Acredita-se que a ideia de metamorfose na alquimia, em que a “pedra bruta” manipulada por meio do conhecimento converte metais inferiores em ouro, está diretamente associada a uma metáfora de mudança de consciência, transformando “ignorância” em “sabedoria”.
Essa narrativa simbólica, que pode ser muito bem aplicada quando se fala da produção de cerâmicas – em que a argila, manuseada de determinada forma e queimada em certa temperatura, surge na forma de um objeto que pode durar a eternidade – é o fio condutor da coleção criada por Paula Juchem especialmente para a Firma Casa.
Formada em desenho industrial pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e com passagens pela Editora Abril, onde foi diagramadora, Paula Juchem deu seus primeiros passos como ilustradora usando as técnicas de colagem e giz de cera. Um belo dia, em 1998, resolveu morar em Milão e o universo conspirou por 14 anos, até que, de volta ao Brasil, em 2012, Paula resolveu se aventurar na criação de objetos e fez sua primeira coleção de pratos com decalques. As peças acabaram expostas na Design Gallery Milano, durante o Salão do Móvel daquele mesmo ano.
Agora, com uma coleção exclusiva, Paula entra para a seleta lista de designers que integram o portfólio da Firma Casa – um misto de loja e design gallery, especializada em peças assinadas e entusiasta do design nacional –, ao lado de nomes como Fernando e Humberto Campana, Guto Índio da Costa e Zanini de Zanini.
Apesar de não se considerar uma ceramista, foi um curso de cerâmica que despertou o imaginário de Juchem e a levou do presente para a infância, quando vivia em contato intenso com a natureza.
“O meu trabalho é muito o fruto do não saber, porque eu não sou uma ceramista clássica. Eu nem sou ceramista. Eu sou uma designer que trabalha com cerâmica”, explica Paula.
Suas lembranças de criança, vivendo no campo e junto ao mar, foram as principais forças criativas modeladores de sua arte. E, nesse contexto, a argila chegou cheia de significados. Para se manusear o material é importante respeitar suas restrições e propriedades, compreender os limites e as caraterísticas da matéria-prima, bem como de todas as fases do processo.
Intuitiva e destemida, Paula sabe exatamente o que quer, apesar de entender que, no universo da cerâmica, há que se dar espaço para as surpresas.
“Um oleiro me ajuda a fazer as peças: eu vou dizendo o que eu quero e ele vai construindo a forma-base. Depois, eu vou aplicando os elementos decorativos, pensando nas cores, em um ritmo acelerado e sem planejamento”, completa.
Usando a argila como suporte para o design, Paula Juchem transforma o material pela ação do fogo, tal como um alquimista, dando-lhe a consistência necessária para aplicar seus adornos, voltar novamente ao forno e ganhar a eternidade – em um processo quase mágico, que converte barro em beleza.