você poderá usar detalhes do Barroco e do Rococó, especialmente nos mobiliários, como os famosos móveis com pernas em cabriolet, que lembram o requinte da corte francesa.
Caso queira um estilo mais parisiense, o Art Nouveau e o Art Déco são excelentes ideias, com vitrais trabalhados, corrimões com arabescos, móveis em metais e um piso com porcelanato amadeirado em uma paginação Chevron ou outros revestimentos com inspiração Art Déco.
E, é claro, você ainda pode buscar reinterpretar o mestre modernista Le Corbusier, com detalhes estruturais como fachada livre, janelas em fita, planta livre, terraço jardim e pilotis.
Já deu para notar nesse mergulho pela arquitetura francesa que o que não faltam são inspirações de períodos e estilos incríveis, não é mesmo?
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Na verdade, uma pergunta: a capital goiana, Goiânia, construída a partir de 1932, recebeu forte influência francesa em sua arquitetura. Qual modelo poderia ser evocado? Rococó, Art Déco ou Procençal?