Um território gigante como o Brasil guarda atrativos que chamam a atenção de qualquer arquiteto. Não é preciso ir muito longe para visitar cidades históricas, entrar em contato com novas culturas e contemplar belos exemplares da arquitetura. Para provar isso, vamos acompanhar você em um passeio virtual pelo Nordeste, mais especificamente, Olinda.
Situada em Pernambuco, a 6km de Recife, a cidade foi declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1982. De acordo com registros históricos, seu nome surgiu a partir da frase "Ó linda situação para se construir uma vila", dita pelo fidalgo português Duarte Coelho ao observar a região pela primeira vez.
Se ainda não teve a oportunidade de conhecer essa incrível cidade, que tal começar com o nosso artigo? Acompanhe e descubra cinco características da arquitetura de Olinda que vão te surpreender!
1. Prédios com cores fortes e detalhes em branco
Se tem algo que chama a atenção na cidade são as múltiplas cores que enfeitam as fachadas das casas e edifícios públicos. Vermelho, azul, amarelo, verde e outros tons fortes se opõem ao cinza das ruas e calçadas de pedra. É fácil se distrair com o colorido presente tanto em casarões quanto em igrejas dos séculos XVI e XVII.
Antigamente, essas construções não tinham numeração específica para que os habitantes fizessem a identificação. Logo, as pessoas se baseavam nas combinações de cores para diferenciar as obras. Se observar bem, verá que muitas das edificações também apresentam detalhes e ornamentos em branco.
Entre os destaques está a Catedral da Sé de Olinda, com sua fachada em branco e amarelo. Foi construída em taipa de barro em 1540 e substituída por um templo de alvenaria em 1584, quando recebeu capelas secundárias. Em 1976, foi restaurada para que recuperasse suas feições originais da transição entre Renascença e Barroco.
2. O alto contraste entre os prédios de uma mesma região
O casario da época colonial é um dos cartões-postais da cidade e um dos principais atrativos quando o assunto é arquitetura de Olinda. Os prédios antigos e coloridos criam um contraste interessante com os empreendimentos contemporâneos, que podem apresentar linhas e elementos inspirados em diferentes estilos.
A própria topografia da cidade contribui para a obtenção de contrastes entre edifícios novos e velhos. Isso porque Olinda é composta por morros com encostas bastante íngremes e por planícies com cotas abaixo do nível do mar. O resultado aparece na forma de inúmeras ladeiras que dão um certo charme à região.
A influência portuguesa aparece nas construções com sacadas em madeira ou pedra que compõem fachadas contíguas. Também é possível visualizar os grandes quintais que abrigavam frondosas árvores frutíferas — combinação que traz uma atmosfera tropical ao conjunto de edificações.
O contraste também ocorre devido à presença de exemplares do modernismo brasileiro, como a clássica Caixa d'água de Olinda. Esta foi concebida por Luiz Nunes em 1934 e chama a atenção pela grande caixa elevada sobre pilotis. A solidez monolítica do edifício é atenuada com a adição de cobogós em toda a fachada.
3. A influência de uma grande mistura de povos
A arquitetura de Olinda é resultado de diversos acontecimentos históricos. Foi em 1534 que a Coroa portuguesa instituiu o regime de Capitanias Hereditárias. Nessa época, a Capitania de Pernambuco foi entregue a Duarte Coelho, fidalgo português que tomou posse e desembarcou no local em 9 de março de 1535.
Na cidade, encontrou um sítio com um porto natural formado por arrecifes, terras férteis e água em abundância. A região também era fácil de defender, considerando os padrões militares da época.
Em 16 de fevereiro de 1630 os holandeses invadiram Olinda e conquistaram Pernambuco. Em 24 de novembro de 1631, depois que se estabeleceram no povoado, retiraram os materiais nobres das edificações para construir casas no Recife. Em seguida, incendiaram a região.
Foi apenas em 27 de janeiro de 1654 que os holandeses foram expulsos. Nesse período, foi iniciado o lento processo de reconstrução da Vila de Olinda. Hoje, é possível ver uma mistura da cultura de Brasil e Portugal no estilo das casas e prédios da cidade.
4. Os cobogós nos muros e varandas
Outro elemento comumente encontrado nas edificações de Olinda é o cobogó. O material é empregado na construção civil como solução para favorecer a entrada da luz e da ventilação natural nos ambientes internos.
É possível visualizar cobogós em vários projetos da cidade. São peças vazadas que foram concebidas por três engenheiros em Recife: Amadeu Oliveira Coimbra, Ernest August Boeckmann e Antônio de Góes. Os criadores nomearam os blocos a partir das primeiras sílabas de seus sobrenomes, o que resultou no termo CO + BO + GÓ.
Originalmente, os cobogós eram feitos de argila — solução semelhante ao sistema de peças empregado na arquitetura de países como Marrocos e Índia. No Brasil, os engenheiros procuraram desenvolver uma versão mais acessível do material, a partir de recursos como cimento e utilizando formas geométricas mais simples.
Inspirado nos muxarabis (elementos árabes de madeira), o cobogó é parte importante da arquitetura de muitas regiões do Nordeste porque ajuda a manter as residências iluminadas e arejadas. O efeito é obtido sem que os usuários percam a privacidade proporcionada pelos cheios e vazios das peças vazadas.
Os furos das pecinhas encontradas em Olinda lembram frutos redondos e folhas delicadas. Combinados com as linhas curvilíneas ou geométricas dos gradis que protegem algumas propriedades, acabam compondo belíssimos painéis com formas, desenhos e texturas variadas.
5. Os revestimentos utilizados nas construções
As expressões gráficas modulares marcam presença na arquitetura de Olinda. Além dos gradis e cobogós, também é possível visualizar dois revestimentos bastante comuns: os azulejos e os ladrilhos hidráulicos. Ambos podem ser utilizados para compor painéis, mas também funcionam de modo isolado.
Azulejos
Trazidos por portugueses no período colonial, são peças que protegem a fachada ao mesmo tempo em que refletem o calor. Os azulejos aparecem tanto nos ambientes internos quanto nas paredes externas das construções de Olinda.
Esses revestimentos têm influência francesa e portuguesa e surgem em modelos com temas florais e orgânicos. As cores mais utilizadas são o branco e azul, seguidas do amarelo. Um belo exemplo é o Mosteiro de São Bento, que traz azulejos com uma mistura dessas três tonalidades predominantes.
Ladrilhos hidráulicos
Outro revestimento bastante empregado nas obras de Olinda é o ladrilho hidráulico. Por ser feito à base de matérias-primas naturais, é considerado um piso de baixo impacto ambiental. Assim como os azulejos, os modelos também apresentam cores e formas diferenciadas.
Depois de prontas, as peças eram colocadas em uma prensa e imersas em água por 24 horas para fazer o processo de cura. Devido à qualidade estética e resistência, eram consideradas ótimas alternativas ao mármore e ao tradicional taco.
Hoje, muitas empresas empregam tecnologia para produzir revestimentos duráveis e inspirados nos padrões de antigas peças. Placas de porcelanato, por exemplo, reproduzem fielmente a aparência e a textura de ladrilhos, azulejos e outros materiais.
Há, inclusive, peças decorativas que exercem a mesma função dos tradicionais cobogós. Vale a pena aproveitar a gama de produtos para compor projetos conceituais e trabalhados a partir das melhores referências.
E então? Ficou com vontade de agendar uma visita para conferir de perto os detalhes da arquitetura de Olinda? Como várias regiões do Brasil, a cidade guarda riquezas que certamente vão enriquecer seus projetos e contribuir com novas ideias.
Se você deseja saber mais sobre a aplicação de revestimentos que simulam outros materiais, confira nosso artigo sobre porcelanato, sua história, evolução e uso na decoração e arquitetura!