Fugir do lugar-comum está muito ligado a processos criativos e à inovação. Mas acredite, as vezes ser impactado novamente por esse lugar-comum é transformador. Posso dizer que aprendi isso na prática no último mês de junho. O Congresso do Novo Urbanismo (CNU), um dos mais influentes eventos do segmento, me levou a Louisville, Kentucky, nem de longe um dos destinos mais visitados dos Estados Unidos.
Nessa agradável cidade de médio porte, dedicada à produção do Bourbon Whisky (mais de 90% do Bourbon servido no mundo provém de lá), mais de 1500 profissionais multidisciplinares se reuniram para troca de experiências e ideias sobre a construção de lugares inovadores e espaços vibrantes e criativos.
No CNU tive contato com uma série de urbanistas em cujas obras baseio meus estudos. Entre eles destaco Jeff Speck, autor de “Cidades Caminháveis”, que compartilha a visão de que as pessoas precisam ter suas necessidades atendidas ao alcance de uma caminhada. É isso que nos coloca em movimento e em contato com outras pessoas. E é sobre esses movimentos -pessoas e caminhadas- que quero falar.
Por uma pessoa para caminhar movimenta o mundo
Caminhabilidade nas cidades não é importante só porque transforma o ambiente em um lugar com mais conversas e, por consequência, mais criativo. O ato de caminhar e encontrar pessoas transforma nossas rotinas: isolação social e falta de exercício físico matam mais do que acidentes de trânsito (estatística que também despenca, já que menos carros despenca, já que menos carros são utilizados).
Ter pessoas caminhando nas ruas é saudável não apenas para elas. Um dos grandes cases de transformação urbana voltada para a caminhabilidade está no fechamento de uma das avenidas mais famosas do mundo, a Times Square, em Nova York, para o trânsito de carros. Tida como loucura em um primeiro momento, já apresenta 15% de aumento no tráfego de pedestres, 33% menos acidentes com lesões corporais e 180% de aumento no lucro do comércio na área.
Pessoas em primeiro lugar: um clichê que mantém a inovação viva
“We are still human”. Foi essa frase dita por Andrés Duany, um dos precursores do movimento do Novo Urbanismo, que resumiu, para mim, grande parte das discussões e painéis apresentados no CNU. Não se deve subestimar a importância das pessoas como o centro dos projetos urbanos, ainda que pareça óbvio, não importa que tipo de nova tecnologia possa ser desenvolvida.
A busca continua sendo pelo apoteótico “ser único”, “ser diferente”. Acredito que trabalhar a autenticidade é projetar ambientes que permitam a utilização das pessoas à maneira que desejarem. Assim como Peter Drucker disse “a cultura engole a estratégia no café da manhã”, podemos dizer que a experiência do usuário faz o mesmo com o Design. A autenticidade, assim como a gentileza das inovações, está nos detalhes.
Ser inclusivo e inovador mantendo fatores culturais e identitários dos lugares, reconhecer e envolver que lá está, entender o que pensam e o que fazem. É o que nos permite a constante transformação. É o que movimenta a evolução.
É preciso ouvir a todos, de maneira igual. Mas, na prática, o ideal é garantir que todos sejam contemplados no planejamento, principalmente aqueles que tem menos voz para serem ouvidos.
Lonnie Ali, companheira do lendário Muhammad Ali, nascido em Louisville, compartilhou uma série de ensinamentos em uma das plenárias no belíssimo Palace Theatre. Em seu discurso frisou o que entendo ser o nosso grande desafio: “Devemos criar espaços que permitam as pessoas, todas as pessoas, serem o melhor que elas puderem ser”.