O poema de Rubem Alves (abaixo) abre o livro Alma em movimento, da arquiteta paisagista Juliana Castro, lançado no final de novembro, durante a Feira Flamboiã, que aconteceu em formato on-line. A publicação editada pela novíssima Cais Editora traduz o espírito inquieto, livre e leve da agora escritora Juliana, uma arquiteta que transbordou os limites técnicos da disciplina para encontrar-se no campo da arte. O livro é a celebração dos seus 20 anos de carreira completados em 2020.
Quem conhece Juliana a reconhece na escrita. Alma em movimento vai e volta no tempo, com uma narrativa sem compromisso com a cronologia, e muito fluida como se fosse uma conversa espontânea com a arquiteta. A escrita se coloca em diálogo com os desenhos da publicação, que estão em movimento como nos balanços inspiradores criados pela arquiteta.
Muitos dos desenhos do livro foram resgatados do passado quando Juliana olhou para a sua própria história – ela desenha desde a faculdade de Arquitetura e Urbanismo cursada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), há 25 anos, e guarda seus cadernos de desenho e anotações. Durante o isolamento social, Juliana retomou essa prática. “A vida de trabalho faz a gente ser engolido pelo cotidiano, o papel e o lápis foram minhas ferramentas de trabalho durante muitos anos e retomei”, comenta.
A importância do Balanço
“O balanço é uma ferramenta de pesquisa”, diz Juliana sobre a importância desse objeto em suas observações e análises do espaço urbano. No livro, narra as experiências a partir da inserção de balanços em praças da cidade e outros territórios. Para ela, o balanço tem o poder de “devolver leveza à vida adulta”, porque os adultos não se permitem usufruir do tempo e as praças proíbem que adultos usem os balanços.
Por isso, em seus projetos de arquitetura paisagística, passou a inserir balanços para ofereceu uma experiência aos adultos. “Ao conversar com as pessoas que se balançaram, confirmei que essa experiência trouxe à tona suas memórias de infância, como já era esperado. No registro a seguir, encontro não somente a lembrança de balançar, mas a memória dos balanços nas árvores do quintal. As árvores como estrutura do espaço da infância”, escreve.
“Durante aquele tempo, me conectei com minha própria história, me lembrei das árvores e dos balanços da minha infância com pureza e nitidez. Estive ligada àquela árvore e às pessoas que por ali passaram. Senti novamente o vento fresco do movimento na minha própria pele”, narra.
Potência do trabalho na vida das pessoas
Durante a faculdade, Juliana cursou algumas disciplinas de botânica que influenciaram seu modo de enxergar o próprio trabalho. “Entender cientificamente os outros seres vivos que estão ao nosso redor nos traz a possibilidade de ter uma visão menos antropocêntrica do mundo, e isso mudou a minha trajetória profissional”, diz.
A partir dessa reflexão, entendeu seu papel como criadora de espaços urbanos e de oportunidades para além das pessoas. “Cidades são mais do que para as pessoas, são para toda a comunidade que vive nela, vai além do ser humano, no livro falo sobre isso, sobre a nossa visão utilitarista dos seres vivos, uma pitangueira, por exemplo, não tem que dar só pitanga, além disso foi a gente que deu esse nome pra ela”, reflete.
Em 2015 a arquiteta desenhou - junto com o Grupo Coletivos Criativos - o Balanço Ninho Ovo para 5ª Bienal Brasileira de Design, realizada em Florianópolis (SC). É também de sua autoria o recém-premiado balanço Tempo, vencedor do primeiro lugar na categoria Design de Produto pelo Concurso Técnico do NCD (Núcleo Catarinense de Decoração), edição 2020. Ambos os equipamentos estão localizados em alguns pontos da Capital, de onde Juliana gosta de observar crianças e adultos se apropriarem do lugar.
Balanço Tempo
O Balanço Tempo é um equipamento urbano projetado para convidar as pessoas a incluir tempo lúdico em seu cotidiano. Foi pensando para os adultos por isso tem uma estrutura robusta capaz de suportar até 400kg. O projeto atende à rígidas normas para desenho de playgrounds. Executado em perfis tubulares de aço com o assento em compensado naval, é composto de duas partes: o balanço em forma de cone e a estrutura do tipo mão francesa invertida que o mantém preso por um ponto.
O balanço pode ser usado por pessoas sozinhas ou em grupo, por adultos e crianças juntos. É possível balançar sentado, de pé ou deitado. “Propomos uma pausa no tempo, o voltar a ser criança, permitir-se experimentar o vento nos cabelos, e a sensação de alegria e liberdade que só os balanços provém”, argumenta.
Produção premiada
Juliana Castro está à frente do escritório JA8 Arquitetura e Paisagem, onde cria projetos de arquitetura, urbanismo e paisagismo reconhecidos nacionalmente, com vários prêmios no portfólio. O mais recente foi para o Boulevard 14/32, com o primeiro lugar na categoria profissional Projeto Arquitetônico Comercial pelo Concurso Técnico do NCD, edição 2020.
O edifício comercial foi projetado para atender viajantes e a comunidade local que integra o conjunto do Aeroporto de Florianópolis. “A concepção arquitetônica flerta com espaços abertos e fechados, partindo de uma configuração em forma de “U”, que organiza o fluxo até o terminal”, explica a aurora do projeto. A recepção dos usuários acontece numa grande estrutura que cobre acessos de veículos e pedestres, passando por lojas e o pátio interno, atendendo amplo programa: exposições, shows, convenções e competições esportivas.
Estruturas metálicas, vidros com caixilhos embutidos e fachada ventilada (produto da Portobello) com revestimento cerâmico foram as opções para atender ao perfil de arquitetura contemporânea e de acolhimento.
Destaque para a inclusão de árvores, canteiros com vegetação tropical, madeira nos forros e piso cimentício em tom de areia que aproximam o edifício da identidade praiana da cidade.
Para adquirir o livro Alma em movimento:
Com a própria arquiteta e na Editora Cais, por R$ 48,00.
Contato: www.ja8.com.br
www.caiseditora.com